Dívidas sobem para 721 mil milhões de euros
CONTAS. No terceiro trimestre, o peso do endividamento do Estado luso atingiu mínimos dos últimos oito anos. Em Outubro, subiu quase 2,5 mil milhões de euros face a Setembro.
O endividamento da economia portuguesa (Estado, empresas e famílias) subiu cerca de 2,5 mil milhões de euros em Outubro, totalizando 721.512 milhões de euros. Os dados são do Banco de Portugal, divulgados na passada quinta-feira.
O aumento do endividamento resulta “do incremento de 2,8 mil milhões de euros no endividamento do sector público”, explica o banco central, referindo que essa subida foi “parcialmente” compensada pela redução de 400 milhões de euros no endividamento do sector privado. Dentro do endividamento público, o aumento verificou-se face ao sector não-residente, às próprias administrações públicas e ao sector financeiro.
Já no privado, o endividamento das empresas face ao sector financeiro diminuiu 1,1 mil milhões de euros, enquanto o endividamento externo das empresas aumentou 700 milhões de euros.
Este é o valor mais elevado desde Abril. Desde esse mês que o endividamento do sector não-financeiro da economia portuguesa tinha vindo a cair. Essa descida do volume de endividamento acompanhada pelo crescimento da economia fez descer o rácio no PIB.
Segundo as estatísticas do Banco de Portugal, o peso do endividamento da economia no PIB fixou-se nos 361% no terceiro trimestre de 2018. Este é o valor mais baixo desde o terceiro trimestre de 2010, altura em que o peso do endividamento da economia era de 356% do PIB.
PIB cresce 1,8% até 2020
Por outro lado, numa análise comparativa entre Portugal, Itália e Hungria, a agência de rating Moody’s deixa elogios à evolução da economia portuguesa e acentua que “o país está mais propício a reformas, vai crescer mais e a economia já recuperou da crise”.
“Itália, Portugal e Hungria ainda enfrentam desafios consideráveis de financiamento em 2019”, alerta o vice-presidente da Moody’s, Evan Wohlmann, co-autor do relatório que compara os três países, cujo comunicado foi enviado quinta-feira às redacções. Nestes três países, Wohlmann avisa que a falta de reformas poderá levar a Moody’s a rever o ‘rating’.
É neste ponto que a agência de notação financeira considera que Portugal está melhor do que os seus pares. A Moody’s antecipa que o ritmo de reformas se mantenha “lento e tímido” na Itália e que seja afectado pelos condicionamentos externos na Hungria. “Em contraste, considerámos que os indicadores institucionais elevados de Portugal e o ambiente político mais estável do país conduzam a uma manutenção do ritmo de reformas”, escreve a agência.
Além disso, a economia portuguesa deverá levar um avanço face à italiana: não só porque já recuperou do impacto da crise, enquanto a Itália não, mas também porque vai crescer a um maior ritmo. O crescimento real do PIB entre 2018 e 2020 em Portugal deverá ser de 1,8%, o que compara com os 1,2% esperados para a economia italiana.
Ainda que tenha melhorado a sua resiliência desde a crise, continua a haver pontos fracos, principalmente na banca portuguesa - um problema que é partilhado com a banca italiana. Os “níveis elevados de crédito malparado” e a “fraca rentabilidade” são traços comuns aos dois países.
Mas há factores que deixam Itália naturalmente mais resistente do que Portugal. Apesar de ter um rácio da dívida pública superior a Portugal, a Itália “nunca acumulou grandes dívidas externas”, dado que grande parte do financiamento é interno. Além disso, a escala “muito maior” da economia e os “níveis elevados de riqueza” tornam a economia italiana mais capaz face a choques futuros.
Os analistas da Moody’s têm certeza de que “os três países carregam um fardo considerável de dívida pública, que aumentou acentuadamente durante e crise e que se mantém acima dos seus pares no ‘rating’”, cuja média era de um rácio da dívida pública de 48% do PIB em 2017. No caso de Portugal, o rácio situava-se nos 124,8% e no de Itália nos 131,8%.
Mudança do BCE
A Moody’s considera que Portugal e Espanha estão “mais bem posicionados” do que a Itália para enfrentar a transição para o ambiente “pós-programa de compra de dívida do Banco Central Europeu (BCE)”.
O BCE pôs fim ao seu programa de compra de dívidas, iniciado em 2015, com o qual acumulou obrigações no valor de 2,5 biliões de euros, dos quais 12,55% correspondiam a títulos de dívida espanhóis.
Num relatório, a agência de ‘rating’ explica que Itália, Espanha e Portugal precisam de continuar a diversificar as fontes de financiamento, “para atender às suas necessidades de dívida ainda muito altas”, quando o BCE finalizar o programa de compra de dívida.
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