Africell mantém opção de desistir do concurso público
TELECOMUNICAÇÕES. Única qualificada para a obtenção de licença para quarto operador de telefonia móvel, Africell explica que a sua participação ao concurso público se deveu a garantias de “total transparência”, na política de privatização em curso no sector. “Conversas opacas” na alienação dos activos da Angola Telecom deixam aberta, por isso, hipótese de desistência.
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Depois de ter sido qualificada para a segunda fase do concurso para a atribuição da quarta licença nas telecomunicações, a Africell Holding SAL mantém a opção de desistir do concurso, caso o Governo não cumpra “explicitamente” a sua política de privatização que prevê a alienação dos 45% da Angola Telecom, de modo “integralmente transparente”, através de concurso público ou da bolsa.
A revelação é de Ian Paterson, director financeiro da Africell, em entrevista conjunta à Bloomberg e ao VALOR, e surge na sequência do que chamou de “discussões opacas”, envolvendo a alienação dos activos da empresa pública. “Ficámos surpresos e perturbados com discussões extremamente opacas e fora de qualquer processo formal sobre a privatização da Angola Telecom”, enquanto decorria o concurso. “No caso de a licença móvel da Angola Telecom ser transferida para a Orascom ou qualquer outra operadora num processo não transparente, a nossa retirada do concurso permanece uma opção”, insiste Paterson, justificando que o ‘modus operandi’ da empresa e dos seus investidores, como o governo dos EUA, exige “total transparência”. “Seria impossível continuarmos num mercado onde um processo transparente, como o que participamos até agora, seja comprometido de tal maneira”, avisa.
Ao admitir que o Governo até “conduziu bem o concurso desde que cancelou o processo da Telstar” ao nomear uma empresa de consultoria reconhecida internacionalmente, a KPMG, Paterson insite que a Africell participou com a compromisso de que o Governo respeitaria a política de privatização em curso no sector.
Quanto à KPMG, Paterosn admite que a consultora organizou um concurso “público muito transparente”, com a tecnologia usada a simplificar o processo e a prestar um nível “absolutamente igual” para todos os participantes.
EMPRESA PREPARA-SE
Enquanto aguarda pela “transparência” na alienação da Angola Telecom, a Africell trabalha “arduamente” para apresentar as propostas técnicas e financeiras finais no prazo de 60 dias, segundo Paterson.
Entre as propostas financeiras, consta a promessa de investir “várias centenas” de milhões de dólares na primeira fase que culminará com o início de operações em meados de 2021, se tudo correr conforme calendarizado.As fases subsequentes dependerão do que o Governo disponibilizar em matéria de partilha das infra-estruturas existentes.
A Africell tornou-se a favorita para vencer o concurso para a licença de quarto operador de telefonia móvel, sendo a única concorrente, depois de a MTN Group, da África do Sul, e a angolana BAI Investimentos não terem apresentado propostas, apesar de terem adquirido documentos de encargos, segundo o Ministério das Finanças, coordenador do concurco público.
A licitação é a segunda tentativa realizada para o mesmo efeito depois de o Presidente João Lourenço ter cancelado o concurso inicial ganho pela angolana Telstar, por esta alegadamente não ter preenchido os requisitos.
Ao primeiro concurso, a Africell “assistiu à distância” e sentiu-se atraída em participar no segundo pela promessa de transparência que a licitação, supervisionada pela KPMG, prometia.
Na verdade, segundo Ian Peterson, há anos que a Africell “cobiça” entrar no mercado angolano, por isso a empresa decidiu abraçar a oportunidade, esperando que “tudo corra bem” para, finalmente, operar em Angola, país que considera “em grande crescimento”, economica e demograficamente.
No domínio das telecomunicações, Angola operou geralmente como “monopólio” e os preços praticados podem ser “facilmente desafiados”, segundo Ian Paternon. A Africell promete “atrapalhar” esse modelo de negócio, trazendo “serviços de classe mundial de custos acessíveis nunca vistos em Angola”. No cardápio em oferta, incluem-se serviços de microfinanças, saúde, educação entre outros.
Quanto à partilha de infra-estruturas, que o Governo se propôs a agilizar, por se tratar de um modelo que em larga parte nunca foi testado, os executivos da empresa têm estado a gizar planos para o caso de a promessa não se concretizar. E os planos passam por desdobrar infra-estruturas próprias. Experiências de outras paragens mostram que os detentores das infra-estruturas manifestam alguns “truques” para se protegerem ou para “complicar” a partilha, segundo Ian Paterson.
legalmente em londres
A Africell concluiu com “sucesso” a sua “reorganização estratégica”, mudando a sua sede legal de Beirute, Líbano, para Londres, Reino Unido, e nomeou Magase Mogale consultor jurídico-geral, disse a empresa num comunicado.
Segundo a nota, a Africell “incorporou-se” também na empresa-parente, baseada em Jersey, o que faz dela legalmente uma “empresa americana”. Considerando que 95% dos investidores são cidadãos norte-americanos, incluindo o Governo dos EUA, que é investidor directo, a Africell é, na pratica, uma empresa norte-americana.
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