CENTRO COMERCIAL E DE LAZER CUSTOU 56 MILHÕES DE DÓLARES

Ulengo center: um ‘gigante adormecido’

COMÉRCIO. Complexo UGC está vazio e com lojas a encerrar. O espaço que custou 56 milhões de dólares, foi inaugurado em 2015, como sendo um dos maiores centros de entretimento de África.

Parque de estacionamento com poucos carros, amplos corredores vazios nos três andares e funcionários sonolentos é o que espera o cliente daquele que foi considerado um dos maiores centros de entretimento de África, o Ulengo Glakeni Center (UGC), em Luanda. Depois de um ano e cinco meses da inauguração, o UGC está ‘às moscas’, com os espaços de lazer encerrados durante a semana, com lojas a encerrar e muitas ainda por abrir.

Para quem se desloca ao complexo, de 120 mil metros quadrados, pertencente à empresa Glakeni, para fazer compras ou simplesmente para obter momentos de lazer, depara-se, à entrada, com um ‘gigante’ de silêncio atípico. O pouco movimento que o espaço regista é maioritariamente feito pelos trabalhadores do centro comercial.

Com uma abertura de ‘pompa e circunstância’ em 2015, e direito a corte de fita pela então Ministra do Comércio Rosa Escórcio Pacavira, o espaço surgiu com apoio institucional do Governo, prometendo aos clientes um “conceito africano de lazer”. Apetrechado com equipamentos de diversão, que para muitos eram novidade, os clientes faziam filas consideráveis para experimentar a montanha-russa, a sala de jogos de mais de dois mil metros quadrados e os carrosséis.

O empreendimento beneficiou de financiamento do Banco BIC, de 56 milhões de dólares, com maturidade de 10 anos e início de reembolso a partir da abertura do espaço ao público. Dada a grande adesão do público, em 2015, a empresa gestora do empreendimento previa receber 10 mil visitantes por semana. Realidade que, no entanto, parece impossível alcançar nos últimos tempos.

O espaço foi perdendo clientes, segundo um lojista, “por causa dos preços exorbitantes, para se aceder aos brinquedos do parque de diversões, que serviu como chamariz por abertura do complexo”. Os preços iniciais de acesso ao parque variavam entre os mil e os cinco mil kwanzas, com direito a todos os brinquedos do parque. O complexo teve então de readaptar os preços face à perda de clientes. Hoje o acesso ao parque pode custar apenas 250 kwanzas, por visitante, que permite o uso de brinquedos motorizados, mantendo-se o ingresso VIP nos cinco mil kwanzas.

O VALOR visitou o espaço comercial durante a semana passada e encontrou muitas lojas fechadas, muitas com anúncios na porta para que os clientes ligassem em caso de interesse em aquisição de produtos, e outras ainda com anúncio de abertura para breve.

Nas que estavam abertas e a funcionar, os trabalhadores disfarçavam o sono e o cansaço com um sorriso e com vontade para atender. “Um cliente é uma realidade rara”, declarou o funcionário de uma garrafeira, quando visitámos o seu estabelecimento, explicando ainda que, “às vezes, até aos fins-de-semana, o movimento é nulo”.

Uma funcionária de uma loja de brinquedos, que encerrou recentemente, declarou que a empresa preferiu fechar a loja a ter perdas consideráveis pela fraca movimentação do ‘shopping’. A renda do espaço “rondava os 200 a 300 mil kwanzas, valores que não conseguia facturar durante o mês, sendo preferível encerrar o armazém, evitando prejuízos significativos”. Contactada, a administração da empresa preferiu não comentar.

CINEMA ENCERRADO

O cinema, que era uma das principais atracções do UGC, está encerrado já há alguns meses. Segundo uma lojista do complexo, o espaço encerrou por falta de clientes. O cinema contava com cinco salas, sendo três em 3D e duas em 2D, geridas pela ZAP, da empresária Isabel dos Santos, que também gere as salas de cinema do centro comercial Avenida. À entrada de uma das quatro portas do complexo, a administração pede “desculpas pelo transtorno”, num anúncio afixado numa das paredes, prometendo resolver a situação de fecho “brevemente”.

O encerramento do cinema, a falta de publicidade e a localização do espaço, são apontados por um funcionário de uma das lojas, como sendo o responsável pela “fraca” adesão de clientes. “Não sei porque é que não investem em publicidade. Não sei como o dono da Glakeni consegue pagar os mais de 100 trabalhadores que a empresa tem, com esse movimento inexistente”, questionou o lojista.

FALTA UM HIPERMERCADO

O complexo UGC não tem uma loja âncora (um hipermercado), como têm os centros comerciais concorrentes. O espaço tem um supermercado no rés-do-chão, denominado Vafran, de pequena dimensão. O supermercado, por altura da visita do VALOR, estava também sem clientes e com apenas duas funcionárias que arrumavam as prateleiras de modo a disfarçar a falta de produtos nas prateleiras. Quem vive nestas imediações tem variadas opções que, na hora das compras, acabam deixando de lado uma visita ao Ulengo.

CONCORRÊNCIA ‘ACIRRADA’

A concorrência dos ‘shopping centers’ no município de Belas, em Luanda, é acirrada. Depois de alguns anos somente com o Belas Shopping a dominar o mercado, surgiu o Atrium Nova vida, em Novembro de 2012, anunciando o fim da falta de concorrência. Três anos depois, o município ganhou nova vida com o Xyami ‘shopping’ do grupo Zahara. Um ano mais tarde, a população deste município viu nascer mais uma opção, com a abertura do centro comercial Avenida, de Isabel dos Santos, que, segundo a mesma, “veio trazer um conceito diferente aos angolanos’.

No mesmo município, prevêem-se ainda as inaugurações, nos próximos anos, de mais ‘shopping centers’, como o ‘Golfe Center Shopping’, do grupo César e Filhos, avaliado em 47 milhões de dólares, o projecto ‘Talatona Shopping’ e ainda o ‘Mundial Shopping’.