Cerca de dois milhões de tartarugas devolvidas ao mar
PROTECÇÃO AMBIENTAL. Lei proíbe caça de tartarugas marinhas, mas comunidades de zonas costeiras procuram-nas para fazer parte da dieta alimentar. Em 12 anos, um projecto universitário salvou cerca de dois milhões de animais, devolvendo-os ao mar.
Pelo menos 1,85 milhões de tartarugas marinhas foram devolvidas ao mar, entre 2003 e 2015, em toda a zona litoral do país. A acção ocorreu no âmbito do Projecto Kitabanga, afecto ao departamento de biologia da Faculdade de Ciências, da Universidade Agostinho Neto (UAN). A intenção da universidade é contribuir para o conhecimento e protecção desses animais marinhos. Agentes do Projecto Kitabanga patrulham diariamente, entre Outubro e Abril de cada ano, (época de desova), aproximadamente 55,5 quilómetros de praias no Zaire, Luanda, Benguela e Namibe, ajudando na protecção de ninhos e sensibilizando os pescadores sobre a importância de não pescar os ovíparos. Por outro lado, existe uma legislação que proíbe a caça das tartarugas, mas a sua implementação não é efectiva, de acordo com o ambientalista Vladimir Russo, da Fundação Kissama.
O ambientalista admite, no entanto, que há esforços de muitas entidades públicas e privadas na implementação de projectos e iniciativas de protecção das tartarugas. A Faculdade de Ciências da UAN desenvolve projectos de cariz académico científicos, enquanto a Fundação Kissama faz trabalhos de sensibilização e educação ambiental.
A captura ocorre em vários locais. A acidental, por exemplo, acontece maioritariamente no mar, através de redes dos pescadores. “Estas acabam por ser mortas, na maior parte dos casos, para que sejam soltas das redes”, denuncia Vladimir Russo.
Por outro lado, há tartarugas que são mortas na praia, quando saem da água para fazer a desova. Mas o ambientalista sublinha que acontece também a recolha de ovos das tartarugas para servir de alimentos para as comunidades que vivem nas zonas costeiras.
Há locais identificados, como sendo os mais problemáticos, como por exemplo, a foz da Catumbela, em Benguela. Estas espécies estão classificadas como ‘espécies em perigo’ (como é o caso das tartarugas verdes e as cabeçudas) e criticamente ameaçadas. “Deste modo, se são caçadas, as hipóteses de sobrevivência diminuem, uma vez que, além das causas de morte, existem também os predadores naturais, como caranguejos, gaivotas e tubarões”, alerta Vladimir Russo.
O especialista informou ainda que a taxa de sobrevivência é muito baixa. Por cada mil tartarugas, lançadas ao mar, apenas uma chega à idade adulta. Existem cinco espécies de tartarugas marinhas nas águas marítimas angolanas, nomeadamente a tartaruga oliva, de couro, verde, cabeçuda e de pente.
VIVEM MAIS DE CEM ANOS
Kitabanga quer dizer tartaruga gigante em kimbundu. As tartarugas de couro (Kitabanga) são as mais abundantes em Angola e podem pesar 800 quilogramas, atingindo dois metros de cumprimentos. As tartarugas não possuem dentes, mas possuem um bico muito afiado que usam para cortar os alimentos, compostos basicamente por camarões, alforrecas e esponjas.
Estes animais marinhos estão entre os que vivem mais tempo na natureza. Podem atingir em média cem anos. O recorde é de uma tartaruga de couro que vivia nas ilhas de Galápagos, no Equador. Morreu em 2006, com 176 anos. A temperatura influencia a formação do sexo das tartarugas. Se os ovos estiverem incubados numa temperatura superior a 28 graus, os filhotes serão fêmeas; se for abaixo, serão machos.
JLo do lado errado da história