KWIK

O SONO DO PRESIDENTE E O AVISO DO DEPUTADO

06 Aug. 2025 Editorial

Transcorrida uma semana sobre o caos que estremeceu o país, e muito particularmente Luanda, sobrepõe-se uma pergunta que aparentemente continua sem resposta. O que muita gente questiona essencialmente é se João Lourenço e o seu regime perceberam realmente o que se passou. O discurso oficial insinua que não. Aparentemente, para João Lourenço e a camarilha que o cerca, nada aconteceu além de identificados actos de vandalização que se resolvem com uma linha de crédito de 50 mil milhões de kwanzas. 

O SONO DO PRESIDENTE E O AVISO DO DEPUTADO

São os factos que o dizem. João Lourenço chamou o seu Conselho de Segurança e, na nota da reunião, fez um apelo à população para “não aderir aos conteúdos veiculados nas redes sociais, muitos deles produzidos com recurso à inteligência artificial, que incitam à desobediência, ao ódio e à rebelião”. É inacreditavelmente isso! O que de mais relevante se transmitiu ao país, depois de uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, é a informação de que os angolanos se devem abster de conteúdos nas redes sociais que incitem à arruaça. Dias antes, numa comunicação anterior, João Lourenço condenou os actos de vandalização e elogiou a Polícia que a sociedade acusa de ter assassinado pelo menos 30 pessoas. Isto depois de se ter reunido com o seus ministros para aprovar projectos de turismo, enquanto o país tresandava a luto fresco. Por actos e palavras, João Lourenço passa assim a sugestão de que o seu mundo paralelo continua florido e sereno. 

Quis, entretanto, o destino que desta vez um importante deputado do MPLA se juntasse ao grupo que lhe lança água gelada no rosto para tentar despertá-lo do aparente sono profundo. Num inesperado texto datado desta segunda-feira, 4, o sociólogo Paulo de Carvalho escreveu o que nenhum militante relevante do MPLA ousou dizer até ao momento. Sem meias palavras, avisou que a autodestruição do MPLA acelerada por João Lourenço levará à inexorável derrota. “Ou pelas urnas ou pela força.” Não se sabe para já se Paulo de Carvalho poderá ser alvo de um processo de incitação à rebelião. O que há é a razoável certeza de que o reconhecimento da possibilidade de o MPLA ser escorraçado do poder pela força não é uma colocação casual. É, antes, a admissão de que os acontecimentos que varreram especialmente Luanda significam, como assinala o próprio deputado, “o ponto de ruptura com o passado de submissão popular”. O deputado do MPLA não poderia ser mais ex-plícito e incisivo, ao exigir mudanças urgentes ao seu partido. Ou ao intimar que o MPLA se actualize, como alegada aspiração dos seus “verdadeiros militantes”.

Para ler o artigo completo no Jornal em PDF, faça já a sua assinatura, clicando em 'Assine já' no canto superior direito deste site.