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Vida marinha está a fugir do equador

Movimento pode levar a uma extinção em massa

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS. Estudo recente indica que o oceano ao redor da linha do Equador já se tornou demasiado quente para muitas espécies sobreviverem. Aquecimento global é o responsável.

Movimento pode levar a uma extinção em massa

 

As alterações climáticas causadas pelo homem estão a fazer com que a vida marinha esteja a fugir do equador em direção aos polos. Isto pode levar a um novo evento de extinção em massa.

A água tropical no equador é conhecida por ter a mais rica diversidade de vida marinha da Terra, com vibrantes recifes de coral e grandes agregados de atuns, tartarugas marinhas, raias e tubarões-baleia. O número de espécies marinhas diminui, naturalmente, à medida que nos dirigimos para os pólos.

Os ecologistas presumiram que este padrão global tem permanecido estável nos últimos séculos, até agora. Um estudo recente, publicado na revista científica PNAS, descobriu que o oceano ao redor do equador já se tornou demasiado quente para muitas espécies sobreviverem, e que o aquecimento global é o responsável.

Por outras palavras, o padrão global está a mudar rapidamente. E conforme as espécies fogem para águas mais frias em direcção aos pólos, é provável que tenha profundas implicações para os ecossistemas marinhos e para a subsistência humana. Quando a mesma coisa aconteceu há 252 milhões de anos, 90% de todas as espécies marinhas morreram.

Este padrão global, em que o número de espécies começa mais baixo nos pólos e é maior no equador, resulta num gradiente de riqueza de espécies em forma de sino. Os investigadores observaram os registos da distribuição de quase 50.000 espécies marinhas recolhidos desde 1955 e encontraram uma queda crescente ao longo do tempo neste formato de sino.

Assim, à medida que os oceanos aquecem, as espécies rastreiam as temperaturas preferidas movendo-se em direcção aos pólos. Embora o aquecimento no equador de 0,6 ºC nos últimos 50 anos seja relativamente modesto em comparação com o aquecimento em latitudes mais altas, as espécies tropicais precisam de se mover mais para permanecer no seu nicho térmico em comparação às espécies de outros lugares.

À medida que o aquecimento dos oceanos acelerou nas últimas décadas devido às alterações climáticas, o declive ao redor do equador aprofundou-se. Os cientistas previram esta mudança há cinco anos usando uma abordagem de modelação e agora têm evidências observacionais.

Para cada um dos dez principais grupos de espécies que vivem na água ou no fundo do mar, a riqueza estagnou ou diminuiu ligeiramente nas latitudes com temperaturas médias anuais da superfície do mar acima de 20 ºC .

No final do período geológico do Pérmico, há cerca de 252 milhões de anos, as temperaturas globais aumentaram 10 ºC em 30.000-60.000 anos como resultado das emissões de gases com efeito de estufa das erupções vulcânicas na Sibéria. Nesse período, 90% de todas as espécies marinhas foram mortas.

Durante a última era do gelo, que terminou há cerca de 15.000 anos, a riqueza de foraminíferos – um tipo de plâncton unicelular – atingiu o pico no equador e tem diminuído desde então. Isto é significativo, pois o plâncton é uma espécie-chave na cadeia alimentar.

Este novo estudo mostra que o declínio acelerou nas últimas décadas devido às alterações climáticas causadas pelo homem. 

IMPLICAÇÕES PROFUNDAS

A perda de espécies em ecossistemas tropicais significa que a resiliência ecológica às mudanças ambientais é reduzida, comprometendo potencialmente a perseverança do ecossistema.

“Em ecossistemas subtropicais, a riqueza de espécies está a aumentar. Isto significa que haverá espécies invasoras, novas interacções predador-presa e novas relações competitivas. Por exemplo, peixes tropicais que se mudam para o porto de Sydney competem com novas espécies por alimento e habitat”, esclarecem os estudiosos, concluindo que isto pode resultar no colapso do ecossistema, levando a que as espécies se extingam e os serviços do ecossistema sejam alterados permanentemente.