Alternativa para quem anda com os ‘bolsos curtos’
RESTAURAÇÃO. Um pouco por toda a cidade, existem casas e quintais a ‘substituir’ os restaurantes formais. Com preços a variar entre os mil e quatro mil kwanzas, há de quase tudo nestes locais: desde pratos nacionais a internacionais, até a possibilidade de se fazer ‘kilapis’ na comida.
Lá se foi o tempo em que as ‘casas de comida’ eram procuradas apenas por zungueiros e taxistas. Quem transforma o quintal em ‘restaurante’ já não se espanta quando um gestor bancário ou alta patente militar/policial se acomoda nas cadeiras de plástico e, indiferente ao calor provocado pela falta de ar condicionado, paga mil kwanzas pelo almoço. Com a predominância de pratos nacionais, a venda informal de comida funciona sobretudo de segunda a sexta-feira, adequando-se à rotina de trabalho dos clientes. O volume de vendas e o preço de cada refeição varia de acordo com a localização da casa. Em média o almoço é servido por mil kwanzas – sem direito a bebida cujo preço varia entre os 150 e os 300 kwanzas.
Rosa Cláudia é dona e gerente de uma ‘casa de comida’ que já conta 18 anos. Embora o nome oficial do estabelecimento seja ‘Restaurante Anjocatil’, se se perguntar a um dos clientes “onde é que vai almoçar?’” a resposta é “vou almoçar na Tia Rosa”. Para Rosa Cláudia, no entanto, “isto não é problema”. O que mais preocupa esta luandense de 40 anos é a subida “constante dos preços”. “Está muito difícil. Os preços não estão regulares. Nos armazéns, todos os dias encontramos novo preçário”, lamenta, referindo que, como não pode ‘mexer’ no preço do prato a cada subida que se regista nos armazéns, a alternativa tem sido reduzir a quantidade de comida a servir. “É complicado subir o prato. Os clientes dizem que o salário não subiu e, por isso, o preço tem de se manter assim com está.”
Na ‘casa’ de Rosa Cláudia, que se situa no bairro Militar, Maianga, o prato custa mil kwanzas. Da feijoada ao mufete, passando pelo churrasco e bacalhau, o ‘sítio’ serve também funge – com acompanhantes diversos, como o molho de tomate e o peixe frito ou grelhado, a galinha de moamba, o feijão de óleo de palma, bem como o calulu, que tanto pode ser de peixe como de carne seca.
Nos dias com boa adesão de clientes, que sucede normalmente entre 28 de um mês e 10 do mês seguinte, Rosa Cláudia chega a vender mais de 70 pratos diários, facturando, cerca de 70 mil kwanzas sem contabilizar o consumo de bedidas.
Estes números, no entanto, não animam a dona do ‘Anjocatil’ porque, ao fazer as contas ultimamente, acaba por vender “apenas o que foi comprado”, tendo em conta “a forma como os preços continuam a subir”.
Além dos clientes que pagam na hora, também existem os “assinantes”. Estes são maioritariamente os assalariados. Durante o mês, através de um caderno que fica com Rosa Cláudia e onde consta o nome, endereço e profissão, os clientes anotam tudo o que consomem. No final do mês, pagam com uma taxa acrescida de 500 kwanzas para a comida e 100 kwanzas para a bebida. Apesar de os considerar “proveitosos”, Rosa Cláudia admite que os “assinantes” têm os dias contados porque, “muitas vezes”, tem de esperar até dois meses para receber o dinheiro. “Já não tem funcionado muito bem. As pessoas pedem-me sempre para aguardar mais um mês e esquecem que também tenho salários para pagar.”
Quando Rosa Cláudia explica que não trabalha sozinha, refere-se às seis ‘meninas’ que a auxiliam – três na cozinha e três no serviço das bebidas. Nesta última área, trabalha, há cinco meses, Albertina Romão, de 36 anos, que soube do emprego através de uma cunhada. Natural do Kwanza-Norte, Albertina Romão não revela o salário por “ser segredo”. A funcionar em regime de turno com mais duas raparigas, lamenta por ter uma remuneração não fixa e que varia em função das receitas arrecadadas em cada mês. Ainda assim, por ter dois filhos para criar, entende que “isto não é motivo para deixar o trabalho”. Até porque, acrescenta a jovem, “o emprego não está fácil”.
CASA DO FUNGE
Desde Julho de 1999 que funciona, no Kinaxixi, em Luanda, a ‘Funge House’. O nome, segundo Manuel Costa, o proprietário, deveu-se à necessidade de se arranjar “um título que se adequasse à actividade da casa” – que se baseia na confecção de pratos nacionais, embora o menu contemple também a cozinha internacional. Nestas quase duas décadas de trabalho, Manuel Costa não hesita em classificar o percurso como “bastante exitoso”. Apesar de se ter assumido sempre como uma casa formal, obedecendo aos pagamentos regulares de impostos, a Funge House encontrou resistência por parte de alguns clientes que mostravam alguma aversão à ‘modernização’. “Quando começámos, a casa não era climatizada, não tinha tecto falso. Quando decidimos evoluir para dar-lhe algum requinte, gerou-se alguma polémica. Houve clientes que entendiam que a casa do funge não devia ser climatizada porque o funge é para se comer no calor”, recorda com algum humor, desvalorizando o incidente.
Actualmente, a ‘Funge House’ funciona com o ‘buffet’, possibilitando aos clientes servirem a comida, mediante ao pagamento de uma valor que ronda os quatro mil kwanzas. Há também serviços de ‘take away’, cujos preços variam de acordo com a quantidade de comida.
Quintais de sucesso
Há mais de dez anos, surgiu, na Ilha de Luanda, uma casa de comida denominada ‘Quintal da Tia Guida’. A casa, que funcionava com cobertura de luandos e chapas, possui estruturas e serviços que chegam a rivalizar com os mais requintados restaurantes. Há cerca de quatro anos, começou a funcionar o ‘Quintal da Tia Guida 2’. Abertas de segunda à sexta-feira, ambas as casas estabeleceram três mil kwanzas como preço mínimo de um prato. Ao contrário das casas situadas no centro de Luanda, as da Ilha são frequentadas por uma grande variedade de pessoas, entre músicos, empresários, políticos e turistas estrangeiros. Os grelhados, dependendo do tipo de peixe, são as especialidades destas casas.
JLo do lado errado da história