E agora pergunto eu...
Seja bem-vindo querido leitor a este seu espaço onde perguntar não ofende, depois de uma semana em que uma série de acontecimentos que nos podem levar a reflexões profundas, não tanto sobre o que aconteceu e que está fora da nossa esfera pessoal e colectiva de controle, mas mais sobre os valores também pessoais e colectivos que escolhemos tantas vezes nutrir.

A nível internacional os acontecimentos que marcaram a actualidade e sobre os quais podemos fazer esse exercício introspectivo foram o derrube popular do governo no Nepal e o assassinato do jovem líder da Maga que suporta a ala mais radical do partido de direita que apoia Donald Trump, Charlie Kirk. A nível interno uma dessas situações foi a notícia de que a correspondente da TPA na Casa Branca, a angolana Hariana Verás, teve o seu hard pass que lhe dava acesso ao presidente americano, alegadamente suspenso por actividades que saem do âmbito do jornalismo (para entrarem possivelmente no âmbito do marketing político ou algo mais comercial). Sobre este tema e porque já vi muito bullying online reprovável e desnecessário direccionado à também jornalista, devo dizer que o sentimento geral na base desse bullying, alguma repulsa pela mistura do jornalismo com outras actividades, não justifica agressões verbais. Éque, mais triste do que essa mistura que tem o potencial de desvirtuar o jornalismo, mais triste e mais danoso a vários níveis é a desunião que o tema mais uma vez traz ao de cima entre a classe dos profissionais de media. Em abril, ao abrigo de uma missão a Angola focada sobretudo na descriminalização dos crimes de imprensa, que devia ser um prioridade colectiva entre a classe mas também por essas divisões acaba não sendo, o que o Comité de Protecção dos Jornalistas, que integro primeiro como correspondente e agora como pesquisadora da África Lusófona, o que o CPJ levou de volta para a sede nos EUA foi mesmo a nota dessa cisão profunda entre a classe e que vemos tomar forma em temas como a suspensão do acesso de uma jornalista angolana à esfera do poder mais importante do planeta, uma situação que não devia deixar ninguém na classe feliz mas que deixa muita gente. O que fica patente através dessa felicidade com a desgraça de um dos nossos (se não pelo jornalismo, porque é angolana seja qual for a sua missão profissional) é mais do que qualquer outra coisa que como valor colectivo não temos nem a compaixão de não pisar nos outros quando estão em baixo, nem de não celebrar as derrotas dos nossos semelhantes ainda que os seus desempenhos sejam causa de asco ou repulsa. Há que tentar separar aquilo que define a pessoa que vemos fazer alguma coisa no nosso ponto de vista reprovável, da nossa reacção, porque a nossa reacção é o que nos define como indivíduos.
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