ANGOLA GROWING
António Miguel

António Miguel

PETRÓLEO. Queda da oferta angolana e sanções norte-americanas sobre o Irão e a Venezuela podem provocar aumento da produção de petróleo da Rússia e Arabia Saudita para que se mantenha a oferta nos 32,5 milhões de barris/dia.

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Angola vai apoiar o prolongamento para 2019 do acordo de corte de produção do petróleo bruto entre membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) mais a Rússia, apurou o VALOR de fonte presidencial.

A manutenção, ou não, do ‘pacto de redução’, que deve terminar dentro de seis meses, estará em discussão na próxima reunião da OPEP (mais a Rússia), agendada para 22 de Junho, em Viena, na Áustria. De acordo com a fonte presidencial, Angola vai solidarizar-se com os demais membros do cartel que poderão votar a favor da manutenção.

“Não nos interessa ter o preço muito alto devido à possibilidade de o petróleo não convencional ganhar mercado”, argumentou.

No entanto, algumas vozes entendem que a posição de Angola em manter o acordo também é justificada pela incapacidade de aumentar a produção, que se encontra abaixo da quota a que tem direito (1,673 milhões de barris em média diária). Em Abril, a produção foi de 1,523 milhões de barris.

O acordo, em vigor desde 2016, terá já cumprido o seu papel ao eliminar o excedente do crude nos mercados internacionais, levando os preços a roçarem os 80 dólares por barril contra os menos de 50 dólares praticados há três meses. No entanto, as sanções aplicadas ao Irão e à Venezuela pelos EUA deverão comprometer as intenções da OPEP em fixar a produção de petróleo bruto em 32,5 milhões de barris/dia contra os anteriores 33,7 milhões de barris/dia.

Além da queda da oferta do petróleo dos dois países sancionados pelo governo norte-americano, o declínio de alguns membros, como é o caso de Angola, também dificulta atingir os estipulados 32,5 milhões de barris/dia. Por isso, a Rússia e a Arábia Saudita ponderam a possibilidade de aumentar a produção para mantê-la nos níveis desejados e colmatar o défice. Este é outro tema que estará sobre a mesa e que, certamente, obterá consenso, segundo a fonte, que apresenta como razão a decisão do grupo em não pretender que o preço suba muito.

A produção de Angola poderá baixar ainda mais. “Até ao fim da legislatura, temos de assegurar que a produção do petróleo não baixe a menos de 1,5 milhões barris/dia, uma vez que temos compromissos com a OPEP de 1,6 milhões barris/dia”, afirmou o ministro dos Recursos Minerais e Petróleo, Diamantino Azevedo, durante o conselho consultivo de Maio.

O governante, que deverá estar presente na reunião de Viena, explicou que o declínio na produção do petróleo se deveu à falta de investimento na prospecção, pesquisa e exploração. Para inverter a situação, continuou o ministro, há necessidade de mais investigação e estudos para se obter reservas possíveis de serem exploradas, “uma situação que exigirá tempo e investimentos”.

De acordo com o ‘pacto de redução’, a produção petrolífera de Angola deve fixar-se nos 1.673.000 barris/dia, cortando a produção na ordem dos 78.000 barris/dia. No entanto, devido ao ‘envelhecimento’ dos poços, a produção está abaixo do estipulado.

Em Março, por exemplo, a produção de petróleo já tinha registado uma quebra superior a 18.000 barris diários, segundo relatório da OPEP, enquanto em Abril o declínio se fixou nos 7.800 barris, atingindo neste mês uma produção diária de 1,5 milhões de barris de petróleo.

O relatório da OPEP refere também que, em termos de ‘comunicações directas’ ao cartel, Angola terá produzido 1,498 milhões de barris de petróleo por dia em Abril, um aumento equivalente a 2.000 barris diários, face a Março. Enquanto a Nigéria aumentou o volume, oficialmente, em 164.700 barris diários, para 1,724 milhões em Abril.

Em 2016 e até Maio de 2017, Angola liderou a produção de petróleo em África, posição que perdeu para a Nigéria. No entanto, o país continua entre os três principais fornecedores de petróleo à China, com uma quota de 10% do total, atrás da Rússia (15%) e da Arábia Saudita (12%).

CONCURSO PÚBLICO. Marcação da data de início de contratação dos professores estava condicionada à disponibilidade financeira por parte do Ministério da Educação. Obstáculos burocráticos já foram removidos.

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O concurso público de admissão de 20 mil novos professores inicia-se oficialmente hoje, 28 de Maio, seis meses depois de o Governo ter anunciado a necessidade de reforçar o corpo docente do sistema de ensino não- universitário.

O início da contratação dos professores estava condicionado à indisponibilidade financeira do Ministério da Educação (MED), situação justificada com os processos burocráticos. Em finais de Abril deste ano, a ministra Cândida Teixeira tinha declarado,no Zaire, que as tarefas da competência do MED estavam asseguradas. Na altura, o concurso público aguardava por despachos dos ministérios da Administração do Território e Reforma do Estado (MAT), Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) e Finanças (MINFIN), este último responsável pela disponibilização financeira. Dinheiro que “já está disponível”, como declarou ao VALOR fonte afecta ao MED. “Por isso, o concurso já tem data”, reforçou.

As novas contratações levaram a arranjos no Orçamento Geral do Estado, com as verbas para a educação a aumentarem 0,6 pontos percentuais para os 6% da despesa total. Em termos nominais, o ajuste traduziu-se num aumento para 46,4 mil milhões de kwanzas, 9% a mais do que a dotação inicialmente prevista.

À partida, previa-se o enquadramento dos novos professores já neste ano lectivo. Mas os previstos novos funcionários deverão ser enquadrados apenas em 2019, tendo em conta o tempo que dura (seis meses) a efectivação do concurso público.

O presidente do Sindicado dos Professores (Sinprof), Guilherme Silva, entende,no entanto, que, antes de se admitirem os 20 mil novos professores, o Governo devia resolver, em primeiro lugar, o problema das actualizações de categoria dos docentes que já estão em serviço.

CUSTOS SALARIAIS

Os 20 mil professores que serão contratados vão custar ao Estado 28,6 mil milhões de kwanzas/ano (mais de 120 milhões de dólares ao câmbio actual do BNA), montante referente aos salários e subsídios.

Segundo documentos do MED a que o VALOR teve acesso, as 20 mil vagas serão repartidas a nível nacional e em três categorias. Deste modo, 8.675 das vagas serão preenchidas por professores diplomados do ensino primário, que vão auferir 73,5 mil kwanzas cada um.

As quotas para o primeiro ciclo de ensino secundário serão ocupadas por 6.183 professores, que também terão ordenados de 73,5 mil kwanzas, enquanto o segundo ciclo do ensino secundário e médio serão reforçados com um total de 5.142 professores, 540 dos quais com ordenados de 166,8 mil kwanzas (oitavo escalão) e 4.602, com salário de 214,5 mil kwanzas (sexto escalão).

Em termos de compromisso mensal com cada grupo, o Estado vai pagar 638,1 milhões de kwanzas aos 8.675 professores primários, 454,8 milhões de kwanzas aos 6.183 do primeiro ciclo do ensino secundário e mais de mil milhões de kwanzas por mês com os salários do grupo de professores do segundo ciclo do ensino secundário e médio.

Somando as verbas dos três grupos, o Governo vai precisar de, pelo menos, 2,1 mil milhões de kwanzas (cerca de nove milhões de dólares) por mês para pagar os salários dos 20 mil professores. Por ano, o valor ultrapassa os 26 mil milhões de kwanzas (mais de 111 milhões de dólares), subindo para os 28,6 mil milhões de kwanzas, quando acrescido aos mais de 2,6 mil milhões de kwanzas (mais de 11 milhões de dólares), de subsídios.

Número de professores por província 

Benguela ---------------------------- 1.376

Bengo -------------------------------- 857

Bié ------------------------------------ 983

Cabinda ----------------------------- 808

Cunene ------------------------------ 686

Huambo ----------------------------- 1.372

Huíla ---------------------------------- 1.584

Kwanza-Norte ---------------------- 605

Kwanza-Sul -------------------------- 1.414

Kuando-Kubango ------------------- 1.203

Luanda -------------------------------- 2.650

Lunda-Norte ------------------------- 831

Lunda-Sul ----------------------------- 1.000

Malanje -------------------------------- 1.174

Moxico --------------------------------- 941

Namibe -------------------------------- 941

Uíge ------------------------------------- 807

Zaire ------------------------------------ 768

TOTAL ---------------------------------- 20.000

 

TABELA SALARIAL

CATEGORIAS NÚMERO DE PROFESSOR SALÁRIO/MÊS/KZ

Ensino primário ------------------ 8.675 --------------------- 73.560,82

Primeiro ciclo ----------------------- 6.183 ------------------------ 73,560,82

Segundo ciclo e médio (8.ª escalão) --- 540 ------------------- 166.874,09

Segundo ciclo e médio (6.ª escalão) --- 4.602 ---------------------- 214.552,40

ESTATÍSTICAS. Resistência e atrasos na entrega de informação por parte das instituições estão entre as principais dificuldades enfrentadas pelo INE no processo de produção de estatística. taxa de investimento em Angola caiu em 2016 para 26,21%, depois de ter registado um aumento de 27,48% em 2014 e 28,21% em 2015 em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), segundo o relatório de Contas Nacionais Anuais, publicadas pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

Camilo Ceitasdirector geral do instituto nacional de estatisticas201607220524

Apresentado recentemente em Luanda, o relatório mostra dados definitivos das Contas Nacionais Anuais, referentes ao período 2009-2016, apontando 2009 como o ano que registou a maior taxa de investimento (42,79%).

De acordo com o documento, as despesas de consumo das famílias registam um aumento. Em 2014, por exemplo, as famílias tiveram despesas de consumo de 6,3 mil milhões de kwanzas, tendo em 2015 registado um aumento de 988,5 milhões de kwanzas para 7,3 mil milhões de kwanzas. Em 2016, a subida cifrou-se em 1,9 mil milhões de kwanzas para 9,2 mil milhões de kwanzas.

As despesas de consumo da administração pública também registaram aumentos entre 2009 e 2016, tendo, no entanto, uma quebra em 2015 (2,2 mil milhões de kwanzas) em relação a 2014 em que se fixou em 2,5 mil milhões de kwanzas. Em 2016, a despesa de consumo da administração regista uma ligeira subida, mas mantém-se nos 2,2 mil milhões de kwanzas.

Já na óptica do rendimento, a remuneração dos empregados fixou-se na ordem dos três mil milhões de kwanzas em 2014. No ano seguinte, ficou nos 3,5 mil milhões de kwanzas, enquanto em 2016, o valor subiu para 3,9 mil milhões de kwanzas. No relatório de Contas Anuais 2009/2016, o INE conclui que, no período em referência, o peso das remunerações no PIB teve tendências decrescentes, com maior percentagem em 2009, com 28,71%.

O crescimento económico de Angola teve uma desaceleração entre 2013 a 2015, tendo caído para terreno negativo em 2016, ao registar -2,58%. De 2013 a 2015, a economia angolana registou um crescimento de 4,5%, 4,8% e 0,94%, respectivamente.

O peso da poupança bruta, no PIB, registou uma tendência crescente até 2011, período em que se registou a maior percentagem com 37,9%, diminuindo a sua participação a partir de 2012. No período em análise, o país registou uma capacidade de financiamento, com tendência crescente entre 2010 e 2012, decrescendo em 2013 e 2014, para 5,86% e 2,31, respectivamente, havendo necessidade de financiamento em 2015 e 2016.

O período de 2003/2016 registou um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), na ordem de 8,54%, com pico em 2012. A variação real do PIB, em 2016, foi de -2,58% e o PIB, ‘per capita’, decresceu de -2,01%, em 2015, para -5,49 em 2016.

Na participação das actividades na composição do PIB, em 2016, destacam-se os sectores da extracção e refinação do petróleo e bruto e gás natural, que constituiu 21,20%, seguido do comércio com 16,65%, a construção, com 13,98%, a administração pública, defesa e Segurança Social com 10,77 cada.

Durante a apresentação, o director do INE, Camilo Ceita, lamentou que a resistência e atraso na disponibilização dos dados por parte das instituições (fontes de informação) continuam a figurar entre as principais dificuldades enfrentadas pelo instituto na produção de informação estatística.

Camilo Ceita afirmou ainda que a escassez de mão-de-obra especializada é também uma dos principais problemas que afecta o INE. O director anunciou que está a ser preparada uma escola de formação, especializada em estatísticas.

Embora seja membro da Aliança Internacional para Energias Limpas, Angola não assinou um acordo-quadro que dá acesso a uma linha de crédito de dois mil milhões de dólares, que visa estimular a produção de energia solar em África. A revelação é do embaixador cessante da Índia em Angola, Kumar Singhal, que avança ainda que, além da mão-de-obra, o crescimento da economia indiana é também impulsionado pelo programa governamental de disponibilização de terras. O diplomata aconselha Angola a aproveitar as energias alternativas, em vez do petróleo.

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Fora o petróleo, quais são as áreas de maior interesse da Índia em Angola?

A relação existente entre Angola e a Índia, no âmbito económico, é multifacetado. Nesta altura, o volume de investimento da Índia em Angola ronda os 1,5 mil milhões de dólares e a Índia está no sector de manufacturação, no fabrico de contentores plásticos, aço e outros bens cosméticos. Recentemente, tivemos aqui a visita do ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros da Índia e assinámos um acordo de entendimento na área de informação e tecnologias de informação. Portanto, o nosso relacionamento tem estado a crescer constantemente. Essa relação já existe desde antes da independência de Angola e nos vários sectores, como o político e o económico.

Que apoios concretos a Índia dá a Angola na agricultura?

Temos estado a disponibilizar diferentes apoios. Como sabe, a Índia é um dos maiores países agrícolas. É um dos maiores produtores de cereais do mundo. Temos um memorando de entendimento e espero que seja brevemente assinado entre o Governo angolano e a Índia. É um memorando que já existe desde 2016. Neste mesmo ano, o ministro angolano da Agricultura teve o privilégio de visitar a Índia e esteve em várias instituições de formação. De lá, pôde retirar vantagens que podem ser úteis para Angola. Oferecemos 30 bolsas de estudos, todos os anos, a mais de 140 países. Formamos e, assim sendo, Angola vai beneficiar muito se continuar a mandar os seus quadros para serem formados na Índia.

Angola investe milhões de dólares em barragens para a produção de energia. É assim que a Índia também resolve os problemas de energia?

É preciso que cada país tenha várias fontes de energia. Existem várias alternativas que os Estados podem assumir. Por exemplo, Angola está abençoada com mais de 300 dias de sol e pode utilizar a energia solar para a electrificação do país. E, como tenho estado a aconselhar as autoridades governamentais durante o meu mandato, como as populações angolanas estão em grupos separados, se usarem apenas energia que vem de barragens, a transmissão pode ser muito cara. Mas usando energia solar, isto já pode ser bastante útil e reduz o custo de fornecimento de energia.

A Índia tem interesse em investir nas energias renováveis?

Angola é membro da Aliança Internacional das Energias Limpas, só que ainda não assinou o acordo-quadro para ter acesso aos dois mil milhões de dólares de linha de crédito existente para países africanos. Aí há uma oportunidade. É interesse do governo indiano que Angola possa fazer uso dessa linha de crédito.

Qual é a maior fonte de energia da Índia?

A energia que sustenta a economia indiana provém de várias fontes. Temos a energia térmica, que corresponde a 65%, a hidroeléctrica, que é 25%, e depois temos também as instalações de gás que fornecem energia. O governo indiano está muito focado no uso de energias limpas. Até 2022, quer usar 25% de gigawatts de energias solar e eólica para podermos consumir cerca de 75 milhões de megawatts.

Refere-se também à energia nuclear?

Como já disse, é preciso que as nações tenham várias fontes de fornecimento de energias. Assim sendo, temos, nesta altura, cerca de dois mil megawatts de energia nuclear a serem produzidos na Índia.

Estava prevista a participação da Índia na construção de refinarias em Angola. Por que razão isto não está a acontecer?

Temos uma empresa indiana, a Engeneer India Limited, que foi consultora no sector das refinarias. Aquando da visita a Angola, o ministro indiano de Estado dos Negócios Estrangeiros mostrou-se predisposto a participar, caso Angola apresentasse alguma proposta, na construção das refinarias e não apenas ficar em consultoria. Estamos dispostos a prestar a nossa colaboração, se nos for fornecida alguma proposta. Uma empresa indiana apresentou um memorando de entendimento, que pode ser assinado entre a Sonangol e essa empresa. Se se concretizar, a relação vai atingir patamares elevados.

E como olha para a necessidade de Angola construir refinarias?

Angola é um dos maiores produtores de petróleo na região e gostaria de construir as suas refinarias para deixar de importar produtos refinados. É uma boa decisão do Governo angolano.

Em que percentagem anda a importação indiana do petróleo angolano?

A Índia é o segundo maior importador do petróleo bruto angolano, importando cerca de 8% do que é produzido.

Há um ano, falava-se em 10%. Está a reduzir?

Nós importamos 10% da produção angolana, mas 8% é do petróleo bruto mundial. Ou seja, quando faço referência a 8%, referiro-me ao petróleo bruto importado pela Índia a nível mundial. Dentro desse 8%, que é a nível mundial, 10% sai de Angola.

Angola está a preparar legislação sobre a concorrência. Que medidas mais poderiam ser tomadas para melhorar o ambiente de negócios?

O Governo angolano já identificou quais são os elementos que impedem o desenvolvimento da economia angolana. Congratulo-me com a chegada do novo Presidente da República e a nova política que está a ser colocada em prática. Por exemplo, os acordos de supressão de vistos com vários Estados, como a concessão de visto logo à chegada no aeroporto. É dos métodos importantes que Angola conseguiu para se catapultar para patamares elementares.

Está a acompanhar as medidas do Presidente contra a corrupção?

É um problema que está em quase todos os países do mundo, mas fico feliz por fazer menção que o Presidente da República de Angola declarou uma luta cerrada contra este mal. Isso vai aumentar os investimentos e melhorar o ambiente de negócios em Angola. Dentro de um futuro próximo, Angola vai poder aumentar os seus dividendos. A Índia tem várias agências ligadas ao combate a esse mal e, se Angola estiver interessada, estaremos dispostos a partilhar o nosso conhecimento.

Quantos indianos vivem em Angola?

Falando da comunidade indiana em Angola, temos de diferenciar. Temos aqueles que são portadores de passaportes indianos, que também são considerados indianos, e temos aqueles que realmente são de origem indiana. Todos esses fazem a comunidade indiana residente em Angola. No total, estamos a falar em cerca de 4.500, entre estes, 1.200 possuem passaportes indianos, embora não o sejam de origem.

Para uma relação de mais de 40 anos e tendo em conta que a Índia tem mais de mil milhões de habitantes, não acha pouco 4.500 indianos?

Concordo que o número é pequeno. Mas isso tem várias razões históricas. O número vai aumentando paulatinamente em função da relação comercial existente entre os dois Estados. Há anos, o antigo ministro angolano da Economia visitou a Índia e levou uma delegação. Recentemente, o actual secretário de Estado para o sector mineiro também visitou Deli e também levou uma delegação. Com essas visitas, o número de indianos em Angola vai aumentar.

E quantos angolanos estão na Índia a residir e a fazer negócios?

O número de angolanos a viver na Índia é muito limitado. Grande parte dessa comunidade vai mais à Índia para estudar. Isto porque o governo indiano tem estado a oferecer todos os anos 30 bolsas de estudos. Este número vai aumentado cada ano que passa e constitui a maior parte da comunidade angolana a residir na Índia.

“NA ÍNDIA, NÃO HÁ TRABALHO ESCRAVO”

A economia indiana é das que mais cresce no mundo. O que está na origem dos actuais níveis de crescimento?

Não é um milagre. O governo indiano prestou muita atenção às infra-estruturas como portos, aeroportos e electricidade. Esses elementos criados aceleram a economia indiana, bem como a fluidez das exportações feitas via barcos, em tempo recorde. Isso acelerou, de que maneira, a nossa economia. Outro aspecto tem que ver com a nossa política de terras. O governo indiano melhorou a lei de terra, disponibilizou mais terra e melhorou as exportações.

Além da mão-de-obra barata, que outros aspectos atraem multinacionais estrangeiras a instalarem-se na Índia?

Existem várias razões. Uma delas que faz com que a economia indiana cresça é o custo de produção que é fundamental, mas não é só. Também a facilidade que o governo indiano criou para que se possa fazer negócio na Índia. Quando os empresários investem conseguem vender os seus produtos e o governo protege os investimentos. O ponto número dois é que somos abençoados com uma população enorme. Estamos a falar de cerca de 500 milhões de homens de negócios. Tudo isso, mais a redução de custo de produção, cria uma economia de escala aceitável. Um outro detalhe importante é a rota automática de fazer comércio.

Como é que isso acontece?

Basta o investidor abrir uma conta no banco central indiano e pode directamente fazer o seu investimento no território indiano desde que tenha a conta aberta. O governo dá garantia de protecção dos negócios dos investidores tanto indianos como estrangeiros.

Há relatos de que a economia indiana cresce também devido ao trabalho de escravo e esforçado.

Estou consciente de que a escravatura já foi abolida há muitos anos e, na Índia, não temos nenhuma cultura de trabalho de escravatura ou forçado.

O crescimento económico da Índia reflecte-se na vida dos cidadãos?

Com certeza. Reflecte-se na vida quotidiana. Basta ver o rendimento ‘per capita’, que aumenta. Como é que conseguimos avaliar isso? Por intermédio da aquisição de bens. Mais cidadãos compram carros e casas e o barómetro vai aumentando de ano para ano.

As medidas proteccionistas de Donald Trump estão a afectar as exportações indianas para os EUA?

O proteccionismo norte-americano é uma grande preocupação e dificulta as economias. É uma grande questão que deve ser levada em conta e ser apresentada à Organização Mundial do Comércio, de que a Índia faz parte. Vamos apresentar as nossas preocupações. Isso não afecta apenas os países que desejam exportar para nações proteccionistas. É um direito que as nações têm, mas isso encarece os custos de produção dos países de origem. A longo prazo, pode ter consequências menos boas para esses países que adoptam essas políticas proteccionistas.

A China é um parceiro, mas também o principal concorrente da Índia. Concorda?

Um dos nossos maiores parceiros comerciais é a China. O nosso volume de negócios ronda os cem mil milhões de dólares. Mas também temos relações muito boas com os países vizinhos.

“Paquistão interfere nos assuntos internos da Índia”

Qual é o ponto de situação do programa indiano de desenvolvimento de ogivas nucleares?

Temos instalações ambiciosas de energias nucleares, porque são amigas do ambiente e também de custo baixo. Temos empresas vindas de países, como a Rússia, Japão e EUA.

A Índia é praticamente uma potência nuclear. O programa não tem fins militares?

Há um mau entendimento quando falamos de instalações de energias nucleares. Essas instalações, que estamos aqui a fazer referência, estão sob responsabilidade da Agência Internacional de Energia Atómica e não são para uso ou fins militares.

O Paquistão acusa a Índia de desenvolver ogivas com fins militares…

Qualquer país pode dizer qualquer coisa contra um outro país. Mas, como fiz referência, essas instalações de energia atómica não são para fins militares.

A disputa territorial entre a Índia e o Paquistão, devido à Caxemira, continua?

Este assunto está bem claro e, algumas vezes, há um mau entendimento sobre essa região. Foi assinado um acordo em 1948 pelo rei da Caxemira, sob auspício do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e está declarado que o Paquistão invadiu esse território. O Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu ao Paquistão que se retirasse de Caxemira, mas o Paquistão nunca cumpriu com essa ordem. Portanto, o Paquistão financia grupos terroristas e continua a semear acções de terrorismo mesmo na ilha. Como é óbvio, em 1996, os ataques que tiveram lugar na Índia foram perpetrados pelos paquistaneses e, ainda assim, continuam a financiar actos de terrorismo que estão a ter lugar dentro do território indiano.

Este conflito indo-paquistanês tem registado mortes até de civis, provocando também milhares de deslocados. A comunidade internacional dá a devida atenção ao problema?

Esse elemento pode ser explicado pelo seguinte factor: a Índia é vítima de terrorismo há mais de 30 anos e, quando começou a ter esse problema, ninguém acreditava que se tratava de actos terroristas. Actualmente, o presidente Trump reconheceu que o Paquistão é um país que fomenta o terrorismo no mundo, tanto mais que o Paquistão deixou de ter apoio militar dos EUA. Mas essa questão anda paralisada durante esse tempo todo.

O conflito é baseado em questões étnico-religiosas ou há outras razões?

Como sabe, a Índia é um dos países com maior número de muçulmanos e colocarmos aqui o elemento religioso, como base do conflito, é uma definição errada. Esta confusão que existe não é conflito concretamente, mas interferência de um Estado num outro Estado. O Paquistão interfere nos assuntos internos da Índia. Depois da Indonésia, o segundo maior país de muçulmanos é a Índia e, então, o aspecto religioso não é a base fundamental dessa confusão.

PERFIL

Shri Sushil Kumar Singhal foi acreditado embaixador da Índia em Angola, em Setembro de 2015, estando já em fim de mandato. O seu substituto deve ser acreditado nos próximos 30 dias. Singhal exerceu o cargo de Alto Comissário Adjunto no Alto Comissariado da Índia, em Nairobi. Serviu em missões indianas na Tanzânia, Bélgica, Bangladesh e Hungria. Mestre em Direito pela Universidade de Deli, na Índia, é Associado do Instituto de Secretários de Empresas da Índia, Nova Deli. O embaixador é casado e tem dois filhos.

TURISMO. Apenas dentro de três meses se saberá quando e como vão funcionar o Fundo de Desenvolvimento Turístico e o Cartão do Turista. Pólos turísticos, desenhados há sete anos, ainda aguardam por melhores dias.

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Sete anos depois de terem sido criados, os pólos de desenvolvimento turístico de Calandula e do Okavango ainda não receberam qualquer investimento público ou privado.

De acordo com as previsões iniciais do Governo, as obras de infra-estruturas básicas, como estradas, energia e água, por exemplo, deveriam arrancar em 2013. No entanto, desde 2011, quando foram concebidos, que os pólos não têm sequer os planos directores desenhados.

Reconhecendo que a ausência de planos directores dificulta os investimentos, o director-geral do Instituto de Fomento Turístico (Infotur), Simão Pedro, esclarece que os atrasos foram provocados pela crise económica anunciada em 2014. “Na perspectiva actual do Governo, há um foco para que, no período 2018/2022, esteja gizado o plano de desenvolvimentos turístico e fazer acontecer os polos, fundamentalmente para aumentar o número de turistas”, explica.

O pólo de Okavango situa-se na zona fronteiriça do Kuando-Kubango e envolve uma área de cerca de nove mil metros quadrados. Enquadra-se num projecto turístico que abarca países vizinhos, como a Namíbia, Zâmbia e outros da região, incluindo o Botswana. No entanto, do outro lado da fronteira, de acordo com o director do Infotur, o investimento “está a acontecer e a bom ritmo”, elevando as taxas de visitas turísticas.

“Temos aqui centros identificados de turismo que, uma vez rentabilizados, vão produzir um ‘boom’ no turismo nacional”, confia Simão Pedro, acrescentando que se pretende que o turismo atinga 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Em 2011, o Governo criou três pólos de desenvolvimentos turísticos em Cabo Ledo, em Luanda, Calandula, em Malange, e Okavango, no Kuando-Kubango. Adinamização dos pólos consta até do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND 2013-2017). Embora com um ritmo de investimento quase nulo, o pólo de Cabo Ledo é o único que já tem um plano director que permite ter noção do custo do investimento. Na área, não há rede pública de energia eléctrica e água, encarecendo o investimento. Os ‘resorts’ e restaurantes funcionam com energia alternativa de geradores.

Em 2012, quando foi apresentado o projecto, o seu director, Lucrécio Mangueira, estimou, numa primeira fase, fazer um investimento na ordem dos três mil milhões de kwanzas, prevendo ainda empregar cerca de nove mil trabalhadores. “Quem vai a Cabo Ledo encontra ‘resorts’ e restaurantes. Tem havido já um fluxo de turistas estrangeiros para o surf. Há todo um conjunto de medidas e acções que devem ser desenvolvidas em Cabo Ledo para potenciar ainda mais todo aquele manancial de turismo”, afirma Simão Pedro.

Em estudo não estão apenas os planos directores de Calandula e Okavango, também as modalidades de funcionamento do Fundo de Desenvolvimento Turístico, anunciado em 2012, e o Cartão do Turista, publicitado em 2014. De acordo com o director do Infotur, apenas dentro de três meses ficará a saber-se quando e como vão funcionar os dois projectos. Estima-se que, em 2017, Angola tenha registado a entrada de mais de 250 mil turistas. O turismo no país contribui com menos de 1% para o PIB.