A RAZÃO DA HISTÓRIA

12 Nov. 2019 V E Editorial
D.R.

Na semana em que se assinala mais um aniversário da Independência nacional, coloca-se mais uma oportunidade para se recordar dois autores diferenciados. Uma das lições de James Robinson e Doran Acemoglu em ‘Porque Falham as Nações’ mostra que os desafios complexos das sociedades não se resolvem com soluções fáceis. Porque, muitas vezes, determinados problemas estruturais resultam de políticas e práticas erradas que se enraizaram ao longo de séculos. Os desníveis de desenvolvimento económico e social entre a América do Sul e a América do Norte é das comparações mais interessantes, na obra. Os dois autores percorrem cinco séculos para determinar que, apesar da abundante riqueza em recursos naturais, o Sul da América foi ultrapassado porque, desde muito cedo, começou a erguer instituições extractivas, ao contrário dos americanos do Norte, que apostaram mais antecipadamente em instituições inclusivas. As razões de fundo que levaram a essa diferenciação podem ser largamente debatidas. O que não é discutível é, com certeza, a tese de que a desgraça de uns e a felicidade de outros começaram a ser esboçadas há muito mais tempo do que se poderia julgar.

Trevor Noah, ao contar-nos a história da sua infância e juventude na África do Sul do apartheid, em ‘Sou Um Crime’, confirma na prática a tese de Robinson e Acemoglu. Porque mostra, por exemplo, que a aversão dos negros sul-africanos aos negros africanos de outros países tem também origens na construção do próprio apartheid. E não exclusivamente na incapacidade dos sucessivos governos em gerar estabilidade económica e social.     

Angola vive hoje essa crise de compreensão da origem e das causas dos seus insucessos. O processo de transição política embarcou o país numa histeria transformacional que ignora a relevância da História. Quer na forma como os contextos históricos condicionaram os avanços em momentos específicos. Quer na forma como esses mesmos contextos favoreceram o florescimento de certas práticas que hoje se desejam combatidas. É essa ‘ignorância histórica’ que, em parte, condiciona processos de transição e de transformação mais efectivos em África. Na semana da Independência nacional e em plena conjuntura de indiscernimento político, nunca será demais uma revisão e interpretação correctas do que a História ensina.