CONFRONTOS EM KINSHASA E KABILA SEM INTENÇÕES DE LARGAR O PODER

RDC à beira do caos político

26 Sep. 2016 Emídio Fernando Mundo

VIOLÊNCIA. ONU e França pressionam Joseph Kabila para cumprir com o mandato e deixar o poder como estava previsto na Constituição. Nas ruas, a semana terminou calma, mas com grande tensão. Os protestos fizeram 32 mortos, dizem as autoridades. A oposição fala em mais de 100 mortos.

As autoridades congolesas apressaram-se em fazer o balanço dos violentos confrontos em Kinshasa a semana passada: 32 mortos, entre eles quatro polícias, e dezenas de feridos. Mas a oposição, que contesta a permanência de Joseph Kabila, na presidência da República Democrática do Congo (RDC), refere-se a mais de 100 mortos. Na sexta-feira, preparavam-se os funerais das vítimas que poderão dar números mais precisos.

Os confrontos começaram na segunda-feira passada e duraram três dias. Tudo começou à margem de um evento organizado pela oposição, formada pela União para a Democracia e Progresso Social (UDPS). A ideia do encontro era apenas contestar a continuidade de Joseph Kabila, como chefe de Estado, depois de ter expirado o mandato. A oposição exige que o presidente saia a 20 de Dezembro, conforme exigido pela Constituição. O encontro terminou numa manifestação na capital, com confrontos com a polícia e exigiram a intervenção do exército

O porta-voz do governo, Lambert Mende, acusou os organizadores de terem enganado as autoridades sobre as reais intenções: “eles tinham na cabeça uma insurreição obviamente longa e premeditada”.

Joseph Kabila, apesar de ter expirado o mandato para que foi eleito, mantém-se no poder e quer organizar as próximas eleições apenas em 2018.

O Conselho de Segurança da ONU lançou um apelo à calma e salientou a “importância fundamental” de realizar uma eleição presidencial “em conformidade com a Constituição”. Os membros do Conselho de Segurança “condenaram fortemente a violência” e lembraram “a importância crucial da realização de uma eleição presidencial pacífica, credível, transparente, em tempo hábil e em conformidade com a Constituição”.

Sem meias palavras e numa reacção rápida, à margem da Assembleia-Geral da ONU, François Hollande, presidente francês, acusou as autoridades da RDC de terem cometido “atrocidades” contra o povo. Hollande entende que houve uma “violência intolerável”, acrescentando, que “as vítimas foram causadas pelos abusos do próprio Estado congolês”.

As críticas de Paris mereceram um forte protesto do governo de Kabila. O porta-voz acusou a França de se “intrometer na vida interna” da RDC e de lançar mais “fogueira para os protestos”. Lambert Mende lembrou os “limites obrigatórios” nas relações entre países e perguntando se a RDC “se tornou um “novo departamento ultramarino de novas conquistas da França”. Depois dos confrontos, em comunicado, Joseph Kabila expressou as condolências às famílias das vítimas e prometeu dar-lhes um “apoio apoio total”. Também o Procurador-Geral da República comprometeu-se a julgar os crimes. “A Polícia Nacional foi convidada a procurar activamente os autores desses assassinatos. Havia homens mortos, saques, roubos e tentativas de violação”.

O presidente congolês sugeriu que todas as partes se encontrassem para participarem num diálogo nacional “para fortalecer a construção de consenso eleitoral e política e para poupar o nosso povo a um sofrimento injustificado”. No entanto, a oposição não está pelos ajustes, a União Africana e Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO), ligada à Igreja Católica, anunciaram a suspensão das actividades “por respeito às vítimas” e sugeriram a criação de um Dia Nacional de luto.

A RDC volta assim a viver tempos agitados que, desta vez, chegaram à capital. Joseph Kabila chegou ao poder em 2001, depois do anterior presidente, o seu pai Laurent, ter sido assassinado por um guarda-costas.