Projecção económica até 2020

Standard Bank Angola ‘corrige’ Governo e coloca riqueza abaixo de zero

PROJECÇÃO. Sucursal do Standard Bank Group em Luanda volta a contrariar anseios da equipa económica de João Lourenço. Quando o Executivo prevê crescimento de 0,3%, banco antevê uma tesourada para 0,7% negativos. Desempenho tímido da indústria petrolífera e baixa oferta de divisas justificam previsões.

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Um estudo do Standard Bank Angola (SBA) antevê que o crescimento da economia nacional se situe nos 0,7% negativos até ao final de 2019, contrariando os anseios do Governo que desenhou uma riqueza nacional bruta a crescer 0,3% positivos no Orçamento Geral de Estado (OGE) revisto.

A justificar a revisão em baixa do produto interno bruto estão os efeitos negativos da redução do preço do barril do petróleo e a baixa oferta de moeda forte, conforme descreve o estudo do SBA, apresentado por Fáusio Mussá. “Os efeitos negativos da redução do preço do petróleo vão prolongar-se por este ano, a melhoria no mercado cambial, que é a oferta de divisas, vai ter algum progresso, mas ainda não vai estar ao nível de permitir que a economia saia da recessão”, prevê o banco, pela voz do economista chefe e responsável pelos países de expressão portuguesa na análise económica.

Não é a primeira vez que o SBA contraria as projecções do Governo. Em 2018, a instituição bancária, enraizada na África do Sul, tinha projectado um crescimento da riqueza nacional mais moderado. Quando o Governo projectava quase 5%, os economistas do banco cortavam o entusiasmo, antevendo um PIB moderado de 1,2%.

QUEM FICOU PRÓXIMO DA VERDADE?

 

Na revisão do OGE 2019, a equipa económica de João Lourenço justificou o crescimento económico em 0,3% com a taxa negativa de crescimento do sector petrolífero na ordem de 2,8%. A produção petrolífera diária passou de 1.570 mil bbl/dia, inicialmente prevista para cerca 1.434,7 mil bbl/dia.

Dos 68 dólares que estavam desenhados no OGE inicial para 2019, o Executivo cortou 13, para colocar o barril a valer 55, medida também justificada com a “nova dinâmica do preço do petróleo no mercado internacional, assim como pela redução da produção física em Angola”. O Governo não se ficou por aí, tendo reconhecido que o fenómeno criou desequilíbrios nos agregados macroeconómicos.

Apesar disso, o economista-chefe do SBA mostra-se optimista com as reformas levadas a cabo pelo Executivo. Fáusio Mussá aponta o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e demais medidas como indicadores que levaram à correcção dos desequilíbrios. “O FMI publicou (no dia 12/06) a sua primeira avaliação ao abrigo do programa de financiamento de 3,7 mil milhões de dólares que tem para Angola e aprovou um desembolso adicional de 248 milhões. Quando olhamos para essas informações, ficamos positivamente impressionados que as políticas e as medidas que estão a ser implementadas estão a produzir resultados”, observou, acrescentando que ainda assim “o SBA mantém a espectativa de que este ano a economia ainda terá um crescimento negativo”, enfatizou Mussá.

Recuperação em 18 meses

Angola terá de aguardar o desenvolvimento dos próximos seis meses e mais 12 do próximo ano. Pelo menos, é assim que sugere outro estudo do Standard Bank, o African Markets Revealed, documento que apresenta uma expectativa de crescimento de 1,5% positivos para o próximo ano.

As projecções do SBA justificam esse crescimento com “um conjunto de acções, por parte do Governo e do sector privado”. Segundo ainda o economista do SBA, os investimentos no sector petrolífero terão de continuar, com o argumento de que este o ajuda na diversificação e na geração de recursos em moeda estrangeira.

O SBA entende, segundo o economista, ser “impossível diversificar a economia angolana sem fortalecer o sector dos petróleos, que é aquele que gera maior parte de divisas”, sublinhando reconhecer a existência de “de uma forte coordenação de esforços para garantir que essa diversificação da economia (obviamente que é algo que vai levar tempo, vai ocorrer ao longo do tempo) ocorre num momento em que se procura estabilizar a produção do petróleo, o que é importante para Angola”, analisou o economista, moçambicano de nacionalidade.

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