O Modelo de Michael Bruno e contribuições para Angola
Nos anos 1950 até 1959, o PIB de Israel cresceu a uma taxa média real de 11 por cento. Esta fase foi caracterizada por limitações na procura e na oferta local, assim como no comércio externo. Dado o reduzido mercado interno, pelo fraco poder de compra, o investimento restringiu-se às necessidades essenciais da população. Por conseguinte, o crescimento económico, neste período, deveu-se ao afluxo de capitais alógenos, que permitiram o financiamento do défice da Balança de Transações Correntes, especialmente remessas dos emigrantes e contribuições do Eximbank dos EUA.
Para melhor compreender a evolução israelita, iremos utilizar o modelo económico de RAINIS e FEI. De acordo com este paradigma, uma economia tradicional evolui do estado de estagnação secular para o crescimento auto-sustentado cumprindo, sucessiva e gradualmente, 3 fases distintas (i) BIG PUSH; (ii) SHORTAGE POINT e finalmente (iii) COMMERCIALIAZATION POINT.
I. BIG PUSH: também designado por fase de arranque, é o momento em que se verifica o aparecimento ou a formação do sector moderno (indústria), transformando-se depois num processo contínuo designado por “esforço mínimo crítico”.
Em Israel, de 1950 até 1953, assistiu-se a um crescimento acelerado, mas caótico e pouco consistente. Nesta fase, verificou-se um grande fluxo imigratório de pessoas qualificadas, por conta do acréscimo na oferta de trabalho especializado. Foi a década do BIG PUSH, em que o sector agrícola avançou gradualmente para a agro-indústria.
II) SHORTAGE POINT: momento em que a indústria criada na fase de arranque passa a incrementar os seus níveis de produtividade. No caso de Israel, entre 1954 e 1955, constatou-se um incremento dos salários no sector industrial, pelo fato de ter beneficiado de injecções de capitais estrangeiros, bem como de aumentos no nível de investimento interno público e privado. Em consequência disso, a produtividade marginal do trabalho aumentou, no sector da manufactura mas, em contrapartida, observou-se a escassez de mão-de-obra na área tradicional (agricultura). Os ganhos sociais fizeram-se notar, dado que as tensões sociais reduziram, houve maior equidade na distribuição da riqueza e maior acesso aos serviços básicos. Estávamos perante um crescimento mais justo e equilibrado, ou seja, perante a transição rumo ao SHORTAGE POINT. Nesta fase, constatou-se ainda a consolidação do agro-negócio, o surgimento de novos sectores como a tecnologia, militar, diamantes e indústria espacial.
III. COMMERCIALIZATION POINT: verifica-se na altura em que o país entra num processo de crescimento auto-sustentado. Neste estágio de desenvolvimento, o país produz e comercializa os produtos necessários ao consumo interno, sendo capaz de exportar. Em Israel, este momento coincidiu com o final dos conflitos militares da década de 1970, onde, para além da diversificação económica, se constatou o surgimento de alta-tecnologia (informática, componentes eletrónicos, aeronáutica, telecomunicações e medicamentos). Contudo, ao recuarmos ao ano de 1960, a forte dependência dos mercados externos, na captação de capitais, embora tivesse permitido uma elevada Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF, trouxe igualmente pressões inflacionistas. O país recebia dos EUA, como ajuda externa, desde 1948, aproximadamente USD 122 milhões por ano. À custa do apoio externo em capitais, foi possível manter a economia em equilíbrio. Estando próxima do terceiro estágio, o COMMERCIALIZATION POINT, a economia israelita perdeu o foco e passou a ter como centro os investimentos militares não produtivos, de modo a prevenir ou enfrentar conflitos como o de 1956 (Guerra do Suez). Contudo, a sociedade de consumo em consolidação já havia adquirido hábitos, o que levou à importação de capitais para o financiamento da Balança de Pagamentos. O Estado teve de adoptar medidas contracionistas, entre as quais, esquemas de poupança forçada.
Entre 1960 e 1970, a inflação situou-se em média nos 5,3 por cento e o PIB nos 8,9 por cento. Em 1970, deflagraram disputas regionais contra as nações árabes (de 1967 a 1970 – Nasserismo; Guerra dos Seis Dias e A Guerra de Desgaste e em 1973 – Guerra do Yom Kippur), ocorreram os choques petrolíferos (1973/74 e 1979) e a Guerra Irão – Iraque (1979). A economia hebraica mostrou-se incapaz de financiar a sua estrutura produtiva interna, em muito devido à inexistência de uma poupança interna consistente e de um crescimento auto-sustentado robusto. Para além disto, o país conheceu uma imigração sem precedentes de povos vindos de África e Médio Oriente, com baixo nível de qualificação, o que provocou instabilidade socio – económica (desemprego e mendicidade) e fuga de quadros. Se, em 1971, a inflação estava nos 12 por cento, em 1980, cifrava-se em 116.8 por cento. O PIB, durante este período, cresceu em média 4.73 por cento.
A Reforma Assertiva
Perante a constante alteração do “status quo”, Israel teve de adaptar o seu paradigma de governação. O objectivo passou pela construção de um modelo reformista assertivo, que conferisse variáveis resilientes. A reforma identificou os pontos seguintes:
Primeiro – Macroeconomia: Aumento da taxa de crescimento económico.
Segundo – Política económica: Políticas de atracção de capital externo.
Terceiro – Consolidação de políticas: a estrutura da Balança de Pagamentos.
Quarto – As variáveis sociais: a oferta de factores produtivos; o rítmo de crescimento populacional. Quinto – Complementaridade. afluxo de recursos externos.
Os Efeitos da Reforma
Após a implementação do programa acima descrito, convém mencionar o pacote de ajuda extraordinária oferecido a Telavive pelos EUA, em 1979, onde se destacou o montante de USD 2,2 biliões com juros elevados e o programa aprovado em 1985, denominado “Pacto para a Estabilidade Económica”, orçado em USD 1,5 biliões, com a obrigatoriedade de consumo de 70 por cento de produtos e serviços americanos, sob a direcção de MICHAEL BRUNO. Sob sua gestão, foi reduzida a inflação de 304.6% para 19.9% (Banco Mundial) entre 1985 e 1987.
As reformas e políticas estatais promovidas por Israel foram bem mais importantes que a injecção de capital externo. Por comparação, as nações árabes da região receberam três vezes mais capital exógeno do que Telavive e de fontes diversificadas, pois surgiam da Ásia, de alguns países africanos, da Europa Oriental, União Soviética e certas nações da Comunidade Europeia, normalmente aliadas ao socialismo. Ainda assim, tais estruturas não tiveram desempenho económico que se igualasse ou superasse o de Israel.
A questão demográfica
O Estado Hebraico manteve a sua taxa de natalidade controlada, verificando uma variação populacional equilibrada, ou seja 1,3 milhões de cidadãos em 1950; em 1975, registavam-se 3,3 milhões de habitantes, no ano 2000, a população cresceu para 6 milhões, e, em 2017, o censo apontava para 8,3 milhões de cidadãos. A política demográfica foi crucial para o desenvolvimento deste país, dado que se manteve proporcional ao crescimento económico.
Contribuições para Angola
Angola deve buscar soluções para o presente nas opções históricas de sucesso aplicadas noutros países, como Israel, que viveu entre 1950 e 1974 a transição de uma economia pouco produtiva e subdesenvolvida para a diversificação industrial e desenvolvimento sustentado.
Luanda registou um crescimento médio do PIB de 10.3% de 2003 a 2013. Tal evolução não permitiu à nação africana a transição do BIG PUSH para o SHORTAGE POINT, essenciais para a diversificação económica, exportação e substituição das importações, muito devido à ausência de reformas nos diversos sectores. Apenas a ruptura epistemológica permitirá prosseguir para as fases de crescimento seguintes. Não se deve, de modo algum, substituir reformas pelo o elevado influxo de moeda externa.
Relativamente ao factor demográfico, Angola apresenta uma explosão natalícia. Em 1950, o país africano registou 4,6 milhões de habitantes; 7,7 milhões em 1975; 16,4 milhões no ano 2000 e 30 milhões em 2017. A Arábia Saudita, a título de exemplo, segue o padrão africano: 3,1 milhões de pessoas 1950; 7,4 milhões em 1975; 20,1 milhões no ano 2000 e 33 milhões em 2017 (UNCTAD). Por tudo o que foi dito, Israel tem, por conseguinte, um bom modelo a seguir.
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