Muitas roupas ?e pneus ‘matam’ os mares
POLUIÇÃO. Compra de roupas tem sido fatal para a conservação do ambiente. No mundo, compra-se cada vez mais vestuário que liberta partículas invisíveis e que vão destruindo os mares. É como se cada pessoa, no mundo, jogasse um saco plástico para o mar por semana. O alerta é de um estudo internacional.
Um estudo elaborado pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) revela que os microplásticos, partículas microscópicas que se encontram em roupas sintéticas e pneus, passam por sistemas de tratamento de água e vão parar ao mar. Estas substâncias invisíveis a olho nu constituem uma fonte de poluição mais grave do que se pensava.
De pneus a roupas e cosméticos, o microplástico encontra-se praticamente em todos os objectos. O seu impacto sobre as águas do planeta é catastrófico: calcula-se que, dos 9,5 milhões de toneladas de matéria plástica que flutuam nos mares, até 30% sejam compostos por partículas minúsculas. Invisíveis a olho nu, constituem uma fonte de poluição mais grave do que se pensava, como mostra o recente relatório da IUCN.
Segundo este estudo, cerca de dois terços do microplástico encontrado nos oceanos são originados dos pneus de automóveis e das microfibras que são libertadas durante a lavagem de roupa na máquina. Outras fontes poluidoras são a poeira urbana, as marcações rodoviárias e os barcos.
As imagens de tartarugas presas em redes de pescar e pássaros com anéis de latas de cerveja em volta do pescoço há muito são vistas em todo o mundo. É diferente do microplástico, que é invisível, só tendo sido recentemente detectado como tal. Assim, sabe-se relativamente pouco sobre a sua escala e o verdadeiro impacto ambiental.
Ao contrário do lixo plástico convencional, que se degrada na água, o microplástico já é lançado no ambiente em partículas tão microscópicas que ‘enganam’ os sistemas de filtragem das estações de tratamento de água. É exclusivamente nesse tipo de dejecto que o relatório da IUCN se concentra.
A actual quantidade de microplástico nas águas é de 212 gramas por ser humano, o equivalente a que cada pessoa do planeta jogasse um saco de plástico por semana no oceano.
MAUS HÁBITOS DE CONSUMO
O director do Programa Marinho Global do IUCN, João de Sousa, lembra que as estratégias globais de combate à poluição marítima se concentram em reduzir o tamanho dos fragmentos do lixo plástico convencional. No entanto, essa concepção precisa de ser revista. “As soluções devem incluir ‘design’ de produtos e de infra-estrutura, assim como o comportamento do consumidor. Podem projectar-se roupas sintéticas que libertem menos fibras, por exemplo, e os consumidores também podem agir, optando por tecidos naturais, em vez de sintéticos.”
Segundo outros especialistas, contudo, essa estratégia não tem o alcance necessário e é preciso também abordar outros hábitos de consumo. Para Alexandra Perschau, da campanha ‘Detox’, da organização ambiental Greenpeace na Alemanha, o real problema não é o tipo de casaco que se compra, mas sim quantos. “O sistema de moda como um todo é o problema, é excesso de consumo”, comentou à DW. “Em diversos levantamentos, seja na Ásia ou na Europa, grande parte dos consumidores admite possuir mais roupas no armário do que precisa, mas continua a comprar mais e mais.”
A produção mundial de vestuário dobrou desde o ano de 2000, excedendo os 100 mil milhões de peças em 2014, de acordo com uma sondagem da organização não-governamental Greenpeace. Além disso, actualmente as peças de vestuário tendem a ser de difícil reciclagem. “Temos cada vez mais peças confeccionadas com fibras mistas de poliéster e algodão, portanto nem temos como reciclá-las devidamente. No momento, a tecnologia não está tão avançada que possamos separar esses tipos de fibras”, explica Alexandra Perschau.
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