Egildo Beu, responsável pelo segmento do Interprovincial da TRANSCOL

“As empresas têm cada vez menos capacidade de fazer frente a qualquer necessidade que requeira investimentos financeiros”

09 Jul. 2025 Grande Entrevista

Responsável do segmento interprovincial da  Associação Nacional das Empresas de Transportes Rodoviário de Passageiros, TRANSCOL, defende não ser papel dos operadores erguerem terminais rodoviários.

“As empresas têm cada vez menos capacidade de fazer frente a qualquer necessidade que requeira investimentos financeiros”

Recentemente, foi publicado o decreto que estabelece as regras para a organização, exploração, gestão e manutenção de terminais rodoviários de passageiros. Que análise faz deste documento?

Se o objectivo for dotar as empresas de alguma capacidade de organização que irá conferir maior segurança para os utentes e tudo mais, vemos isso com a maior tranquilidade. Mas na nossa modesta opinião, há uma inversão da pirâmide. Porque quando nós falamos em fiscalizar os terminais, cobrar aos operadores isto e aquilo, tudo o que o decreto diz, nós chamamos de inversão da pirâmide. 


Porquê?

Acho que o governo devia primeiro criar as condições, como terminais rodoviários com todas as infraestruturas que neles integram, como os que conhecemos dos outros países. Seria importante ter isto, porque nós já temos alguns anos com experiência de serviço interprovincial em todo o país, existem vários operadores e um dos nossos principais problemas está justamente na falta de terminais rodoviários. Não é o papel de um operador, em parte alguma do mundo, por exemplo, construir um terminal de embarque e desembarque. O nosso papel seria investir nas condições que nos permitissem prestar o nosso serviço tal como o objectivo em si define, transportar. Eu tenho que me preocupar é em investir em compra de autocarros, formar o meu pessoal. As infraestruturas rodoviárias, terminais rodoviários deveriam ser-nos garantidos pelo governo. Essa é a nossa visão. Quando criam decreto para poder depois cobrar do operador esta ou aquela condição no terminal, a pergunta é: qual terminal? Se hoje cada operador tem um ponto de embarque, é porque ele criou de acordo à sua condição e possibilidade. E nós mesmos chegamos à conclusão que não podemos fazê-lo de forma arbitrária. Quando surgiu o Serviço Interprovincial, com a empresa pioneira, a Macon, o embarque era feito na Avenida 21 de Janeiro, lá nos anos 2007 ou 2008. Não havia uma única infraestrutura na época, fazendo com que tivesse sido uma má experiência. Os terminais não existiam e cada empresa começou a tomar uma livre iniciativa, na medida em que as condições ainda não estavam criadas. Lá se vão uns bons anos, e ainda não temos um terminal rodoviário em condições. 


O que seria um terminal rodoviário em condições?

Acontece em qualquer outro país, em qualquer outra cidade das chamadas cidades modernas. Todas elas são dotadas de, pelo menos, um terminal rodoviário. O operador faria o uso dessa infraestrutura e pagaria todas as obrigações que lhe fossem cobradas, as chamadas taxas de uso. Teríamos lá bilheterias. Por norma são infraestruturas integradas ao sistema de transporte como um todo. Teria um terminal rodoviário, de repente teríamos aí próximo um terminal de táxi, uma linha férrea para a passagem do comboio. Essa integração criaria uma harmonia que, por si só, ajudaria a alavancar o crescimento do sector de forma geral. Não acho justo, nem correcto que nos sejam exigidas determinadas condições, cujas facilidades não nos foram dadas. Por exemplo, se eu quero explorar a carreira Luanda-Namibe, eu tenho que ir lá, na cidade de Moçâmedes, localizar um espaço, e ver se a minha condição permite comprar ou alugar, de forma a adequá-lo às condições a que os utentes do nosso serviço, possam fazer um embarque e desembarque nos conformes. Esses investimentos, esses dinheiros, são um esforço extra que o operador tem que fazer quando deveria direcioná-lo para comprar equipamentos, peças e acessórios. Esse dinheiro serviria para fazer face às outras despesas, como o combustível, que subiu de preço recentemente. Temos que deixar de fazer ‘n’ coisas para investir num terminal, porque senão eu não tenho como fazer o trajecto ou a carreira nas condições mais ou menos confortáveis para o utente. Há uma inversão, porque deixamos de dar atenção a várias coisas para fazer aquilo que não deve ser o nosso papel. Provavelmente a intenção seja boa, mas peca nesse aspecto. A mim não deve ser cobrado o que ninguém me deu. 

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