Cientistas defendem que Áreas Marinhas Protegidas Móveis sejam consagradas
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS. Estudiosos alertam que, à medida que as mudanças se instalam e alteram ecossistemas, os animais podem deixar de existir.
Cientistas pretendem que o conceito de ‘Áreas Marinhas Protegidas Móveis’ seja consagrado na Convenção das Nações Unidas sobre a Lei do Mar (UNCLOS), como nova ferramenta de protecção ambiental face às alterações climáticas.
Num artigo publicado, sexta-feira, na revista Science, investigadores consideram que o processo de actualização da UNCLOS que está em curso, o primeiro desde a assinatura da convenção em 1982, é uma “oportunidade única” para introduzir a ideia de zonas protegidas que acompanhem as espécies à medida que se deslocam. “Como é óbvio os animais movimentam-se, muitos dos quais circulam por vastas áreas de oceano. À medida que as alterações climáticas se instalam e alteram ecossistemas, se criamos delimitações estáticas é provável que os animais que tentamos proteger acabem por deixar de existir dentro dessas delimitações”, diz Sara Maxwell, principal autora do artigo científico, especialista em migrações de animais marinhos e professora na Universidade Washington, Estados Unidos.
A necessidade de criar vastas áreas marinhas protegidas é já consensual, uma das metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas no que diz respeito à defesa da vida marinha é aplicar o estatuto de Área Marinha Protegida (AMP) a pelo menos 10% da superfície dos oceanos –, mas, argumenta o artigo, mesmo a definição de AMP em grande escala não será suficiente para proteger espécies de grande mobilidade como tartarugas marinhas, baleias, tubarões e aves marinhas, cujas migrações atravessam oceanos inteiros.
Para Sara Maxwell, “no contexto das alterações climáticas, a maneira como as estratégias de protecção têm sido aplicadas até aqui não será eficaz no futuro. As espécies marinhas vão necessitar de protecção crescente e para isso serão necessárias ferramentas mais dinâmicas e inovadoras”, adaptadas à mobilidade das espécies que pretendem proteger.
Para sustentar a proposta de inclusão da ideia de “Áreas Marinhas Protegidas Móveis” na UNCLOS, os investigadores usaram dados de identificadores GPS colocados em animais migradores que transmitem informação via satélite e permitem rastrear as movimentações desses animais no espaço e no tempo. Ao ser combinada com outras informações, como as movimentações de navios e dados oceanográficos, a informação sobre as deambulações das espécies oceânicas permite criar sistemas de “gestão dinâmica” de áreas protegidas.
O artigo cita como exemplos de gestão dinâmica de AMP, o programa norte-americano ‘Turtle Watch’, que pede a colaboração voluntária de embarcações de pesca no sentido de não frequentarem águas a Norte do Havai em determinadas alturas do ano para evitar capturas acidentais de espécies ameaçadas de tartarugas marinhas, e o dispositivo australiano de gestão de quotas de pesca de atum rabilho do Sul (Thunnus maccoyii) — uma espécie registada como “em estado crítico” na Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que utiliza informação sobre as áreas onde é provável a presença da espécie para interditar essas áreas a navios de pesca de acordo com o preenchimento das quotas de captura.
Novas tecnologias estão a tornar possível esta abordagem dinâmica à protecção oceânica, ao mesmo tempo que as alterações climáticas estão a torná-la muito necessária”, afirma Sara Maxwell, para apelar à comunidade internacional para que considere a nova abordagem na revisão da UNCLOS.
Kristina Gjerde, cientista da UICN, Melinda Conners, investigadora da Universidade de Stony Brook (eua), e Larry Crowder, da Universidade de Stanford, também ( EUA).
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