PGR ordena bloqueio de contas da ex-ministra das Pescas
A ex-ministra das Pescas Victória de Barros Neto, o marido e os filhos têm as contas bloqueadas por ordem da Procuradoria-Geral da República (PGR), ao mesmo tempo que contra a primeira foi aberto um processo-crime.
A medida surge depois de um juiz de um Tribunal de Windhoek, Namíbia, ter emitido um mandado de detenção contra a ex-governante, exonerada em Janeiro de 2019, informou no domingo o 'Jornal de Angola'.
Segundo o diário, Angola e Namíbia trabalham em conjunto para apurar a implicação da actual deputada do MPLA num esquema de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, em que estão igualmente envolvidos dois ex-ministros namibianos, já a contas com a justiça naquele país.
O sub-procurador e porta-voz da PGR, Álvaro da Silva João, em declarações ao 'Expresso', sublinha estar em curso uma diligência entre as autoridades judiciais dos dois países, mas lembra que, à luz da Constituição, Angola não pode extraditar os seus concidadãos.
"O que fizemos, desde que tomámos conhecimento deste assunto, através do gabinete de Intercâmbio e Cooperação Internacional, foi contactar a nossa congénere", disse o sub-procurador, acrescentando que, "havendo matérias que indiciem actos criminais, em momento oportuno iremos prestar informações sobre o andamento do processo" - disse.
Mais de 30 milhões de dólares
O esquema, que gerou luvas no valor de pouco mais de 30 milhões de dólares, foi detectado por um consórcio de jornalistas de investigação, do diário namibiano 'The Namibian', a 'Wiki-Leaks', a Televisão Pública da Islândia (RUV), o diário islandês 'Stundian' e a 'Al Jazeera'.
O esquema tem origem num acordo assinado entre os Governos da Namíbia e de Angola, que se consubstanciava no estabelecimento de quotas de pescas envolvendo duas empresas namibianas: a Namgomar Namibian S.A e a estatal namibiana National Fishcor Corporation of Namibian (Fishcor), e uma angolana, Nandomar Pescas Angola.
Supostamente, segundo os investigadores da Comissão Anticorrupção da Namíbia, as quotas doadas por este país eram depois vendidas ao gigante alimentar islandês Samherji HF e os lucros das vendas transferidos para empresas 'offhore' no Dubai e nas Ilhas Maurícias.
Mais tarde, as 'offshore' enviavam o dinheiro para Angola e Namíbia, ou seja, para as empresas detidas por familiares de ministros e empresários testas-de-ferro.
Entre vários beneficiários das comissões ilegais está um dos quatro filhos da ex-ministra das Pescas, João de Barros, que a terá persuadido a tirar proveito dos acordos entre os dois países.
O líder da bancada parlamentar do MPLA disse ao Expresso que desconhece completamente o processo.
"Este caso é surpresa para mim, não li nada, nada chegou à minha mesa, nem domino a informação de que dois ex-ministros namibianos estão detidos no seu país por conta de um negócio envolvendo a camarada Victória de Barros Neto", disse Américo Cuononoca.
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