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Tarde demais para compensar os perdedores do comércio livre

01 May. 2017 Sem Autor Opinião

Parece que ultimamente emergiu um novo consenso entre as elites políticas e do mundo dos negócios sobre como resolver a onda anti-globalização que populistas como Donald Trump têm explorado com tanto sucesso. Idas são as assunpções confiantes de que a globalização beneficia toda a gente: temos, as elites agora reconhecem, que aceitar que a globalização produz tanto ganhadores como perdedores. Mas a resposta correcta não é travar ou inverter a globalização; é assegurar que os perdedores são recompensados.

 

O novo consenso é afirmado de forma sucinta por Nouriel Roubini: a onda anti-globalização “pode ser contida e gerida através de políticas que compensem os trabalhadores pelos danos e custos colaterais”, defende. “só através da promulgação dessas políticas os perdedores poderão começar a pensar que eventualmente se vão juntar às fileiras dos ganhadores.”

Este argumento parece fazer sentido eminente, tanto económica como politicamente. Os economistas defendem há muito que a liberalização do comércio causa tanto redistribuição como perdas absolutas para alguns grupos, mesmo quando alarga o bolo económico total de um país. Portanto, as trocas comerciais, sem dúvida, aumentam o bem estar nacional quando os vencedores compensam os perdedores. Esta compensação também assegura apoio para o comércio vindo de eleitorados mais vastos e isso constitui boa governação.

Antes do Estado social, a tensão entre abertura e a redistribuição era resolvida ou através emigração de larga escala de trabalhadores ou pela reintrodução de proteccionismo comercial, especialmente na agricultura. Com o crescimento do Estado social, esta restrição tornou-se menos obrigatória, levando a mais liberalização. Hoje os países avançados, que são os mais expostos à economia internacional, são também os que tem programas de seguro social – Estados sociais- mais extensos. Estudos na Europa demonstraram que os perdedores da globalização tendencialmente favorecem programas sociais mais activos e intervenções públicas no mercado de trabalho.

Se a oposição ao comércio não se tornou politicamente saliente na Europa até hoje, é em parte porque essas redes de protecção social se mantêm fortes, apesar de terem enfraquecido nos últimos anos. Não será exagero afirmar que o Estado social e a economia de mercado têm sido lados da mesma moeda durante grande parte do século XX.

Comparado à maioria doa países europeus, os EUA chegou tarde à globalização. Até recentemente, o seu grande mercado doméstico e relativo isolamento geográfico providenciaram uma considerável protecção de importações, particularmente oriundas de países com salários baixos. Tradicionalmente os EUA tinha também um Estado social fraco.

Quando os EUA se começaram a abrir a importações vindas do México, China e de outros países em vias de desenvolvimento nos anos 80, poder-se-ia esperar que seguisse o modelo europeu. Em vez disso, ante uma onde de ideias ‘Reagenistas’ e fundamentalistas de mercado, os EUA seguiram na direcção oposta. Como Larry Mishel, presidente do Instituto para a Política Económica, coloca, “ignorar os perdedores foi deliberado.” EM 1981, o programa de Ajustamento e Assistência Comercial (AAC) foi um dos primeiros que Reagen atacou, cortando os seus pagamentos semanais.

O estrago continuou sob subsequentes administrações democráticas. Nas palavras de Mishel, “se os liberalistas se importassem de facto com a classe trabalhadora, teriam apoiado um leque completo de políticas que defendessem o crescimento salarial: o emprego, a negociação colectiva, qualificação da mão-de-obra, um salário mínimo robusto e por aí fora.” E tudo isto poderia ter sido feito antes de “introduzir os ‘choques’ da expansão do comércio com países de mão- de-obra barata”.

Poderia agora os EUA inverter a posição e seguir a nova sabedoria convencional emergente? Em 2007, o cientista Ken Sche e o economista Matt Slaughter apelaram à “introdução de uma globalização renegociada” nos EUA, que iria conectar o “comprometimento com a economia mundial a uma substancial redistribuição da renda.” Nos EUA, defendiam eles, isto significaria a adopção de um sistema federal de impostos bastante mais progressista.

A chacina serviu durante a administração republicana do presidente George W. Bush. O que é indicação do quão polarizado se tornou o clima político, que é impossível imaginar propostas semelhantes saídas do círculo republicano hoje em dia. O esforço de Trump e dos seus aliados no congresso para castrar o programa de seguro de saúde do anterior presidente Barack Obama, reflete o comprometimento republicano com a contenção, e não expansão, das protecções sociais.

O consenso acerca da necessidade de compensar os perdedores da globalização presume que os ganhadores estão motivados por interesse próprio esclarecido – que acreditam que a participação dos perdedores é essencial para manter a abertura económica. A presidência de Trump tem revelado uma perspectiva alternativa: a globalização, pelo menos como está construída actualmente, faz pender a balança do poder político na direcção de quem tem capacidades para beneficiar da abertura, o que ultrapassa qualquer influência organizada que os perdedores possam ter. Descontentamento incubado quanto à globalização, ficou demonstrado por Trump, pode ser facilmente canalizado para servir uma agenda totalmente diferente, mais alinhada com os interesses das elites.

A política da compensação está também sempre sujeita a um problema que os economistas chamam de “inconsistência temporal”. Antes de uma nova política, digamos acordo comercial – ser adoptado - os beneficiários têm incentivo para prometer compensação. Uma vez que o acordo esteja em vigor já têm pouco interesse em cumprir, ou porque a reversão tem custos para todos ou porque o equilíbrio de poder mudou a seu favor.

A época da compensação já veio e já foi.Ainda que fosse uma abordagem viável há duas décadas, já não serve como resposta prática aos efeitos adversos da globalização. Para puxar os perdedores, vamos ter de considerar mudar as regras da própria globalização.

 

Professor de Economia Política Internacional na Universidade De Harvard.