Angola ‘obrigada’ a recuar nas relações com a China, Rússia e a apoiar Guaidó
PARCERIAS. Angola está a ser ‘forçada’ a recuar nas relações que mantém com a China e a Rússia, caso queira reforçar os laços com os EUA. China reprova posicionamento norte-americano, argumentando que, na relação com Angola, nunca se manifestou contra terceiros.
Washington está disposta a apoiar Angola na diversificação da economia, “segurança e prosperidade”, mas Luanda deve “escolher abraçar ou as instituições democráticas ou a China e a Rússia”, segundo o subsecretário dos EUA, John Sullivan.
No encontro organizado pela Câmara de Comércio Angola-EUA e a Câmara de Comércio Americana, o quarto homem na hierarquia do governo norte-americano considerou que os empréstimos chineses “contêm custos indevidos, que põem em risco a soberania” dos Estados e a Rússia tem “interesses obscuros”. “Se Angola quer ser mais aberta, não há outro país melhor para isso, convidamo-la a juntar-se a nós. Os governos devem estar ao lado da democracia e da transparência”, reforçou.
John Sullivan convidou ainda o Governo a apoiar a posição norte-americana em relação à Venezuela. Os dois governos divergem na posição sobre o que se passa naquele país sul-americano. Os norte-americanos apoiam Juan Guaidó, o presidente da Assembleia Nacional, que se autoproclamou presidente da República, enquanto Angola não vê “razões para deixar de reconhecer o governo de Nicolás Maduro” por ter sido legitimado por um processo eleitoral, segundo recentes declarações do ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto. A Rússia e a China têm o mesmo posicionamento de Angola.
Sullivan considera que Angola está “qualificada para beneficiar” de parte dos 70 biliões de dólares que os EUA têm disponíveis para África, acrescentando que Washington pretende “aprofundar” os investimentos para os sectores da agricultura, construção, turismo, transportes.
China reprova
Um responsável da embaixada chinesa, em declarações ao VALOR, considera ser uma “falta de respeito” um convidado pretender definir as parcerias do país que visita, acrescentando que “o Governo de Angola tem autonomia e sabedoria suficiente para escolher os seus parceiros”.
Por outro lado, acrescenta, “as relações entre a China e Angola trouxeram benefícios para os dois países, são aberta e não constam políticas contra terceiros”. E apresenta um terceiro argumento: “Existem várias formas de democracia e os EUA não podem defender que praticam a melhor, nós também somos democráticos, apesar de existir apenas um partido, também temos eleições”.
AMCHAM faz fé às promessas
Pedro Godinho, presidente da Câmara de Comércio Americana (AMCHAM), acredita que os EUA “estão verdadeiramente” engajados no esforço do Governo para a diversificação da economia.
E aponta as visitas, em pouco menos de 30 dias, de dois importantes membros do executivo norte-americano, Cyril Sartor, assistente especial de Donald Trump, e John Sullivan, como prova desse compromisso.
Para o presidente da AMCHAM, o apelo para que Angola escolha “ou as democracias ou a China e a Rússia não significa que os norte-americanos não pretendam” partilhar o mercado.
Na perspectiva de Pedro Godinho, os EUA “desejam apenas contrapor” a influência chinesa. No entanto, Pedro Godinho acredita que “o subsecretário proferiu essas afirmações no âmbito apenas dos pressupostos de boa governação, ‘compliance’, que os EUA exigem quando estão em causa investimentos de grande vulto”.
Mais empresas a caminho
Ao VALOR, Maria da Cruz, presidente da Câmara de Comércio Angola-EUA, destaca que mais empresas norte-americanas, sobretudo dos sectores financeiro, transporte e turismo, poderão implantar-se no país, atraídas pela nova lei de investimento.
Cerca de 70% das empresas associadas à Câmara de Comércio Angola-EUA são norte-americanas e é pretensão da câmara que mais empresas angolanas engrossem a lista, assim como mais produtos nacionais passem a ser exportados para o mercado norte-americano para onde já vai o café Cazengo.
Maria da Cruz lamenta que o empresariado nacional subaproveite o AGOA (African Growth and Opportunity Act), sigla em inglês para um instrumento que visa incentivar o comércio e os investimentos entre o continente e os EUA.
O histórico das exportações angolanas indica que, entre 1985 e 2003, foi vendida mercadoria no valor de 42,9 mil milhões de dólares.
Em 2003, as exportações angolanas quase triplicaram, ascendendo, no período entre 2004-2014, a 115,39 mil milhões de dólares. Por outro lado, em 2017, as trocas comerciais entre os dois países atingiram um total de 3,4 mil milhões de dólares, sendo que Angola exportou produtos avaliados em 2,6 mil milhões e os EUA cerca de 800 milhões de dólares.
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