BPC acaba com ‘bar aberto’ nos empréstimos
CRÉDITO. Administradora executiva do maior banco em activos garante que vai haver maior controlo no crédito. Na nova estratégia definida, deve ser priorizado o sector produtivo e particulares que honrem compromissos. Ficam de fora “gestores de lanchonetes” e demais clientes com risco elevado de reembolso.
A nova estratégia de cedência de crédito do Banco de Poupança e Crédito (BPC) prevê acabar com o bar aberto e tráfico de influência e atender exclusivamente o sector produtivo e quem demonstre capacidades de reembolso dos valores dentro dos prazos.
O desafio foi anunciado pela administradora executiva da instituição Marília Poças e está enquadrado numa linha de crédito do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que definiu o sector produtivo como o ponto de partida dessa nova era dos empréstimos.
“Temos agora uma [nova] linha de financiamento do BAD, para o sector produtivo, e o foco vai ser efectivamente conceder crédito ao sector produtivo e a quem demonstre que tem capacidade de honrar com os compromissos. Não é mais o ‘bar-aberto’ a que alguns estavam acostumados”, atirou a gestora.
O objectivo é prevenir que futuros empréstimos entrem em situação irregular e causem prejuízos à entidade bancária, agora liderada por Alcides Safeca, depois de, nos dois últimos exercícios financeiros, precisamente 2016 e 2017, ter já registado prejuízos de 29,4 mil milhões de kwanzas e 73 mil milhões, respectivamente.
Assim, e para fechar com o que se considera de “bar aberto” e saídas preferenciais nos empréstimos, o banco avisa que, em futuros empréstimos, devem ficar de fora gestores cujos financiamento saídos do BPC não tenham gerado valor, assim como os que revelem poucas garantias de restituição.
“O BPC já apoiou, de forma muito relevante, a economia. Se calhar, vivemos a experiência de ter emprestado a alguns que eram mais ‘gestores de lanchonetes’ e não de empreendimentos como tal. E estamos na fase de recuperação desses créditos, de reavaliação da estratégia do banco, que já foi definida, e de emprestar efectivamente a quem merece”, garantiu Marília Poças, quando questionada sobre as novas datas para a abertura do crédito, no VIII ‘Fórum Banca’, organizado pelo jornal ‘Expansão’.
Também foi questionada sobre a lista de alegados devedores do BPC, ao que se recusou a esclarecer, invocando a lei das instituições financeiras, no capítulo do sigilo bancário. “Aqui entramos naquelas matérias a que esse tipo de negócio nos obriga, que é a do dever de sigilo, que é crucial nesse negócio”, rematou.
No entanto, não é a primeira vez que o banco promete a reabertura do crédito. Fê-lo em várias vezes. Este serviço ficou suspenso ainda na gestão de Paixão Júnior, antecessor de Zinho Baptista na gestão do banco que mais prejuízo registou na história recente da banca comercial angolana. Ricardo de Abreu, actual ministros dos Transportes, liderou a instituição antes do actual CEO e PCA, Alcides Safeca, responsável pelo último anúncio da reabertura do crédito da instituição. “A concessão de crédito aos clientes está para breve, mas vai depender do saneamento da carteira de crédito que está a ser feito”, dissera o gestor, por altura da tomada de posse de Fernando Heitor, deputado e político dissidente da UNITA, no ano passado. Safeca garantiu que, na altura, estavam ainda a ser negociados com a Recredit a carteira de crédito malparado.
Até Julho do ano passado, o crédito incobrável do BPC estava avaliado em 231 mil milhões de kwanzas. Era esse montante que também estava a ser negociado inicialmente para venda à Recredit, o quadro do plano de recapitalização e reestruturação da entidade.
O banco prevê acabar com o processo de saneamento da carteira de crédito agora em finais de 2018, como previsto e reconsiderado pelos accionistas da entidade, na última reunião da assembleia-geral de accionistas.
JLo do lado errado da história