ANGOLA GROWING
EM FACE DA CRISE CAMBIAL E PETROLÍFERA

FMI recomenda políticas “sustentáveis e sãs”

ALERTA. As restrições em Angola relativamente às contas correntes têm um nível de risco elevado porque afectam a actividade económica, dão origem a diferentes distorções e podem provocar um ajuste desordenado do sector externo, alerta o FMI.

 

O surgimento de “grandes desequilíbrios” nos mercados de câmbio de moeda externa em países como angola exige a adopção de políticas macro-económicas “ sustentáveis e sãs”, avisa o FMI no relatório de Abril, com grande foco para países emergentes e produtores petrolíferos.

Os desequilíbrios podem e geralmente são corrigidos recorrendo às reservas de divisas. No entanto, a extensão desse apoio está a tornar-se cada vez mais limitado à medida que as reservas registam quedas significativas.

As reservas internacionais líquidas do BNA estiveram avaliadas em 24 mil milhões USD em Março. Para o FMI se, em 2015, as reservas angolanas eram suficientes para 9,4 meses de importação, em 2016 devem cair para os 6,3 meses, enquanto em 2017, servirão “apenas” para 5,5 meses de compras no exterior.

Num relatório que pinta um quadro pouco saudável para a economia nacional, o FMI prevê um crescimento do Produto Interno Bruto nos países exportadores de petróleo que deverá diminuir para 2,2 porcento, em relação às estimativas anteriores. Mas, no caso particular de Angola, o PIB deverá abrandar “ainda mais”.

Contribuem para essa desaceleração outros factores, como a escassez de oferta de cambiais (importantes para um país que praticamente vive de importações) e a redução dos níveis de despesa pública (que impulsiona a actividade económica interna, nomeadamente através de investimentos em infra-estruturas).

Em instrutivo endereçado às unidades orçamentadas, o Executivo ordenou o “cativamento” das despeças orçadas até à realização das próprias receitas. Ou seja, as unidades devem gastar apenas o que já está disponível e não em função do que se espera arrecadar.

O preço do crude ronda os 40 USD abaixo dos 60 a 70 USD que o ministro angolano dos Petróleos, José Maria Botelho de Vasconcelos, tem considerado como “satisfatório” para produtores e consumidores. Os “apertos” com que o governo está a responder à crise poderão estar a causar mais danos colaterais do que benefícios.

“Políticas monetárias mais rígidas e maior recurso ao financiamento interno do sector público podem ter ampliado os efeitos do choque sobre a actividade de financiamento do sector privado”, relata a análise do FMI.

“Maiores défices fiscais e políticas monetárias mais restritivas estão a aumentar os custos dos empréstimos para o sector privado. Além disso, medidas administrativas em divisas que ampliaram o diferencial das taxas de câmbio oficial e paralelo restringiram as importações de insumos importantes”, analisa do Fundo.

Além de Angola, essa é uma realidade observada na Nigéria, outro grande produtor de crude do continente, e que, segundo o Fundo, “tem distorcido a actividade do sector privado”. E, em consequência, o país vem observando um declínio senão uma contração do crédito ao sector privado.

O Fundo Monetário Internacional notou fundamentos financeiros que se deterioram também em países produtores de petróleo, como a Guiné Equatorial, além do “aumento significativo” de empréstimos não-produtivos, no nosso país e na Gâmbia “dando origem a necessidades de recapitalização”.

 

FMI EM LUANDA

Angola é (ainda) o único produtor de petróleo que já recorreu à “Assistência Técnica” do FMI, sob o chamado Extended Fund Facility. Para formular o pedido, uma delegação angolana esteve em Washington na sede do FMI e a instituição agendou uma visita a Luanda na ultima semana do mês corrente.

Depois do relatório pouco saudável sobre as perspectivas económicas do país, prevê-se negociações árduas entre a equipa económica e o FMI em Luanda, “principalmente se o pacote de ajuda incluir assistência financeira”, disse um economista, solicitando anonimato por ainda não ter lido o relatório.

“O poder negocial de Angola assentava nas exportações do petróleo e essas agora geram poucas receitas. Para financiar assistência que corrija os indicadores que apontou, o FMI vai pedir muito em troca”, antecipa. MEMORIZE ?? As reservas internacionais líquidas do BNA estiveram avaliadas em 24 mil milhões USD em Março. Para o FMI se, em 2015, as reservas angolanas eram suficientes para 9,4 meses de importação, em 2016 devem cair para os 6,3 meses.