Mo Ibrahim: o ‘gigante’ da boa governação
TELECOMUNICAÇÕES. Nasceu no Sudão, estudou no Egipto, tornou-se cidadão britânico e criou a maior empresa de telecomunicações africana. Mohamed Ibrahim preferiu deixar os negócios e dedicar-se a premiar quem dá exemplos de boa governação em África. Quando se celebra o Dia de África, o VE recorda um dos investidores mais respeitados no mundo.
Em 2005, quase a completar 59 anos, Mohamed Ibrahim resolveu vender a sua Celtel por quase quatro mil milhões de dólares à empresa de telecomunicações do Kuwait. Com o dinheiro, criou a Fundação Mo (diminutivo de Mohamed) Ibrahim que luta contra a corrupção em África e premeia a boa governação. Mas o sucesso não tem sido total. Em dez anos, apenas entregou o prémio a cinco antigos chefes de Estado que destacaram pelo exemplo na governação e abandono do poder voluntariamente. Nos outros anos, o júri não encontrou motivos para entregar o galardão de 500 mil dólares anuais, entregues durante 10 anos. Desde 2007, foram distinguidos Nelson Mandela, da África do Sul, Joaquim Chissano, de Moçambique, Pedro Pires, de Cabo Verde, Festus Gontebanye Mogae, do Botsuana, e Hifikepunye Pohamba, da Namíbia.
O prémio é talvez a maior ‘coroa de glória’ do empresário sudanês que estudou engenharia electrónica na prestigiada Universidade de Alexandria, no Egipto, e completou a formação superior em Londres, no Reino Unido. Mal acabou o curso, dedicou-se às telecomunicações e criou a própria empresa, a Mobile Systems International projectada para redes móveis. Depois, fundou a Celtel International, que se tornou no maior fornecedor de serviços de comunicações móveis em África e um dos maiores no Médio Oriente. Instalou-se numa dúzia de países e dizem os especialistas “mudou a forma como as pessoas viviam”.
Mo Ibrahim nasceu em 1946, no Sudão, filho de um vendedor ambulante e de uma doméstica. Ainda jovem, a família mudou-se para o Egipto o que permitiu ao jovem Mohamed estudar na universidade, beneficiando de apoios sociais dados a estudantes muçulmanos. Licenciou-se em Alexandria, mas resolveu regressar ao Sudão, onde conseguiu empregar-se na Sudan Telecom, uma empresa estatal.
Com menos de 30 anos, decidiu rumar para Inglaterra para voltar a licenciar-se na Universidade de Bradford, doutorar-se em Birmingham e com pós-graduações em Londres. Além das telecomunicações, desenvolveu trabalhos na área de frequência de rádio, que lhe permitiu ser professor em Greenwich. Mas a carreira académica teve vida curta. A vocação empresarial ‘empurrou-o’ a criar uma empresa de consultodoria e ‘software’, a Mobile Systems International (MSI).
Na década de 1990, dedicou-se a África, através da MSI Investments, mais tarde transformada em Celtel International. Ao contrário dos outros negócios, a Celtel começou por ser um operador e não uma mera consultora. Logo na fundação, Mo Ibrahim impôs uma regra: a Celtel estava absolutamente impedida de aceitar qualquer tipo de corrupção. E obrigou os co-fundadores a assinar um documento em que se comprometiam a não aceitar subornos.
A Celtel acabou por constituir um grande sucesso, mudando o cenário de serviços de comunicações móveis. Desde o seu surgimento, o número de telefones móveis no continente cresceu de 7,5 milhões, em 1999, para os 76,8 milhões até 2004.
Quando, em 2000, vendeu a MSI por cerca de 900 milhões USD, a empresa já tinha 17 filiais e empregava 800 pessoas. Cinco anos depois, vendeu a Celtel e criou, em Londres, a Fundação Mo Ibrahim que estabeleceu um sistema, o Índice Ibrahim, que classifica, promove e incentiva uma maior responsabilização dentro das empresas africanas.
Em 2007, a Fundação lançou o Prémio Mo Ibrahim para o Sucesso na Liderança Africana. Desde 2010, Mo Ibrahim tem sido um apoiante activo da Comissão da Banda Larga para o Desenvolvimento Digital, uma iniciativa das Nações Unidas que visa difundir os benefícios dos serviços de banda larga para as zonas mais carentes onde vivam pessoas ainda não conectadas.
Mohamed Ibrahim integra vários doutoramentos ‘honoris causa’ em África e na Europa, é casado e tem dois filhos. A mais velha dirige a Fundação, o mais novo é futebolista profissional.
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