OSVALDO MBOCO, ESPECIALISTA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

“A minha grande preocupação é ver que não conheço uma agenda clara [de Angola na União Africana]”

A falta de divulgação de uma agenda concreta da presidência angolana na União Africana pode contribuir para que o país não deixe marca na organização. Passados 62 anos desde o surgimento da instituição que zela pela união do continente, Osvaldo Mboco, especialista em Relações Internacionais, entende que a falta de vontade política e a ganância têm estado a fazer com que o continente não conheça o desenvolvimento. E observa que os lobbys nas importações são “muito fortes”, ao ponto de influenciarem a não aposta na produção local. 

“A minha grande preocupação é ver que não conheço uma agenda clara [de Angola na União Africana]”

Assinalou-se mais um Dia de África e o continente continua a debater-se com a fome e com conflitos. Como se justifica isso, passadas mais de seis décadas desde a proclamação da Organização da Unidade Africana que deu lugar à União Africana?

Não se justifica que o continente africano continue a ser o parente pobre do sistema internacional, que está sempre à espera de ajudas. Porque o continente africano tem uma grande potencialidade do ponto de vista dos próprios recursos minerais e não só. Tem uma potencialidade agrícola bastante assimilável. É um dos continentes com as terras mais raras do mundo. Tem uma riqueza hídrica espetacular. Tem um solo propício para o cultivo. Entretanto, temos pessoas em África que morrem devido à falta de alimento. É inadmissível.


O que é que estará a falhar?

Estão a falhar uma série de factores. O primeiro elemento que temos de ter em linha de consideração passa pela estabilidade e segurança regional. O continente africano deve conseguir atingir ou minimizar os focos de instabilidade que existem, porque esse é um elemento central para se avançar. Estão a falhar também as lideranças, porque muitas delas foram os movimentos de libertação que proclamaram as independências, transformaram-se em partidos políticos e muitos até hoje estão no poder. Também tem estado a falhar o comprometimento por parte de vários actores africanos. Temos situações em que servidores públicos levantam uma série de dificuldades para depois vender facilidade. Temos uma corrupção endémica no continente africano a vários níveis. Temos um sistema de educação que não é funcional, não atende aos desafios globais. Temos um sistema de saúde que é muito precário, onde a esperança de vida dos africanos são as inferiores a nível do mundo. Temos essas variedades de questões que fazem com que várias medidas a serem adotadas normalmente fracassem, e a vontade política, a ganância dos homens tem estado a fazer com que o continente africano não conheça estágios de desenvolvimento que são expectáveis. 

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