PARA UM ÚNICO GRUPO ANGOLANO

BODIVA ‘carimba’ primeira obrigação empresarial dentro de três meses

MERCADO DE CAPITAIS.Dentro de três meses deve ser anunciada a primeira emissão de obrigação corporativa na Bolsa de Luanda, numa iniciativa de um grupo empresarial nacional cujo nome não foi revelado. É o primeiro caso, quase um ano e meio após a inauguração do mercado corporativo de dívidas.

 

 A Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) já tem em mão a candidatura de uma empresa nacional interessada em emitir a primeira obrigação, cujo processo deve estar concluído dentro de três meses, segundo o CEO do organismo, Patrício Bicudo Vilar.

A BODIVA não avança o nome do primeiro grupo empresarial angolano a estrear-se nas emissões de obrigação, mas considera que este é o primeiro passo para que as demais entidades se aproximem do mercado, “dependendo das necessidades individuais” de financiamento, segundo Patrício Vilar, quando respondia a perguntas do VALOR, no fim da 51.ª reunião das Bolsas de Valores da SADC.

“Neste momento, estamos a acompanhar um processo de emissão de obrigação de uma empresa, cujo nome não posso revelar, porque esses processos são confidenciais até estarem completamente concluídos. Espero que, dentro de três meses, tenha uma boa noticia a dar”, projecta o gestor.

Além deste caso, há mais um grupo de 74 empresas nacionais já identificadas pelo Programa de Preparação de Empresas para o Mercado de Acções (PROPEMA) a caminho da bolsa, candidatas ao mercado de dívida corporativa e o de acções, segundo noticiou o VALOR há várias semanas.

A estratégia inicial de actuação da Comissão do Mercado de Capitais (CMC) previa cinco mercados, nomeadamente o Mercado de Títulos da Dívida Pública, Dívida Corporativa, Fundo de Pensões, Acções e o Mercado de Futuros. Da lista, apenas dois estão implementados: Dívida Pública e Corporativa.

Desde a inauguração do Mercado de Dívida Corporativa na bolsa de Luanda, em Dezembro de 2015, este é o primeiro caso de uma empresa angolana a manifestar-se interessada no financiamento por via de emissão de obrigações, mecanismo que obedece a rigorosos processos de selecção.

O baixo número de empresas neste segmento do mercado de capitais é justificado pelas “actuais condições do mercado” e pelo facto de o Estado ser o principal emitente com capacidade de oferecer taxas de reembolsos acima das empresas.

O sucesso deste segmento do mercado, “infelizmente, depende muito dos próximos desenvolvimentos da nossa economia, fundamentalmente de duas coisas: enquanto o Estado continuar a demandar a dívida e com as taxas de juros que oferece, vai ser difícil haver um emitente que consiga concorrer com o Estado ao nível das taxas de juros que temos hoje. Essa é uma dificuldade”, queixou-se Vilar, juntando às dificuldades a actual política de restrição cambial.

As obrigações são os principais instrumentos de financiamento utilizados pelos Estados, empresas e demais entidades para satisfazerem as suas necessidades de funcionamento ou investimento.

VANTAGENS DO NEGÓCIO

Com a emissão de obrigações, as empresas (ou Estados) passam a ter mais um canal de financiamento diferente das linhas tradicionais, nomeadamente os bancos, cooperativas de créditos e linhas de créditos diversas, com taxas de juros mais acessíveis do que as praticadas nos canais habituais.

Para os investidores - quem empresta dinheiro - a grande vantagem passa a ser a certeza do retorno do investimento e a vantagem de “risco de investimento nulo”, segundo o departamento de apoio ao investidor da Comissão do Mercado de Capitais.

INTEGRAÇÃO DAS BOLSAS DA SADC

Patrício Vilar anunciou que a Comissão das Bolsas de Valores da SADC (CoSSE) estuda a possibilidade de integração das bolsas dos países-membros da região, uma iniciativa que vai permitir com que as bolsas de valores possam, no futuro, partilhar as mesmas plataformas e os mesmos mecanismos de captação de investimentos.

“O que esta organização pretende é fazer uma integração dos esforços das bolsas de todos os países da SADC, no sentido de confluirmos todas as bolsas para um mercado, mesmo que não venha a ser totalmente integrado, mas que tenha, pelo menos, aspectos de integração, nomeadamente uma tentativa de usarmos plataformas em comum, um portal em comum e de podermos também comunicarmos de forma uníssona com os principais investidores internacionais”, ambiciona a organização que tem à testa a sul-africana Zeona A. Jacobs.

Além de Angola, integram o CoSSE a África do Sul, Botswana, a República Democrática do Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Ilhas Maurícias, Moçambique, Namíbia, Seychelles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, e Zimbábue.