Depois do choque, os programas
PRESIDENCIAIS. O mundo ficou em choque com a vitória de Donald Trump e reagiu, entre a moderação e a preocupação, enquanto o futuro presidente dos EUA escolhia a equipa.
Como manda a praxe norte-americana, o vencedor das eleições presidenciais e o ainda presidente, Barack Obama, reuniram-se na Casa Branca. O que era para ser uma conversa informal, de cerca de 15 minutos, acabou num longo encontro de mais de hora e meia. O que foi dito ficou em segredo, mas ninguém admitiu que os dois homens, rivais políticos, tenham discutido programas ‘puros e duros’. Caso o tivessem feito, Donald Trump teria de explicar as medidas mais importantes que quer implementar nos primeiros 100 dias de governação. Entre elas, o fim do ‘Obamacare’.
O programa de saúde, aplicado por Barack Obama, vai ser a primeira medida a receber uma ‘vassourada’ do programa económico de Donald Trump. Quando foi candidato, Trump sempre contestou o ‘Obamacare’, mas o seu fim requer a aprovação do Congresso. No entanto, nunca disse o que propõe como alternativa.
Outra medida já anunciada é a renegociação dos acordos comerciais como o NAFTA [Tratado Norte-Americano de Comércio Livre], de que Trump se assume como adversário.
O fim de alguns impostos sobre empresas que deslocalizam as operações para o estrangeiro, a eliminação das leis que limitam a poluição e a produção de carvão, a extinção de zonas livres de armas em redor das escolas e a renegociação do tratado nuclear com o Irão entram no pacote das medidas mais urgentes. As outras, igualmente com efeito imediato, passam por levantar as restrições à produção de combustíveis fósseis, cancelar milhões de dólares em contribuições para programas de luta contra as alterações climáticas da ONU e as mais polémicas: começar a expulsar do país mais de dois milhões de imigrantes ilegais, cancelar os vistos dos países que recusem recebê-los, construir um muro na fronteira com o México e impor uma pena de prisão mínima de dois anos aos migrantes ilegais que sejam deportados e tentem voltar a entrar nos EUA.
“A mudança vai começar no meu primeiro dia no cargo”, avisou num dos últimos comícios, prevendo que, no dia da posse, a 20 de Janeiro, iria estar “muito ocupado”. Donald Trump prometeu também “drenar o pântano” do que considera ser a corrupção sistémica em Washington, congelar as contratações do Governo federal e proibir os membros do Congresso e funcionários da Casa Branca de se tornarem representantes de grupos de interesses (‘lobbies’) por cinco anos.
OUTROS 'LOBBIES'
Apesar deste ‘ataque’ aos ‘lobbies’, analistas políticos e económicos nos EUA garantem que as escolhas do governo de Trump passam por ter um ‘exército’ de ‘lobbistas’. O jornal New York Times discriminou alguns deles. Por exemplo, Jeffrey Eisenach, um consultor que trabalhou para clientes ligados às telecomunicações, vai fazer parte da Comissão Federal de Telecomunicações. Michael Catanzaro, que trabalhou com empresas energéticas, vai gerir a energia. Michael Torrey, conhecido por fazer fortuna com alimentos, vai dirigir a Agricultura. Para secretário de Estado do Tesouro (igual a ministro das Finanças), a hipótese mais forte era Steve Mnuchin, director financeiro da campanha de Trump e destacado banqueiro da Goldman Sachs, de onde saiu em 2002 já com uma fortuna acumulada de 40 milhões de dólares.
Outro nome apontado para a Administração é o Carl Icahn, que surge em 26º lugar na lista dos mais ricos da revista Forbes, com uma fortuna avaliada em 15,6 mil milhões de dólares. Começou a carreira na bolsa em 1968. Contam os jornais que, na noite eleitoral, abandonou mais cedo a festa de Trump para fazer transações na bolsa.
Para a Segurança Nacional, a escolha deve recair sobre Rudy Giuliani, mayor de Nova Iorque durante os atentados nas Torres Gémeas a 11 de Setembro de 2001 e que ficou conhecido pela política de ‘tolerância zero’ contra criminosos e que fez com que a criminalidade baixasse 57%.
Dois dias depois da votação, Donald Trump constituía as equipas, indiferente às reacções no exterior. Nas ruas de algumas cidades norte-americanas, milhares de pessoas protestavam não o considerando como presidente.
O governo japonês marcou reuniões de emergência com o Banco Central japonês para tentar travar qualquer convulsão nos mercados internacionais, enquanto a Comissão Europeia (CE) não escondeu, durante toda a semana passada, as preocupações com os programas económicos de Donald Trump.
O presidente da CE, Jean-Claude Juncker, pedia clareza ao presidente eleito, reafirmando o interesse em saber os planos do sucessor de Obama sobre o comércio global, as relações com a NATO e as alterações climáticas.
Por África, sucederam-se as mensagens de felicitações de vários presidentes, mas ninguém se lembrou das frases polémicas de Trump, desde a promessa de prender Robert Mugabe e Youssouri Museveni, como de defender que “África precisa de ser recolonizada, porque não tem dirigentes competentes que a possam governar”.
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