Engenheiro de ‘lata’ factura milhões com material reciclável
EMPREENDEDORISMO. Falta de espaço para depositar os resíduos tem dificultado o alargamento da produção. John Ferreira Alberto pede ajuda ao Estado, argumentando que os resultados “são visíveis”.
A trabalhar com material reciclável, John Ferreira Alberto, engenheiro ecológico, já vendeu mais de oito peças monumentais em 2021. Cada peça chegou a custar entre 3,5 e 4 milhões de kwanzas e agora pretende alargar a produção, mas a falta de espaço tem sido um verdadeiro “entrave”, por isso precisa de um financiamento de 100 milhões de kwanzas.
Com sucatas de carros, de resíduos, materiais de electrodomésticos, orgânicos, plásticos e vidros, o artista procura formar objectos em obras “como forma de diversificar a economia”, através da arte e da cultura. “Outras [peças] poderão ser expostas em espaços urbanos com fim de perpetuar os nossos patrimónios culturais”, explica.
John Alberto não tem dúvidas de que, caso se dê uma “atenção redobrada” a este ramo, poderá também ser um sector de combate ao desemprego. “O que pretendemos passar é que, com o lixo, se pode fazer economia, criar-se mecanismos para empregabilidade, visto que, no nosso país, o índice de desemprego é muito elevado. Precisamos também de apostar na criatividade para diversificarmos e aqui estamos a demonstrar essa diversificação de modo a podermos gerar receitas através do lixo”, comenta.
O engenheiro ecológico, que se apresenta com a marca FMLT (Museu de Lixo Transformado), assegura que o negócio de criação de peças é lucrativo, mas sente-se agastado com a falta de confiança do Estado. “Precisamos de 100 milhões de kwanzas, mas este valor é somente para construir. Tem de haver uma reciprocidade. Se colocarem este valor à disposição, podem colocar prazo e nós vamos retribuir, mas eles não confiam. Mesmo mostrando-lhes. Temos blocos de facturação que comprovam que o lixo em Angola dá dinheiro”, assegura.
Lamentando o facto de o “reconhecimento” do seu trabalho vir de outros países, Alberto sustenta que, internacionalmente, têm votos e são premiados, “mas em Angola ainda há dificuldade devido ao pouco conhecimento e à pouca noção do trabalho que temos vindo a desenvolver”.
Para o artista, é “necessária e urgente” a mudança de mentalidade de todos os intervenientes da sociedade, principalmente do Governo, que “joga um papel preponderante” para o saneamento básico e defesa do meio ambiente. “Mas aqui estamos a demonstrar como devemos ou podemos diversificar a economia através da arte e da cultura”, assegura.
O representante da FMLT garante ter já remetido ao Ministério do Cultura, Turismo e Ambiente a sua intenção de, há três anos, criar o primeiro museu do lixo transformado, que, no seu entender, irá diminuir a questão do desemprego da juventude. Processo que acredita encontrar-se estagnado, face “às excessivas” alterações dos ministros. “Já remetemos. A resposta foi positiva, mas acaba várias vezes por não ser concretizado, devido às alterações feitas no aparelho do Estado”, aponta.
Mais do que as oito peças vendidas este ano, em 2020, o Museu de Lixo Transformado conseguiu vender 15 monumentos, além de diversas peças em miniaturas preços entre 500 mil e 600 mil kwanzas.
JLo do lado errado da história