O (de)mérito do Presidente da União Africana

21 May. 2025 César Silveira Opinião

Se não fosse a reboque da presidência rotativa, mas apenas por puro mérito, quantos presidentes que já lideraram a União Africana teri-am esta oportunidade? Esta pergunta de pura reflexão surgiu no dia em que o Presidente João Lourenço discursou na Assembleia Anual da Organização Mundial da Saúde (OMS). Fê-lo nas vestes de Presi-dente da União Africana, cargo que exerce desde Fevereiro deste ano. 

O (de)mérito do Presidente da União Africana

No entanto, João Lourenço não perdeu a oportunidade para deixar a entender que, em Angola, o estado da saúde está bem obrigado e recomenda-se, tal como faz nos diversos discursos internos com destaque para aqueles sobre o estado da Nação.  A saúde tem sido dos sectores que mais o Presidente da República destaca. Mas, apesar de todo o investimento em infra-estruturas e toda gabarolice à volta do sector, a saúde angolana continua a carecer de cuidados intensivos, tanto é assim que o estrangeiro continua a ser a opção de urgência e emergência dos governantes para tratar da mais simples dor das unhas. 

Esta realidade é dominada por muitos dos que estavam naquela magna Assembleia da OMS. Portanto, o Presidente João Lourenço, e até porque falava nas vestes de Presidente da União Africana, bem poderia evitar colocar-se a jeito para possíveis avaliações sobre o que disse em relação ao estado da saúde em Angola, correndo o risco de ser acusado de faltar com a verdade. 

Mas este modelo de presidência rotativa, em que se acumula a presidência da organização regional com a dos países, carrega este risco. O de os presidentes transportarem para a presidência continental os vícios da governação dos respectivos países, muitas vezes conduzidos pelo objectivo de manutenção do poder em detrimento do bem governar.  

Por isso, talvez fosse altura de a União Africana pensar numa forma diferente de eleger a liderança da Organização. Reservar, quiçá, o cargo para os ex-presidentes e usar os resultados da governação nos respectivos países como um dos principais itens de eleição. Este modelo não apenas evitaria o efeito contágio dos vícios internos, como permitiria aos presidentes estarem durante o mandato apenas focados na organização, ou seja, nos objectivos do continente. E mais, tornaria meritório o cargo de Presidente da União Africana. De igual modo, poderia concorrer para que os líderes africanos tivessem mais uma motivação para bem-governar os respectivos países.    

 

 

César Silveira

César Silveira

Editor Executivo do Valor Económico