Angola garante que vai pagar dívida comercial mesmo com juros elevados
O secretário de Estado das Finanças garantiu hoje que o país vai honrar os compromissos financeiros com os credores comerciais apesar da forte subida dos juros, noticiou a Bloomberg.
"Vamos sempre pagar, não falhámos nenhum pagamento, não deixámos de honrar o serviço da dívida, e, portanto, isso diz-nos que está tudo a correr bem", disse Osvaldo João à agência de informação financeira Bloomberg no seguimento da forte subida dos juros que os investidores exigem para transacionar a dívida pública de Angola no mercado secundário.
De acordo com a Bloomberg, os juros da dívida com maturidade em 2025 registaram na segunda-feira uma forte subida de 125 pontos base, que continuou esta manhã, com mais 42 pontos base, chegando a quase 14%.
Angola está a tentar renegociar os empréstimos que usam o petróleo como garantia, mas reestruturar os Eurobonds iria "estrangular" o relacionamento com os bancos internacionais, explicou o responsável.
As conversações com os credores já resultaram num diferimento dos pagamentos no valor de 6 mil milhões de dólares, cerca de 5,1 mil milhões de euros, deste ano para 2023, dando tempo ao Governo para estabilizar a economia e esperar uma melhoria no impacto económico da pandemia da covid-19 e do abrandamento económico mundial enquanto tem o acesso aos mercados internacionais vedado devido às altas taxas de juro.
De acordo com o analista Mark Bohlund, da consultora REDD Intelligence, citado pela Bloomberg, Angola teria de pagar 3,4 mil milhões de dólares em 2021, principalmente a credores comerciais com sede no Reino Unido, segundo os dados do Banco Mundial.
"Pagar esta dívida será um desafio para Angola e é provável que seja um teste para as negociações mais substanciais de reestruturação da dívida ao sector privado nos países elegíveis para a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI)", apontou o analista.
A China e os bancos comerciais chineses detêm 45% da dívida externa de Angola, representando 22,4 mil milhões de dólares de acordo com os dados do banco central reportados ao final do ano passado.
As negociações para a reestruturação da dívida comercial começaram muito antes da pandemia e estão bem avançadas, disse Osvaldo João, acrescentando que também decorrem negociações para a dívida bilateral, ao abrigo da DSSI do G20.
O Governo estima que o rácio da dívida pública face ao PIB suba de 113% em 2019 para 123% este ano devido à descida dos preços do petróleo e à depreciação da moeda, apontou o responsável.
"Estamos a procurar ter um volume de dívida que seja compatível com uma Angola sem petróleo", o que tornaria a economia mais robusta e o país menos vulnerável aos choques petrolíferos", disse Osvaldo João, admitindo que a forte dependência do setor petrolífero "deixa a economia mais vulnerável".
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