LAVRAS DE MOSCA PARA PRODUÇÃO DE CONSUMO HUMANO  

Negócio já gera milhões em África  

18 May. 2022 Valor Económico Gestão

INVESTIMENTO. Criação de insectos promete gerar milhões em África. Empresas sul-africanas adiantam-se no negócio e pretendem produzir uma proteína para consumo humano, com base em larvas de mosca ‘soldado negro’.

 

Negócio já gera milhões em África  

O futuro da indústria alimentar mundial passará necessariamente pelo investimento nos insectos. Alguns, em particular africanos, considerariam a afirmação exacerbada, mas os cidadãos asiáticos concordariam, de imediato, com a tese. Aliás, reza a história que, os insectos chegam à mesa dos asiáticos, como elemento fundamenta da sua dieta, há centenas de anos. 

No entanto, os insectos que para muitos é um cardápio arrepiante e desconfortável, para outros, visionários, está a ser uma sustentável fonte de rendimento. Aliás, em África, o negócio, promissor, já começou a gerar milhões. O exemplo vem da África do Sul, onde há cada vez mais investimentos na produção de larvas de moscas, para a produção não apenas de ração animal, mas também de alimento humano. 

A empresa sul-africana Susento está entre as que mais investem nos insectos para produção de proteína para o consumo. A empresa entende que as larvas são capazes de produzir uma proteína de alta qualidade que pode ser usada em alimentos e bebidas desportivas. Os fundadores da empresa, de acordo com a Bloomberg, ligada à Universidade Stellenbosch, esperavam, numa primeira fase, arrecadar 700 mil dólares para o projecto. 

 O pó produzido não tem sabor ou cheiro e pode ser usado em alimentos salgados ou doces como chocolate. É uma proteína de alta qualidade e um terreno com um hectare de insectos pode produzir 7.500 vezes mais do que um terreno de soja do mesmo tamanho, explica a co-fundadora, da Susento, Elsje Pieterse.

Pelo menos, três toneladas de proteína por mês são produzidas na universidade. A Susento torna-se assim a primeira empresa em África na corrida de produção de proteína de insecto, com base em larvas da mosca ‘soldado-negro’. As proteínas das larvas podem ser colhidas de maneira sustentável, dado que as moscas são alimentadas com resíduos.

O negócio de larvas da mosca soldado-negro está mais consolidado no ramo alimentar animal, com a AgriProtein, na linha da frente, a cultivar vermes de resíduos recolhidos em mercados, residências e empresas. A empresa transforma as larvas em suplemento de proteína altamente nutritivo que substitui a farinha de peixe na alimentação animal.

A AgriProtein arrecadou até 30 milhões de dólares em financiamento, incluindo subsídios injectados pela Fundação Bill e Melinda Gates, tornando-se uma das mais bem financiadas no sector. Fundada em 2008, na África do Sul, a empresa cria larvas de mosca em resíduos de alimentos de várias fontes, incluindo restaurantes e supermercados. 


Europa prevê investimento de três mil euros  

No primeiro trimestre de 2021, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos autorizou o consumo humano de alimentos produzidos a partir de insectos. Uma autorização despertou interesse dos investidores. Embora as regras sejam “muito apertadas”, o mercado apresenta-se rentável. De acordo com a RTP, a decisão tomada pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos vem trazer uma nova perspetiva económica, sendo que a previsão para o negócio de criação de insectos é crescer dez vezes, chegando aos valores que podem rondar os 3,4 mil milhões de euros, globalmente, até 2025.

A Europa está na vanguarda da crescente aposta nesta área, identificando já os insectos como parte da agenda alimentar sustentável. As autoridades da União Europeia continuam a investir dinheiro em pesquisas e fábricas e este sector económico já fornece regularmente farinha para a alimentação para peixes, cães e gatos (eventualmente gado). Ainda segundo a RTP, A aposta é claramente no futuro, cada vez mais presente, e colocar os insectos e seus derivados na cadeia alimentar pode ser a solução para alimentar o mundo.