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Porque é que África se devia livrar do dinheiro

22 May. 2017 Sem Autor Opinião

A Índia tem estado a lutar para atingir um objectivo ambicioso: uma economia sem dinheiro. Apesar dos erros e frustrações iniciais, vai revelar-se ser uma mudança melhor para a população de 1,31 mil milhões do país. África devia estabelecer o mesmo objectivo - e começar com o primeiro passo, o estabelecer de uma união monetária. Claro que uma sociedade sem dinheiro não é um fim em si mesmo. É, em vez disso, um meio para contribuir para a inclusão financeira, segurança e prosperidade.

 

Actualmente, cerca de 326 milhões de africanos – 80% da população adulta do continente – não usa serviços financeiros formais ou informais. No entanto, amontoar notas debaixo do colchão não é maneira de proteger as poupanças das famílias, muito menos de acumular capital suficiente para escapar à pobreza crónica. Analogamente, milhões de africanos sobrevivem da economia informal, que representa cerca de 41% do PIB na maior parte do continente. Isto deixa-os desprotegidos, e sem caminhos para a estabilidade financeira ou criação de riqueza. Seguir o caminho de uma sociedade sem dinheiro iria obrigar os cidadãos, as empresas e os decisores políticos a desenhar mecanismos que trariam todos os africanos para o sector financeiro, melhorando, de forma drástica, as vidas de milhões que estão ou sub-bancarizados, ou fora do sistema bancário. e traria muitos meios de sustento para a e economia formal – uma super oportunidade económica para os países africanos.

O objectivo deve ser atingir a prosperidade através da inclusão financeira, ligada à actividade económica para que até aqueles que vendem à beira das estradas possam ter acesso a um pedaço de bolo. Mas a inclusão financeira não é um resultado natural da mudança para uma economia sem dinheiro físico. Pelo contrário, como defende o economista de Harvard, Kenneth Rogoff, a desmonetização requer um plano compreesivo e implementável para aumentar a inclusão financeira e o uso de bancos.

Tal plano devia focar-se em construir ecossistema adequado à actividade económica. Em África isso significa não apenas oferecer serviços financeiros, mas avançar no campo da literacia financeira. Novas contas bancárias têm poucos efeitos positivos se não forem usadas. Para assegurar que a inclusão financeira de facto potencia a transformação económica, os africanos têm de ganhar conhecimento e ferramentas que tirem vantagem dos serviços financeiros.

Claro que nada disto é fácil – como ficou demonstrado pela experiencia indiana de difícil implementação do processo de demonetização. O sucesso vai carecer, entre outras coisas, de uma abordagem gradual. África não pode permitir que uma escassez de dinheiro físico entorpeça a economia informal como aconteceu na Índia.

No entanto, se África for bem sucedida nesta transição, os benefícios vão ser profundos. A demonetização provavelmente pode até poupar dinheiro aos países. A Mastercard estima que, a nível mundial, os países gastem até 1% do seu PIB todos os anos para produzir, processar e distribuir notas bancárias. Isto é dinheiro que poderia ser mais bem gasto nos Objectivos do Millenium das Nações Unidas, melhorando a vida dos mais pobres.

Há motivos para crer que África, seria bem sucedida no processo de demonetização. Uma grande parte dos africanos já usa sistemas de pagamento digital como M-Pesa e o EcoCash – precisamente o tipo de plataformas que podem ter um papel crítico na mudança para uma realidade sem dinheiro físico. Enquanto a hiperinflação está longe de ser o catalisador para uma mudança deste género, a experiência do Zimbábue é prova de que os cidadãos conseguem adaptar-se às circunstâncias mais desafiantes. Por exemplo, algumas lojas do país dão crédito em contas móveis em vez de trocos. Mas para chegar a uma mudança mais ampla para uma África sem dinheiro físico, o progresso para uma união monetária seria essencial para aprofundar a integração económica pelo continente. Isso, por sua vez, iria fomentar um ecossistema de serviços financeiros digitais capaz de constituir uma expansão massiva do comercio inter-africano – a via mais rápida para tirar as populações da pobreza.

14 países da África ocidental e central já partilham o franco, que está indexado ao euro. E a África-do-sul já tem uma política monetária comum com o Lesoto, Namíbia e Swazilândia. Não podemos tropeçar onde o caminho é claro.

Os africanos despertaram tarde para o movimento da demonetização. Mas podemos usar isso para a nossa vantagem ao aprender com os países que já fizeram a transição ou que estão a caminho de a fazer. Estes incluem não apenas a Índia, mas também a Dinamarca, a Noruega e a Suécia. Temos de ver isto como uma vantagem estratégica para uma transformação da economia estrutural que é essencial. Com uma estratégia inteligente, sustentada por muita paciência e comprometimento, África pode construir uma economia sem dinheiro físico, com níveis elevados de inclusão financeira que suportem a segurança e a prosperidade. Em menos de nada, comprar uma banana com amendoim numa berma de estrada pode tornar-se numa transacção sem dinheiro, que permita ao vendedor prosperar no presente e poupar para o futuro. ?

 

Economista e director executivo da fundação Ecobank.