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CÂMARA DO COMÉRCIO ANGOLA-CHINA PREOCUPADA COM PROCESSOS

Dobro de projectos, mas com balanço “negativo”

INVESTIMENTOS. Mais de mil projectos de investimentos entre angolanos e chineses deram entrada na Câmara de Comércio Angola-China, entre 2016 e Janeiro deste ano. Responsáveis queixam-se, no entanto, de muitas barreiras, como burocracia, corrupção e burlas.

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A Câmara de Comércio Angola-China (CCAC) recebeu o dobro de projectos, em dois anos, mas considera o resultado “insuficiente”. Deram entrada na organização, até 2016, 500 projectos, e daí a Janeiro deste ano, foram mais de mil. Apesar destes números, o presidente de direcção, Arnaldo Calado, considera o “balanço negativo”, acreditando que “deveria ter sido feito mais”.

A meta da organização era tirar da pobreza, pelo menos, 100 pessoas por ano, através dos projectos de investimentos, objectivo que ficou por alcançar. Pelos cálculos de Arnaldo Calado, apenas entre 20 e 30 pessoas saíram da pobreza, graças à CCAC. Calado confessa-se, por isso, “frustrado”, ao perceber que, por cada 20 pessoas fora da pobreza, outras 50 “mantêm-se pobres, por causa do mau ambiente político-económico”.

Todas as províncias, sem excepção, apresentam, regularmente, projectos em diferentes ramos, mas a sua materialização “não acompanha a velocidade desejada”. Arnaldo Calado atira as culpas às “muitas barreiras que travam os investidores”, entre as quais a exigência de garantias, “a corrupção, a burla e fulanização”.

O líder da Câmara de Comércio recorre mesmo a um exemplo: “há empresários angolanos que fazem parceria com chineses, entram com 20%, mas, depois de realizar o investimento, o angolano que tinha 20% fica com 80% e corre com o estrangeiro”. Uma atitude, sublinha Arnaldo Calado, que encontra, na sua maioria, nos políticos/empresários. Outro caso que considera ser “insólito” é de um advogado que, chamado por um investidor chinês para ajudar a constituir uma sociedade, passou a empresa para o seu nome. Este último caso já foi entregue às autoridades. Além disso, considera que se deve acabar com a “fulanização”. “O estrangeiro, quando chega ao aeroporto, já é alertado que, se não falar com o ‘fulano’, o projecto não vai andar”, justifica. Foi, assegura, “uma prática de muitos anos, que abafava os honestos e promovia os burladores que chegavam rapidamente à riqueza. Temos lutado para ter investidores estrangeiros, mas não está fácil, porque o ambiente económico não facilita.”

SINAIS POSITIVOS

O presidente CCAC afirma depositar esperanças na liderança de João Lourenço, defendendo ser “imperativa” a mudança de quadro. “Se João Lourenço falha, os empresários não têm outra salvação”, conclui.

A prioridade da concretização dos muitos projectos recai sobre os jovens e antigos combatentes desde que “sejam viáveis”. Arnaldo Calado prefere não quantificar o volume total de investimentos dos projectos aprovados, justificando que apresentar números é “coisa dos políticos que querem promoção pessoal”. “Para a Câmara, o mais importante é tirar as pessoas da pobreza”.

Para um melhor ambiente de negócios, Arnaldo Calado propõe a criação de um instrumento que proteja o investidor, designado Fundo de Protecção do Investidor, que funciona em outros países, além da alteração da lei do investimento. “Todas as províncias estão a precisar de investidores e de financiamento, portanto temos de facilitar os investimentos, porque Angola continua ainda a ser o país apetecível para os chineses, apesar das barreiras. Há também outros países africanos interessados no investimento chinês”, alerta o líder da organização.

A Câmara de Comércio tem vários projectos em diferentes províncias. Em Março, será testada, em Catete, Luanda, a primeira safra da produção agrícola de jinguba. No Uíge, vai ser desenvolvido um projecto de turismo na Lagoa do Feitiço. Enquanto a industrialização da mandioca vai ser desenvolvida em Cabinda, Kwanza-Sul e Lunda-Sul. São apenas alguns exemplos de empresas que estão em negociação com o Ministério da Energia e Águas, e “disponíveis para montar projectos em zonas recônditas”.