DANIEL MENDES, DIRECTOR DO ANGOLA MUSIC AWARDS

“Não temos dinheiro para dar”

ENTREVISTA. A gala da 4.ª edição dos Angola Music Awards (AMA) está marcada para sábado. Os vencedores das dez categorias têm acesso directo aos PALOP Music Awards, do próximo ano. O director, Daniel Mendes, afirma que só dá prémios e não dinheiro que “acaba rápido”.

 

Além do troféu, o artista deve receber também dinheiro?

O nosso objectivo é preparar o artista para fazer uma carreira nacional e internacional. O AMA não tem dinheiro para dar, nem é esse o nosso objectivo. O artista deve ser reconhecido pelo seu trabalho e mérito e abrir outras portas. O AMA não dá dinheiro. O dinheiro acaba, mas abrir uma porta para a carreira internacional é mais vantajoso. O AMA é uma chave para o sucesso.

O que de diferente tem de outros concursos em Angola?

Nunca chego a comparar, porque são completamente diferentes. A maioria está ligada a um órgão de comunicação social. Dentro do regulamento deles, estão direccionados àquilo que passa na rádio. Nós lançamos aquilo que é produzido a nível nacional num determinado ano. Nomeamos o artista, música, composição, álbum e vídeo entre outras avaliações. Não estamos ligados a nenhum órgão de comunicação social.

Como avalia o mercado de entretenimento?

Está a crescer. Quando comecei a fazer concertos com os SSP, trabalhei com muitos artistas e dei formação a outros. Muitos, que hoje têm produtoras de eventos, passaram pela minha mão. O mercado está a desenvolver-se. Abriram várias produtoras e, em cada ano, nascem dois a três artistas. Só há uma coisa que sinto pena e tento combater: tudo está centralizado em Luanda. Os artistas só se concentram em Luanda, na Praça da Independência, e deixam vários locais de fora e assim vendem pouco quando podiam vender mais de 10 mil cópias.

Como entrou no mundo da música?

Sou um amante da cultura, promotor da música angolana. Tenho trabalhado há mais de 20 anos na música. Fui músico, formei o grupo ‘African Voices’, em Portugal. Trabalhei como manager com os SSP, Bruna Tatiana, Paul G, Lurdes Van-Dunem, Mise Badia (cantora cabo-verdiana), Rey Kuango, Papitchulo entre outros.

O que vai ser o PALOP Music Awards?

Eu e o Gelito Semedo, organizador do Cabo-Verde Music Awards, criamos os ‘PALOP Music Awards’. Já trabalhámos os estatutos, criámos as dez categorias e parcerias com todos os PALOP. As datas já estão estabelecidas. A realização dos ‘PALOP Music Awards’ vai ser rotativa, pelo abecedário. Angola recebe a 1.ª edição. Teremos 15 categorias, em que os vencedores de cada uma e de cada país têm entrada directa. A votação depende de 50 por cento de todo mundo e os outros 50 pela organização tendo em conta alguns aspectos específicos. Mas apelamos aos empresários que se disponibilizem a patrocinar ou a serem parceiros.

Como criou o AMA?

Quando estudava nos EUA, quis desligar-me da música, mas, como estava na veia, convidei o Paul G e a Bruna para gravarem um disco. Mais tarde conheci o Carl Franklin, um músico gospel, que me convidou a assistir aos Black Entretainment Television Music Awards. Fui vendo a possibilidade de criar um em Angola. Quando cheguei, vi que a música ainda não estava muito desenvolvida para fazer algo do género, não havia capacidade para fazer dez categorias. Em 2008 regressei e já tinha produto suficiente para se começar a trabalhar.

Quanto custa a realização deste evento?

Este evento é caro, tendo em conta a dimensão do que é realizado, bem como os objectivos que se propõe atingir. Os custos envolvidos estão acima dos 20 milhões de kwanzas.

Teve mais dificuldades no passado?

Primeiro, tive de perceber bem o mercado nacional. Tinha de ter uma televisão. Contactei primeiro a TPA que viu como algo impossível de se fazer em Angola. Como sempre trabalhei com a RTP e apresentei o projecto, logo recebi ajuda. Mesmo os próprios músicos não acreditavam muito. Encontrei muitas dificuldades, chamavam-me maluco.