O SONHO DO PRESIDENTE DO BAD E OS MONARCAS VIGARIZADOS
Akinwumi Adesina, o nigeriano que lidera o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), desde 2015, habitou-nos com as suas preocupações sobre o destino do continente. Quando olha para as economias africanas, aponta para generalidades. Menciona o desafio da electrificação, do emprego para os jovens, da transição energética, da produtividade do sector primário, das mudanças climáticas, das novas tecnologias e do aumento da dívida. É uma lista de tarefas que o próprio refere insistentemente como essenciais para uma reforma estrutural da maioria esmagadora das economias africanas. Dito em termos sumarizados, é a ‘check list’ para o desenvolvimento teimosamente adiado.
Adesina não fala, entretanto, expressamente de política. No rol das barreiras ao desenvolvimento do continente, o nigeriano decide sempre não incluir o essencial. Ele sabe que não o faz, o que é compreensível. A sua condição de gestor ‘número um’ do banco panafricano impede-o de tomar posições que possam ser aproveitadas para acusá-lo de activismo. Adesina tem consciência de que não pode comprar esse tipo de brigas. Meter-se na política é lutar contra autocratas, é abrir guerra contra a maioria esmagadora dos estados membros que são os accionistas do banco. No limite do absurdo, o risco seria tão elevado ao ponto de pôr em causa a existência da própria instituição.
Aqui reside justamente o fundo da questão quanto aos sonhos do presidente do BAD. Embora marcadamente tecnocrata, Adesina já esteve nas veste de político. Antes de ‘saltar’ para o BAD, foi ministro da Agricultura na Nigéria, um país marcado por conflitos armados intermináveis com grave impacto no processo económico. Por isso, Adesina sabe como poucos que as reformas económicas que advoga não terão sustentabilidade, sem reformas políticas precedentes e profundas. São as reformas políticas consequentes que vão conduzir à criação de instituições fortes e sólidas, capazes de enfrentar os desafios económicos e sociais do continente com sentido de Estado. De outra forma, os sonhos de Adesina jamais passarão disso.
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