Mercado imobiliário cai mais de 40% este ano
CRISE. Pandemia colocou o sector imobiliário em coma profundo, considera a Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola. Procura caiu drasticamente. Há empresas paralisadas.
O sector imobiliário regista, desde o princípio do ano, uma queda de mais de 40% em vendas, 30% no arrendamento, mais de 10% em relação ao ano passado, segundo revelação de Cleber Corrêa, vice-presidente da Apima.
Desde o início da crise económica, em finais de 2014, as empresas imobiliárias debatem-se com “dificuldades extremas”, agravadas pelo fraco nível de compra e arrendamento e influenciadas pela perda do poder compra, sobretudo com a retirada do país de várias empresas e estrangeiros até então tidos como ‘melhores’ clientes, pela subida galopante dos materiais de construção e pelo difícil acesso às divisas.
A situação, agudizada pela pandemia da covid-19, obrigou muitas empresas a paralisarem, revela Cleber Corrêa, sem, no entanto, precisar números que afectam os 78 associados. O líder associativo explica que se regista cerca de 90% de incumprimento no pagamento de quotas na associação e que isso é o “reflexo do estado em que se encontram as empresas”. “Muitos não comunicam que pararam porque têm esperança de que a situação melhore”, assinala. “Nem precisava de pandemia, já estava tudo parado. A pior pandemia que aconteceu chama-se inflação”, reforça
O vice-presidente da Apima não acredita num eventual crescimento do sector como perspectivado pelo Governo no Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2021, enquanto não forem traçadas políticas concretas de acesso à habitação que incentivem os privados. Como, por exemplo, sugere, o Estado “criar uma receita para o crédito habitacional com juro barato, recorrer às reservas obrigatórias, usar 2%, ou ao fundo do petróleo para criar uma receita anual para o sector imobiliário, no sentido de garantir infra-estruturas.”
Por outro lado, Cleber Corrêa lamenta que os empresários “andem em finca-pé com a banca que, por sua vez, apresenta taxas de juros acima da inflação”. Em alternativa, sugere a fixação dos preços dos materiais de construção com base no câmbio do dia bem como a infra-estruturação de terrenos que chegam a custar 50 dólares o metro quadrado, 15 mil dólares cerca de 300 metros quadrados, sem contar com o custo de aquisição e de registo. Cálculos do líder associativo indicam que a construção de uma residência de baixo padrão chega a custar mil dólares o metro quadrado, 1.500 a dois mil dólares a de médio e alto padrões.
IMOBILIÁRIAS SEM HORIZONTE
Com a situação cada vez mais apertada desde o princípio do ano, a proprietária da empresa Rocadia Imóveis, Rosa Miala, foi obrigada a dispensar mais de 200 trabalhadores. Habitualmente a construir residências de alto e médio padrões, a crise remeteu-a para a edificação de casas sociais. Ainda assim, confessa não se aguentar devido ao preço exorbitante dos materiais que “disparam todos os dias”. Por isso, não teve outra escolha senão paralisar. “As coisas vão para pior do nosso lado. Ainda enfrentamos dificuldades nos bancos para ter financiamento, trabalhamos com capital próprio. O que fazer?” questiona-se.
Não muito diferente está a Proimoveis, que regista um decréscimo de 40% em relação ao ano passado, no arrendamento e na compra. Durante a pandemia, houve mais procura em casas da classe média, estimadas em 20 milhões de kwanzas.
Queda drástica na procura também teve o Grupo Boavida, registando uma redução de 90%, mais 10% do que no ano passado, em consequência da falta de poder de compra e o colapso da economia. Segundo Tomasz Dowbor, CEO do grupo, a grande dificuldade para mitigar o impacto negativo da covid-19 prende-se com a “falta de crédito habitacional e a liquidez na banca”.
A Glakeni, por sua vez, viu as vendas recuarem das 120 residências no ano passado para 15, no presente exercício, quebra também explicada com os efeitos da pandemia. Quanto ao segmento do arrendamento, o recuo foi de 48 para 32 residências. Em carteira, a empresa conta ainda com 300 residências de várias tipologias à venda, mas sem qualquer procura.
BCI fica com edifício do Big One por ordem do Tribunal de...