“Quo Vadis Angola?”

21 Apr. 2025 Suely de Melo Opinião

Nestes dias que andaram, ficamos a saber que quem coordena a equipa económica do Governo afinal também anda descoordenado. Aliás, andam todos. É um disse me disse, um faz que não, mas faz, que deixa até os mais lúcidos tontos. Isto porque, depois de o Ministério da Administração do Território ter garantido, via portal de contratação pública que estavam reservados 35 milhões dólares para o boda da ‘Dipanda’, sendo que parcos 20 milhões seriam reservados à compra de bandeiras, que nos iriam encher de orgulho e apagar a memória da fome e dos amontoados de pés descalços que ‘diambulam’ pelas cidades. Com tudo pronto e fechado, com a assinatura do chefe do MAT, e para não se ficar por aí, o chefe da equipa económica deu uma aula magna de literacia financeira e aconselhou-nos a não olhar para o “djin djin”, que certamente na sua opinião são apenas uns trocados, e sim para o número de empregos que a aquisição das bandeiras iria proporcionar aos jovens ávidos pelo primeiro emprego. Eis que, no anda e recua, o MAT veio com um comunicado a desmentir a assinatura do próprio ministro.

“Quo Vadis Angola?”

Para acalmar os espíritos, o ministério liderado por Dionísio da Fonseca admitiu que até havia tal intenção, pena que não haja tal dinheiro para se torrar nas bandeiras. Bem, isto foi num dia, no dia seguinte, e porque camarada que é camarada salva a pele do seu camarada, para não deixar mal o seu chefe, o ministro da Administração do Território lá admitiu que serão adquiridas bandeira, sim! Sem, no entanto, detalhar valores ou quantidades. Mas acalmem-se, será cá em Angola. Portanto, fiquem descansados jovens ‘kunangas’, que estão garantidos os empregos prometidos por Lima Massano. É muita bandeira pra um só governo!... Que a caminhada do Governo é feita de um passo pra frente e três pra trás, isso já todo o mundo sabe. Tanto é que, com quatro eleições já realizadas no país com alterações à lei eleitoral na véspera, eis que para 2027, quem quer se manter no pote de mel e continuar a “lambuzar-se” sozinho, decidiu antecipar a jogada. O Governo mandou o parlamento legitimar a intenção de limitar a pouquíssima confiança que os eleitores têm. Com a lição estudada de 2022, em que foram postos a circular vídeos a dar conta da derrota na mesa onde o Presidente da República votou, e se evitar outro vexame, o Governo teve a magnífica ideia de propor a não afixação das actas-síntese nas assembleias de voto, bem como de eliminar a ideia chata criada pelos arruaceiros do tal “votou, sentou!”. Nas próximas eleições quem não tiver nada a fazer, depois de participar na “festa da democracia”, como não sei porque cargas d’água lhe chamam, terá de sentar-se a pelo menos um quilómetro de distância e daí usar um binóculo para controlar o seu precioso voto depositado na urna. E como a medicina não inventou ainda a cura para tudo, nestes dias que andaram a vice-Procuradora Geral da República veio a público admitir que o órgão responsável pela legalidade dos actos públicos também padece do cancro da corrupção que enferma a sociedade. Caso para se considerar que o país salta de proeza em proeza onde “corruptos combatem a corrupção”. É obra…. E se pensa que o teatro fica por aí, ledo engano. Foi nesta semana que se completaram dois meses da morte da pequena Vitória. Aquela menina que morreu no interior de um colégio em Luanda. Ao que prontamente a Polícia garantiu que estaria a trabalhar na perícia a fim de localizar o atirador. O certo mesmo é que a Polícia se engasga quando questionada sobre o tempo para o desfecho deste caso. Será falta de equipamento para avaliar o projétil? Será incapacidade ou há algo algum que faça a Polícia não dar a garantia que falta para que a alma da menor, de facto, descanse em paz? Ai se fosse filha de “alguém”… Mesmo não sendo novela, aguardemos pelos próximos capítulos. Para completar a nossa saga, os ventos que nos sopram do além não são nada favoráveis. Durante dois dias, os mercados internacionais andaram “tontos” porque Donald Trump no auge da irreverência que lhe é característica, decidiu aplicar tarifas a uma centena de países onde até ilhas inóspitas, habitadas apenas por Pinguins na Austrália não escaparam, e certamente não escaparia Angola. No que chamou de “Dia de Libertação”, o todo-poderoso da Casa Branca veio a público, momentos depois, e com a reacção negativa dos mercados, afirmar que as lideranças de muitos Estados queriam tão somente beijar-lhe o ‘matako.’ Terá sido o caso de Angola?...


*Crónica do programa ‘Dias Andados’, referente ao dia 14 de Abril de 2025