TEMA NA AGENDA DAS NEGOCIAÇÕES

FMI exige recapitalização de bancos públicos

BANCA. As conversações entre a missão do Fundo Monetário Internacional e as entidades angolanas incluem uma exigência de recapitalização do BCI e do BPC.

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai exigir a recapitalização dos bancos públicos, no âmbito das negociações que mantém com o Governo, na sequência do pedido de “assistência técnica” ao organismo, formulado em Abril pelo ministro das Finanças, Armando Manuel.

O tema consta da agenda dos encontros que a missão do Fundo deve manter esta semana com as administrações dos bancos públicos, segundo confirmou ao VALOR fonte de uma das instituições bancárias visadas, que indicou para esta sexta-feira a reunião entre o ‘board’ do Banco de Comércio e Indústria (BCI) e a equipa da instituição de Bretton Woods. “É natural que o FMI faça exigências, até porque a situação dos bancos públicos não é saudável, especialmente a do BPC, que tem graves problemas de cumprimento de rácios”, analisou a mesma fonte.

Contactado, o representante do FMI em Angola, Max Allier, respondeu, por e-mail, que “é prática padrão a instituição não comentar a rumores”, apesar de informado sobre a origem da informação.

Na última terça-feira, fontes oficiais do Banco Nacional de Angola (BNA) avançaram que o Banco de Poupança e Crédito (BPC) e o BCI vão entrar em processo de reestruturação, por iniciativa do banco central, num projecto que integra a ambiciosa estratégia de Valter Filipe de reposição da credibilidade do sistema financeiro angolano. O BNA não detalhou os termos da reestruturação da banca pública, mas a fonte que vimos citando explica que a “preocupação fundamental” da equipa de Valter Filipe são os “sérios problemas de solvabilidade”, agravados pelo aumento descontrolado do crédito mal parado.

As indicações sobre uma eventual “intervenção profunda” do Estado na banca pública não são novas. Em 2007, informações veiculas pela imprensa atribuíam ao então governador do BNA, Amadeu Maurício, um projecto de fusão entre o BCI e o BPC, com o objectivo de criar “um grande banco angolano”. A explicação era a predominância do capital estrangeiro na banca, situação avaliada, na altura, como nociva aos interesses estratégicos do Estado. O tema ressurgiu na imprensa em 2009, depois de Angola e Portugal anunciarem o avanço para uma parceria estratégica, com o projecto de criação de um banco de capitais públicos luso-angolano, com capital social de mil milhões de dólares. A intenção jamais chegou a concretizar-se e o Governo viu esfumada a possibilidade de ‘matar dois coelhos de uma cajadada’, resolvendo os então crónicos prejuízos do BCI, além de conferir ao BPC o derradeiro estatuto de maior banco do sistema financeiro.