Empresário denuncia “práticas mafiosas” na comercialização de rochas ornamentais
INDÚSTRIA EXTRACTIVA. Empresas de direito angolano, onde cruzam interesses de estrangeiros, venderam, em dois anos, granito e mármore avaliados em 10 milhões de dólares. Empresário do sector diz que “é muito pouco” e ‘destapa’ irregularidades.
Empresas dedicadas à exploração e à exportação de pedras ornamentais, maioritariamente controladas por capital estrangeiro, são acusadas de várias práticas que prejudicam os empresários angolanos e o Estado, incluindo a fuga ao fisco.
Félix Matias, empresário e dono das empresas Angola Stone e KRM, denuncia que vários operadores estrangeiros usam canais de exportação que implicam a redução das receitas a favor do Estado, “uma vez que exportam para as suas ‘antenas’ na Europa a preços baixíssimos e estas chegam a triplicar o lucro”. A essa “prática mafiosa”, Félix Matias junta situações em que os carregamentos saem directamente de Angola para a China, mas a facturação é feita em Portugal. “É uma máfia que trava o desenvolvimento das poucas empresas angolanas no sector”, critica, referindo que “não há nenhum angolano a dominar o circuito da comercialização”, além de “os estrangeiros ofuscarem até mesmo a formação de especialistas locais”.
Baseado no balanço de 2016 apresentado pelo Banco Caixa Angola na ‘Conferencia Internacional de Exposição de Rochas Ornamentais’, realizada em Outubro último no Lubango, Huíla, o empresário calcula que perto de 20 empresas produziram 56.548 metros cúbicos de granito que, comercializados a 173 dólares o metro, renderam perto de 10 milhões de dólares. “Não representam grande coisa, para um sector que, se bem aproveitado, poderia permitir um maior fluxo de cambiais para o país”, sublinha Félix Matias.
Confrontado com o baixo preço da pedra, Ruí Silva, sócio-gerente da Rupsil & Filhos, que exporta granito e mármore para a China, justifica que os valores praticados resultam da qualidade das pedras exportadas. “Ainda não atingimos o ponto mais alto da pedra, por isso a nossa produção não é de primeira qualidade”, explica, estimando em 10 anos o tempo necessário para se chegar ao material “de excelência e mais rentável”.
Na observação de Rui Silva, para quem as exportações apenas garantem o pagamento de salários, ainda não existem muitas empresas “genuinamente” angolanas. “Com excepção da Metarochas e da Rodang, todas as outras na manobra têm parceiros estrangeiros, porque os angolanos não têm dinheiro”, explica.
Questionada a propósito, fonte do Ministério dos Recursos Minerais e Petróleos contraria sublinhando, que “há muitas empresas angolanas a actuar nesse segmento” e que também “é normal e desejável estarem estrangeiros” porque “trazem capital, tecnologia e conhecimento”. Quanto aos preços, a fonte, que pediu para não ser identificada, resumiu que “estes são ditados pela praça internacional”.
CONTRIBUTo para o PIB
Considerando o seu peso económico, Félix Matias entende que, depois do petróleo e dos diamantes, as pedras ornamentais deveriam estar em terceiro lugar em termos de exportações e influência no PIB. E apontou como uma das falhas a aposta na importação, sobretudo no período do ‘boom’ da construção no país. “Por altura da construção das centralidades, ao invês de potenciar os fornecedores nacionais, foram buscar a pedra da China”, critica, apontando a falta de união entre os operadores nacionais, marcada pelas várias tentativas fracassadas de criação de uma associação forte. “Quem faria parte dessa associação se quem domina o negócio são estrangeiros?”, questiona Rui Silva.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...