Um ‘imperador’ das minas
EMPREENDEDORISMO. Formado em artes e em direito, nascido em pleno regime do ‘apartheid’, o primeiro multimilionário negro da África do Sul não esquece as suas origens humildes e doou metade da fortuna, calculada em três mil milhões de dólares, a projectos sociais. O nome, Patrice, herdou-o de um dos heróis das lutas pela independência de África. O apelido, Motsepe, é de activista do Soweto.
Quando Patrice Motsepe nasceu, a família estava ainda longe de imaginar que o futuro daquela criança poderia passar por uma Àfrica do Sul democrática. E que o pequeno Patrice iria ser o primeiro multimionário negro, num país marcado pela hegemonia branca nos negócios, na política e no poder.
O caso não era para menos. Patrice Motsepe nasceu em 1962, precisamente no ano da detenção de Nelson Mandela, em plena cidade mítica de Soweto, quando os negros enfrentavam as mais duras repressões do século XX. O pai, Augustine Motsepe, um professor do ensino geral, já se envolvia nas lutas pela igualdade e quis, através do nome do filho, homenager um dos heróis das lutas pelas independências em África: o congolês Patrice Lumumba. Foi com este espírito que o futuro milionário viria a crescer. Primeiro no Soweto, depois em Pretória, para onde a família se refugiou para escapar à repressão. Foi na antiga capital sul-africana que o pai começou com um pequeno negócio, uma espécie de cantina, aberta durante a noite e reservada apenas a quem fosse negro.
O jovem Patrice optou por acompanhar o negócio, com relativa distância. Formou-se em Artes e depois em Direito, com a especialidade em minas e em direito empresarial, que lhe permitiu ser o primeiro advogado negro a integrar um escritório de brancos e logo um dos maiores do país, o Bowan Gilfillan.
Tinha 32 anos e, mais uma vez, a ‘cruzar-se’ com a trajectória de Nelson Mandela, que seria eleito, nesse ano, presidente da República.
A nova política sul-africana abriu as portas a mais investimentos de negros, em especial, através das leis de Empoderamento Económico Negro, introduzidas após as eleições de 1994. Basicamente, as regras impunham que, por exemplo, na mineração, uma empresa teria de ter, pelo menos, 26% de acções de um negro para obter uma licença. Ao mesmo tempo, o governo apostava forte no empreendedorismo negro, com ajudas estatais e facilidades fiscais na criação de empresas.
Foi assim que, em 1997, Motsepe conseguiu adquirir a mineira Anglo American, fazendo um acordo que só iria pagar as acções quando a empresa estivesse a dar lucros, aproveitando ainda os preços baixos do ouro. Nesse ano, estabelece um acordo semelhante com a AngloGold, transformando-a na African Rainbow Minerals (‘Rainbow’ significa ‘arco-íris’ e serviu para celebrar a diversidade étnica). Anos depois, viria a pagar 7,7 milhões de dólares pelas minas. Este tipo de acordo foi sendo repetido com outras minas inoperacionais. Dois anos depois, formou a Greene e Partners Investments.
Estavam dados os primeiros passos para Patrice Motsepe montar um império na mineração que se alargou a outros empreendimentos. O principal, ARM (African Rainbow Minerals), tornou-se uma das maiores empresas do sector mineiro sul-africano, com mais de 10 mil funcionários, e com mais de 20 minas de ouro, ferro, platina, carvão e cobre. A facturação anual ultrapassa os mil milhões de dólares, em que Motsepe controla 41%. O restante é de capital aberto.
A fortuna está calculada em três mil milhões de dólares e, em 2013, anunciou que iria doar metade às fundações de solidariedade em resposta à campanha internacional lançada pelos empresários e filantropos norte-americanos Bill Gates e Warren Buffett. “As necessidades e os desafios são grandes e espero que este compromisso encoraje outros na África do Sul e em outras economias emergentes a dar e a fazer o mundo um lugar melhor”, afirmava o milionário, na altura, em comunicado.
“O dinheiro vai ser utilizado durante a sua vida e depois (...) de forma a melhorar o quotidiano e as condições de vida dos sul-africanos pobres, deficientes, desempregados, mas também das mulheres, dos jovens e dos trabalhadores”, sublinhava a mulher do milionário, Precious Motsepe, em declarações a uma rádio local.
É precisamente a mulher que o mais influencia nas opções filantrópicas. É conhecida por desencadear campanhas no combate à pobreza na África do Sul. Os dois, casados desde 1989, têm três filhos.
Patrice Motsepe ganhou o prémio de Melhor Empreendedor da África do Sul em 2002. Em 2008, foi colocado na lista, com o número 503, das pessoas mais ricas do mundo, pela revista Forbes. Além das minas, tem investimentos em seguros, escritórios de advogados e de consultores de empreendedorismo e em serviços financeiros
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