QUE VENHA O DIABO E ESCOLHA

19 Feb. 2025 Editorial

Mesmo entre três males, nem sempre é possível fazerem-se escolhas verdadeiramente distinguíveis. A velha máxima de que, entre dois males, deve optar-se preferencialmente pelo de menor gravidade, não raras vezes se revela inaplicável. E a justificação é tão simples quanto prática. Nem sempre entre dois ou três, há um mal menor claramente identificável e poucos poderiam demonstrá-lo com tamanha brutalidade como o fez João Lourenço.

QUE VENHA O DIABO E ESCOLHA

Na entrevista à Jeune Afrique, amplamente divulgada na última semana, João Lourenço fez afirmações que, no mínimo, testam os limites do raciocínio. Algumas das quais, aliás, levam necessariamente à tal pergunta de um milhão de toneladas. Se o pior é pensar que o Presidente não sabe o que faz; se o mais grave  é cogitar que confunde as suas contradições com a prática irrepreensível da coerência, ou se o mais preocupante é ele ter estabilizado o país no precipício por negligência, por ressentimento, por ganância ou por abulia. Qualquer dos três males é excessivamente sério para uma escolha fácil.

João Lourenço quer, por exemplo, que o seu sucessor faça igual ou melhor do que ele. É evidente que a parte do “igual” pôs milhões de angolanos a viverem um pesadelo, ainda que acordados. Mais do que a nossa leitura, são os variados estudos de opinião credíveis que vão sendo conhecidos dia após dia. No que toca à rejeição da governação de João Lourenço, os números costumam ser invariavelmente arrasadores. Mais de 80 por cento dos angolanos, concluiu uma pesquisa recente da Afrobarometer, repudiam a governação de João Lourenço. As mesmas conclusões e os mesmos números de recusa aplicam-se ao que se chama de combate à corrupção. O Presidente até pode dar-se ao direito de ignorar esses números, mas há outros indicadores que lhe deviam mostrar de forma irrefutável que os angolanos hoje quererão tudo menos um novo João Lourenço. Mais de 11,6 milhões de angolanos, escreveu recentemente a World Poverty Clock, estão jogados na pobreza extrema. E quase metade destes foi por obra e graça das políticas da governação que iniciou em finais de 2017. Acresce-se a isso tudo o resto que se sabe de números. A irrecuperável perda do valor do kwanza e a consequente quebra do poder de compra. A elevadíssima inflação que tem colocado Angola consecutivamente no top 10 das economias mais inflacionadas do mundo. O descontrolo do desemprego que corrói quase um terço da população economicamente activa. O desconhecido aumento do subemprego e a destruição total da pequena ‘classe média’ que se vislumbrava na década passada.

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