Dinheiro desviado da Presidência financiou eleição de JES e de João Lourenço e corrompeu militantes da Unita
CASO LUSSATY. Generais ‘Kopelipa’ e Sequeira Lourenço (irmão de João Lourenço), foram apontados como alegados ‘arquitectos’ do Caso Lussaty. Suposto esquema de desvios de fundos públicos, engendrado via Casa de Segurança do PR, terá servido para financiar ilicitamente as campanhas eleitorais do MPLA e para corromper militantes da Unita.
Os batalhões de militares considerados ‘fantasma’ foram criados pelos generais Eusébio de Brito Teixeira e António Mateus Júnior de Carvalho ‘Dylangue’, revelou em tribunal o coronel da Unidade de Guarda Presidencial (UGP) Manuel Correia, no âmbito do julgamento do ‘Caso Lussaty’.
De acordo com o coronel, a criação dos ‘batalhões fantasmas’ teve supostamente conhecimento do general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior ‘Kopelipa’, que também alegadamente sabia que os generais, fundadores dos batalhões, recebiam malas de dinheiro. Além do pagamento de militares fantasmas, explicou Manuel Correia, durante o interrogatório, os valores serviam também para pagar ‘salários’ de funcionários públicos do Cuando-Cubango, militantes do partido MPLA e familiares de militares ligados à brigada de desminagem, naquela província.
O general Kopelipa, então ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, por intermédio do major Pedro Lussaty, terá alegadamente enviado ao coronel Manuel Correia uma lista de nomes de pessoas que não faziam parte dos ‘batalhões fantasmas’, mas que deveriam também receber ‘salários’, com base no dinheiro enviado em malas para os ‘generais do Cuando-Cubango’.
"Eu vi e porque conheço a assinatura do general Kopelipa, não tinha como negar, por isso obedeci às ordens", contou o coronel aos juízes, acrescentando que os nomes de militares falecidos não eram retirados das folhas de salários. “Havia mais de 200 falecidos, na unidade, mas os salários continuavam a ser pagos”, referiu.
Depois dos pagamentos, as malas regressavam para Luanda, com o remanescente dos valores, que eram supostamente entregues aos generais Eusébio de Brito e Mateus Júnior ‘Dylangue’. "Eu entregava o dinheiro em mão e às vezes em frente às bombas de combustíveis, em restaurantes e nas suas residências", explicou. As transações não passavam pelo circuito bancário, afirmou o militar, porque os generais terão argumentado que se tratava de segredo do Estado.
Os arguidos, com destaque para o major Pedro Lussaty, estão acusados de crimes de peculato, associação criminosa, recebimento indevido de vantagens, participação económica em negócios e abuso de poder, bem como fraude no transporte ou transferência de moeda para o exterior do país. O Ministério Público acusa ainda os arguidos de criarem batalhões fantasmas, referindo-se aos batalhões 6º e 8º, do Cuando-Cubango.
O advogado de Pedro Lussaty tinha já solicitado ao tribunal que os generais Kopelipa, Pedro Sebastião e Sequeira Lourenço, todos afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, fossem arrolados no processo como arguidos.
Entretanto um outro coronel, Jacinto Hengombe, antigo assistente-principal da secretaria-geral da ex-Casa de Segurança, actual Casa Militar do Presidente da República, revelou, também em tribunal, que a Unidade da Guarda Presidencial (UGP) financiou as campanhas eleitorais do MPLA de 2008, 2012 e 2017.
Jacinto Hengombe contou ainda que a UGP usou fundo operativo para corromper militantes da Unita na Jamba e Mavinga, ambos municípios do Cuando-Cubango, assim como na província do Bié para que estes deixassem o partido e ficassem em contradição com a direcção do ‘Galo Negro’.
"Esse dinheiro vinha em forma de salário na Unidade da Guarda Presidencial, via Casa de Segurança, para uso exclusivo da logística do MPLA. Nós usávamos o dinheiro nos comícios, na mobilização de militantes que resultaram na vitória do MPLA, nessas eleições", contou o arguido.
“Eu recebia ordem para ir buscar os valores para as despesas operativas, que eram para apoiar as eleições. Apoiamos a campanha eleitoral do MPLA e do Presidente José Eduardo dos Santos nas eleições de 2008, 2012 e para o Presidente João Lourenço, em 2017”, relevou o militar.
Tal como o coronel Manuel Correia, o coronel Jacinto Hengombe também apontou o nome do general Kopelipa, como estando por dentro das operações, sugerindo aos juízes que chamassem o antigo homem-forte de ex-Presidente José Eduardo dos Santos e o general Sequeira Lourenço, irmão do Presidente João Lourenço, que eram os chefes da Casa Militar na altura, para fornecerem mais informações. "Apenas recebia ordem dos meus superiores. Um coronel não pode questionar nem negar ordem de um general", salientou.
O coronel arguido assegurou ainda que da Casa de Segurança do também saía dinheiro para oGrecima, gerido pelo antigo ministro Manuel Rabelais.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...