ROSÁRIO MATIAS, EMPRESÁRIO E EX-PCA DO BANCO YETU

“Há estudos que apontam que os grandes impedimentos do acesso ao crédito não estão na banca. Estão fora dela

Quadro do sector financeiro há mais de 30 anos, com passagens pelo BCI, BAI, BNI, BIR e Banco Yetu, Rosário Matias defende a criação de melhores condições que permitam aos bancos estarem mais à vontade na concessão de créditos, apontando as consequências de o Estado absorver grande parte do financiamento disponível. Rosário Matias, que se dedica agora à consultoria, afirma que determinados avisos e instrutivos do BNA criam algum ‘desconforto’ à banca comercial, reconhecendo, no entanto, a responsabilidade do regulador. 

“Há estudos que  apontam que os grandes impedimentos do acesso ao crédito não estão na banca. Estão fora dela

Nos últimos dois avisos, o Banco Nacional de Angola (BNA) orientou os bancos a fazer um aumento de capital de 100%. Em 2019, foi de 2,5 mil milhões de kwanzas para 7,5 mil milhões e, até Outubro deste ano, deve-se sair de 7,5 mil milhões para os 15 mil milhões de kwanzas. Até que ponto aumentar acima dos 100% põe em risco os bancos de menor robustez?

Não tenho dados de todas as instituições que andam no ‘ranking’ mais abaixo. Se isso acontecer, andará aí à volta de um ou dois bancos. Mas se os accionistas e os seus conselhos de administração forem expeditos poderão arranjar mecanismos para fazer a injecção de capital necessário para se atingir esta cifra que agora o BNA estabelece. Primeiro, porque as instituições financeiras bancárias têm de ter capital robusto para o exercício da actividade, com vista a dar tranquilidade ao mercado e aos clientes. Se o banco central, naquilo que é o seu papel de regulador, identificou essa necessidade, é porque está preocupado com a estabilidade do sistema. A grande maioria das instituições bancárias financeiras estará em condições de responder aos níveis de capitais sociais que o BNA impõe. As últimas demonstrações financeiras indicam isso.

 Vislumbram-se novas fusões, em casos de dificuldades?

Poderá ser um mecanismo. Quando coloco o tema das fusões, olhando para o número de bancos, até me inclino a dizer que era preferível que algumas fusões acontecessem. Mas também, às vezes, olho para a extensão de Angola. É um país muito grande e há províncias onde, para se chegar a uma agência, as pessoas andam 80 quilómetros. Então, se existirem fusões, estrategicamente, alguma orientação deve ocorrer para que os poucos bancos que ficarem, terem condições de chegar a esses pontos do país. Daí o desafio que o Executivo tem, que é permanente, de criar condições objectivas para que a nossa economia pulse para outras latitudes, dentro do nosso território nacional. É importante criar-se atractividade no interior, criar condições para que os jovens que estão aqui a passear de um lado para o outro, possam estar nas comunas ocupados com actividades que contribuam para o desejado desenvolvimento do nosso país. 


Como é que se compreende, numa altura em que o país enfrenta uma crise financeira, os lucros dos bancos sejam tão fabulosos?

Não é mal nenhum que os bancos tenham lucros e é desejável que assim seja. Os bancos têm de gerar lucros para poderem desempenhar o seu papel de intermediários, de canalizar os recursos para a economia. Seria negativo se víssemos os resultados dos bancos a baixar. A questão é como é que esses resultados têm sido aplicados em benefício do desenvolvimento da nossa economia, porque, como empresa, os bancos também almejam lucros e quanto mais, melhor. Portanto, aí não há problema. Não é só a visão estratégica, mas é também um ambiente de negócios que permita que as instituições financeiras consigam apoiar mais em matéria de crédito. 

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