“Deixamos o mercado da dolarização no imobiliário”
ENTREVISTA. Promotor imobiliário considera que alteração da lei do arrendamento, que passou a ser obrigatoriamente em kwanzas, desvalorização e saída massiva dos expatriados contribuíram para redefinição do mercado imobiliário do país.
Que avaliação faz do mercado imobiliário no actual contexto económico e financeiro?
Mudámos radicalmente para um mercado de consumo mais reduzido em todas as áreas do sector, tendencialmente para os consumidores com capitais próprios e investidores que pretendam assegurar os kwanzas no imobiliário.
Mas, apesar da crise, existem projectos imobiliários em desenvolvimento no país.
Os projectos do Estado, outros privados, nomeadamente industriais, hoteleiros e habitacionais já em construção, através de financiamentos obtidos antes da crise, estes estão a ser executados sem grandes sobressaltos. Notamos, no entanto, que existem muitas obras paralisadas, no centro da cidade de Luanda, um reflexo real da crise financeira e de falta de financiamentos a nível interno, como externo.
No caso da Proprime, como está a carteira de mediação imobiliária?
Temos a procura de potenciais clientes e investidores no sector, nomeadamente, para a compra de imóveis usados para a reabilitação e potenciais clientes nacionais para o arrendamento no centro de Luanda e Talatona. É para já satisfatório, se atendermos a volatilidade do próprio mercado.
Em termos de procura, que apreciação faz de 2016?
Com a descida do preço a que se assiste no sector, nos mais diversos segmentos, aumenta a procura, mas ainda não acentuada, enquanto os bancos não começarem a ceder créditos. As restrições do acesso ao crédito à habitação também estão a retrair o mercado, esperando que a estabilidade cambial crie abertura para os consumidores e surjam mais investimentos.
Em 2015, o quadro foi diferente?
Sim. Em 2015, houve uma forte redução de negócios imobiliários comparativamente aos últimos três anos. A saída abrupta de clientes estrangeiros, a desvalorização da moeda nacional e a substituição integral, com a nova lei do arrendamento em kwanzas, contribuíram para a queda do negócio imobiliário. Hoje, estamos em condições de dizer que, para este ano, se tornou evidente que deixámos o mercado da ‘dolarização’ do sector imobiliário angolano e entrámos, de facto, para o kwanza. Os segmentos mais solicitados continuam a ser o habitacional e o industrial.
Quanto aos preços, que avaliação faz e quais os segmentos que registam maior procura?
Temos procura mais acentuada no segmento habitacional para arrendamento, nas tipologias T2, T3 e T4. Os valores de procura variam entre os 250 mil e os um milhão e 500 mil kwanzas mês. E para a compra, os preços oscilam entre os 50 milhões e 200 milhões. Estes valores são os mesmos praticados em 2015. E continua a haver uma forte resistência de negociação em dólares e ao câmbio paralelo, que, de facto, não conseguiu resistir.
As lições da crise do subprime
A crise do subprime, despoletado em 2008, obrigou o governo americano a intervir na economia para evitar a repetição do crash de 1929. A estratégia desenhada pelo governo de George Bush para combater a crise envolveu, além do open market, a adopção de um pacote de ‘resgate’ que incluía a compra de activos problemáticos, recapitalização dos bancos e medidas fiscais.
A administração Obama, no entanto, para além deste pacote de resgate, adoptou a facilitação quantitativa, um instrumento não clássico de política monetária que teria resultado em consideráveis níveis de liquidez nas principais praças financeiras internacionais, gerando valorização da moeda de diversos países, mas que, ao mesmo tempo, gerou uma ‘guerra’ cambial, que se repercutiu para alguns países emergentes, incluindo Angola. A crise do subprime foi um dos temas que mais se destacaram no cenário económico internacional de 2007. Na altura, os mercados financeiros foram, em duas ocasiões, surpreendidos por notícias de que as perdas relacionadas ao financiamento de imóveis nos Estados Unidos eram muito elevadas.
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