UNITA E MPLA, DUAS FORMAS DE “DEMOCRACIA” INTERNA
A recente apresentação da pré-candidatura de Sakaita Savimbi à liderança da Unita e o aparecimento quase simultâneo de uma lista com cerca de 700 militantes, subscrevendo uma moção de apoio a Adalberto Costa Júnior reacenderam o debate sobre a democracia interna nos partidos angolanos. Surgiram vozes a acusar a Unita de estar a seguir o mesmo caminho do MPLA — de transformar a escolha do líder num processo controlado, em que a lealdade se sobrepõe ao pluralismo e a crítica interna é vista como ameaça.

Acusaram, portanto, a Unita de não ser tão democrática quanto proclama. No entanto, há uma realidade que convém sublinhar: o histórico de eleições internas defende a Unita como um partido democrático — e ponto final. O que não significa que todos os seus membros o sejam.
É uma organização com estrutura plural e regras claras de sucessão, mas nem todos os que dela fazem parte assimilam o espírito democrático que o partido proclama.
A prova está no comportamento recorrente de alguns dirigentes que, ao perderem eleições internas, preferem abandonar o partido ou criar novas formações políticas — exemplos claros são os de Abel Chivukuvuko e Dino Chingunji. Há também registos de dificuldade de unificação entre alas derrotadas e alas vencedoras, mas o partido mantém-se firme na pluralidade para a escolha do seu líder.
Esses episódios mostram que, na Unita, o carácter antidemocrático de alguns membros não é suficiente para abalar o edifício democrático do partido. Ou seja, a instituição é mais forte do que as tentações autoritárias dos seus integrantes.
No caso do MPLA, o fenómeno é inverso — e mais preocupante. O partido conta com muitos camaradas genuinamente democratas, pessoas com sentido de Estado, abertura de espírito e vontade de modernizar as práticas políticas. Contudo, enfrentam um obstáculo muito mais profundo: a cultura antidemocrática institucionalizada. Está entranhada nos hábitos, nos rituais partidários e, sobretudo, na própria lógica de poder que define o MPLA. O partido foi construído para comandar, não para debater; para dirigir, não para dialogar. Mesmo os que dentro dele se dizem democratas acabam, muitas vezes, absorvidos por uma estrutura que penaliza a diferença e recompensa a obediência.
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