Angola aos 50: entre condecorações, confissões e contas que não batem
Começando com a pergunta que não quer calar: quo vadis, Angola? E então não é neste ano que completamos 50 anos de Independência? Se for para falar de pessoas, um homem de 50 anos, o que se espera dele? Um chefe de família honrado, casado, pai atento aos filhos; um profissional que já cheira a realizações, pronto para a reforma. A essa idade, não se admite improviso: cada palavra, cada caminho, cada lugar percorrido parece falar por si.

Respeitando a história e o percurso de cada um em particular os condecorados, Sr. Presidente, muitos dos nomes que tem condecorado em alusão aos 50 anos não o merecem, pois os que deveriam, de forma atónica, nem foram mencionados. Que exclusão! Há nomes de consenso. Uma nação faz-se com pessoas e não se esquece dos inúmeros anônimos. Para este reconhecimento, houve falhas e omissões graves de bradar os céus. Merecíamos mais e melhor!
Mas vamos ao que interessa: um olhar de esperança? Talvez. Ou, se preferirmos, uma firmeza convicta de que, apesar de tudo, já percorremos parte do caminho. Como dizia Neto, “Eu sou aquele por quem se espera.” Pois, na prática, para um homem de 50 anos, já não se espera de ninguém — espera-se dele, de facto, que saiba o que fazer.
Voltando ao início: Angola, 50 anos, como estamos, para onde vamos e, acima de tudo, quem somos? Questões indispensáveis que não devemos temer enfrentar. A verdade é que a população cresceu; somos, dizem, cerca de 36 milhões. As contas não batem tão bem assim: o censo ainda não deu a resposta exacta. Mesmo com milhares de milhões de kwanzas gastos, continua sem mostrar a cara dos resultados. E a pergunta que não some: por que tudo falha neste país?
Temos um sistema de educação que precisa de ser repensado de forma urgente. Desafios: escolas insuficientes, professores em falta, um traço de monodocência que empurra alunos para um beco sem saída. Não são problemas novos, apenas agravados pela escalada das condições sociais. O Governo anuncia que, em todo o país, sobretudo no sistema público de ensino, o programa de merenda escolar vai avançar. E, como de costume, antes de ser executado, fica suspenso por inexistência de verbas. O “Novo Jornal”, ao analisar a execução do Orçamento Geral do Estado, traz à baila uma questão assustadora: o Executivo gasta mais em viagens e viaturas de luxo do que em programas de combate à fome e à pobreza. Que país queremos afinal?
Ouvimos também que o FADA — instituição dedicada ao desenvolvimento agrícola — tem concedido apoios e créditos que deveriam ser exclusivos a cidadãos nacionais e empresas, mas acabam financiando entidades estrangeiras. Descalabro, não é? Entre os programas falíveis, o PRODESI, que prometia esperança, parece ter caído no esgoto da repetição. Porquê? Porque é mais fácil e rápido ganhar dinheiro importando alimentos do que produzir. Em 50 anos, o país continua refém do petróleo. A tão falada diversificação permanece no discurso político. Já era para, neste tempo de independência, termos um país maduro o suficiente para andar? Parece que nem sequer engatinhar conseguimos, e a pergunta que não cala é: onde está o nosso preparo?
E as dívidas? Governos com dívidas crescentes, sem reflexos visíveis na melhoria das condições sociais. Precisamos repensar os nossos modelos — políticos, sociais e, sobretudo, a maneira como quem faz da política a sua vida. É preciso pensar Angola para os angolanos. Olhar para dentro. Porque, se um homem de 50 anos falhar, lhe resta apenas enfrentar as consequências dos seus actos. O mesmo vale para o país: até quando vamos adiar decisões cruciais?
Vamos fazer um pacto? Colocar Angola em primeiro lugar e fazer acontecer, antes que seja tarde demais. E as condecorações? Que não nos enganem com medalhas brilhantes: o verdadeiro mérito é ver, no fim de cada década, se fomos capazes de transformar o que prometemos em aquilo que vivemos todos os dias. As condecorações podem brilhar, mas o que realmente precisa de lustre é o futuro dos jovens, a qualidade da educação, a solidez das contas públicas, a dignidade de quem trabalha e a justiça de quem governa.
Como terminar? Com uma pergunta que fica no ar, como uma condecoração sem fita:
•O que realmente significa ser angolano aos 50 anos de independência, quando as promessas não se traduzem em mudanças palpáveis para quem está a nascer hoje?
A crónica da nossa carência…