‘Caim’ e ‘Abel’ no desporto
RIVALIDADE. O sucesso dos dois irmãos, Adolf e Rudolf Dassler, tem contornos bíblicos e ingredientes para um filme com muita intriga, ódio e acção. Os dois fabricaram sapatos desportivos revolucionários quando estavam juntos. O ódio ajudou a criar a Adidas e a Puma.
A Adidas e a Puma são hoje duas das marcas mais importantes do vestuário e calçado desportivos. Rivalizam com a Nike, mas são mais antigas e estiveram em momentos marcantes da história mundial. A origem da rivalidade – e do sucesso – está no ódio entre irmãos. Antes do início da II Guerra Mundial, ainda na década de 1930, Adolf e Rudolf trabalhavam numa pequena fábrica de calçado, numa vila da \Alemanha, Herzogenaurach.
A ‘fábrica de sapatos dos irmãos Dassler’ inventou uns sapatos desportivos, mais leves e mais dobráveis. Juntava, na altura, a criatividade de Adolf com a capacidade de vendas de Rudolf. Em pouco tempo, conseguiam vender os seus sapatos de borracha e atingiram o topo do sucesso quando calçaram o homem que viria a humilhar o ditador alemão, Adolf Hitler, nos Jogos Olímpicos de Berlim: Jesse Owens. O atleta negro norte-americano calçou uns sapatos diferentes e com eles arrecadou quatro medalhas de ouro. Ficava aberto o caminho para o sucesso, e para o ódio.
De acordo com a biógrafa dos irmãos, Barbara Smit, é difícil determinar o momento em que nasceu a zanga que foi transmitida, até aos dias de hoje, para a família. O êxito nas Olimpíadas levou Hitler a assumir que a fábrica dos dois irmãos seria, à semelhança dos automóveis, um exemplo da superioridade alemã. Prescindiu de enviar para a guerra Adolf, mas deixou seguir para a frente de batalha na Saxónia, o irmão Rudolf, um fanático nazi. Escreve a biógrafa que, em 1945, a vila dos irmãos foi bombardeada pela aviação dos Aliados. Quando chegou ao abrigo anti-aéreo, onde estava protegida a família de Rudolf, Adolf terá comentado que os “sujos bastardos voltaram”. A mulher de Rudolf entendeu que as palavras lhe eram dirigidas. Outra versão, ouvida na vila, garante que Adolf terá entregado aos Aliados o irmão.
Três anos depois da guerra, Adolf aplicava a sua criatividade à criação da fábrica Adidas, cujo nome junta as iniciais Adi (diminutivo de Adolf) com Das (de Dassler). Rudolf respondia à letra, criando a Ruma, mais tarde transformada em Puma.
No mesmo ano da fundação da Adidas, nascia a Puma, que também apostou no futebol, mas nunca chegou a atingir os valores da Adidas. No último Mundial, patrocinava quase todas as selecções africanas. A marca está avaliada em 3,5 mil milhões de dólares e tinha registado, em 2015, quase 11 mil funcionários em quase todo o mundo.
Sete décadas depois, a Adidas é a segunda marca desportiva mais importante do mundo, a seguir à Nike, e a primeira no futebol. Além das famosas chuteiras, fabrica todo o tipo de equipamentos desportivos, das camisolas às bolas. Patrocina os principais clubes e selecções e ‘veste’ jogadores como Leo Messi, Di Maria, Xavi, Benzema, Suarez entre milhares de jogadores em todo o mundo. A empresa está avaliada em quase 20 mil milhões de dólares e o ano passado tinha mais de 53 mil funcionários, em todo o mundo.
As duas marcas alimentaram uma guerra que dura até hoje, mas já sem as polémicas do passado. As duas famílias continuam divididas, nunca se entenderam. Durante os anos mais quentes da rivalidade, trocavam acusações de espionagem e de jogos ‘sujos’, com divergências que, algumas vezes, foram dirimidas em tribunal.
Rudolf Dassler morreu em Outubro de 1974. O irmão e ‘pai’ da Adidas morreu em Setembro de 1978. Nas duas empresas, os filhos dos fundadores tomaram as rédeas do poder. A rivalidade deixou de ser entre irmãos para ser entre primos, até 1987. Os dois fundadores foram enterrados em dois cemitérios, na mesma cidade, mas separados por um rio.
A morte do filho de Adolf, em 1987, obrigou a Adidas a mudar de mãos. Foi comprada pelo famoso e polémico empresário francês Bernard Tapie, que optou por apostar no mercado asiático. A maior parte dos produtos é fabricada em países como a Indonésia, Índia, Paquistão, China e Vietname, com salários mais baixos e uma produtividade alta. Ao mesmo tempo, Tapie apostou na promoção agressiva, chegando a contratar Madonna como a ‘embaixadora’ da marca. Bernard Tapie faliu, foi condenado a 18 anos de prisão por corrupção, mas a Adidas sobreviveu.
A Puma conseguiu o grande sucesso na década de 1970, quando tinha como principal ‘cliente’ o futebolista brasileiro Pelé. Ao longo dos anos, foi perdendo terreno até que uma produtora de filmes norte-americana comprou 25% das acções, levando a marca a conquistar o difícil mercado dos EUA. A partir de 2004, começou a apostar, em força, no mercado africano.
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