Ou vêm de vez ou ‘tundaa’
Liderança. Se certamente a expressão muito angolana ‘tundaa’ não existe em árabe, provavelmente haverá outra semelhante, e que ilustre bem o murro na mesa que o príncipe saudita deu na semana que passou, que está a causar o pânico entre as multinacionais a operar naquele que é o maior produtor de petróleo do mundo.
A gestão macroeconómica do jovem príncipe saudita, Mohammed Bin Salman, que assumiu o país em 2015, conheceu na semana passada mais uma viragem drástica do estilo “ou vai ou racha”.
O convite para as multinacionais se instalarem na capital, Ríade, já havia surgido no ano passado, e anteriormente como parte do seu plano de modernização da economia e da vida social do país. Mas como apenas 24 empresas demonstraram interesse no generoso plano fiscal que incluía 50 anos de isenção fiscal e isenção de quotas de contratação local, o príncipe resolveu transformar o convite numa ordem.
Bin Salman deu três anos às multinacionais que quiserem continuar a fazer negócio com o maior exportador de petróleo do mundo, para se mudarem para Riade e aí construírem as suas sedes.
Os incentivos para a instalação de sedes que de momento se encontram em países árabes próximos, mas vistos como mais ocidentalizados como Dubai onde vivem milhares de executivos de multinacionais a operar no país, são evidentes, não fosse a Arábia Saudita a maior economia da região. Outros incentivos para que as empresas lá se quisessem instalar são a modernização da emissão de vistos, o aligeirar de restrições às mulheres e sobretudo as centenas de biliões de USD que Bin Salman pretende despender em contratos apetecíveis para construção da sua visão da capital árabe do futuro.
Mas nem isso foi suficiente para as grandes empresas se comprometerem com a instalação de operações locais porque o conservadorismo rigoroso da Arabia Saudita intimida os empresários e os funcionários das grandes multinacionais que não querem por exemplo ter de lidar com a polícia religiosa do país ou com a proibição do consumo de álcool. Para não falar do próprio príncipe Bin Salman, que para além de ser conhecido por ter fechado num hotel durante meses os maiores empresários do reino, foi recentemente identificado como o mandante da morte e desmembramento do jornalista Jamal Khashoggi em 2018 no consulado saudita em Istanbul na Turquia.
Segundo o Financial Times e a Bloomberg, que falaram com executivos de empresas a operar no país, “a reacção inicial foi de pânico”. Depois do susto, alguns executivos sugeriram que podiam apenas chamar às divisões lá instaladas “sede”. No entanto o ministro do investimento, Khalid Falih já avisou que os contratos futuros autorizados por Riade, serão apenas para as empresas com operações, centros de decisões e com fluxos financeiros locais a receber os fabulosos contratos governamentais. “O conceito da Arabia Saudita como o país para se fazer muito dinheiro para gastar lá fora tem os dias contados” disse um empresário local.
O anuncio surge pouco depois do ultimo relatório do FBI responsabilizar o Bin Salman pela morte do jornalista Khashoggi e da possibilidade (ainda que remota) de sanções económicas serem levantadas contra a Arabia Saudita, numa eventualidade com menos repercussões se as multinacionais tiverem operações sedeadas localmente.
As companhias que quiserem continuar a operar na Arabia Saudita têm de sopesar os custos de investimento para garantir operações locais, que alguns analistas já colocam em 25%, o realojamento dos seus funcionários e as respectivas condições para que vivam em Riade versus o acesso ao tesouro da maior economia árabe. Uma decisão dificuldade pela fragilidade das empresas e dos seus contratos, face à vontade do governo saudita. Um definitivo desafio de gestão.
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