TSHISEKEDI, A MULHER QUE CASOU COM OUTRO SEM AVISO
Por uma questão de rigor, comecemos por precisar os factos. O Governo angolano disse que abandonou a mediação do conflito no leste do Congo. É uma afirmação escandalosamente falsa. Angola não abandonou o que quer que seja. Pelo menos, não desta vez. Pelo contrário. Foi abandonada sem direito sequer a um aviso num rascunho de uma linha. Em língua portuguesa, abandonar e ser abandonado são colocações opostas. Uma coisa chega a ser quase a antítese da outra. E, quanto mais despeito se demonstra quando se é abandonado, maior é a humilhação a que se expõe o abandalhado. Há outro detalhe importante. Quem é abandonado sem aviso prévio normalmente é um sujeito muito mal comportado. É aquele que, por regra, ignora as advertências na relação. O que desdenha os sinais e despreza todas as chamadas de atenção.

Talvez até se perceba isto melhor com recurso a um paralelo sobre histórias de vivências do nosso povo.
Conta-se num bairro de Luanda que um certo indivíduo não ligava nenhuma às reclamações da mulher. Um dia após outro, não aceitava mudar, não cedia. Até que, numa tarde ensolarada, recebeu um telefonema de um amigo a informá-lo que a mulher estava a casar com outro. Incrédulo, respondeu que estava à espera da mulher em casa que tinha saído cedo para as compras. Que haveria um encontro em casa com a família de ambos e os padrinhos para discutirem e acertarem a relação. O amigo garantiu-lhe que estava enganado, enviando-lhe imagens e vídeos. Era uma sexta-feira e o homem não se resignava. Alertada, a mulher, já casada de papel passado com outro, tentou ajudar com uma mensagem curta: “estou casada com outro, já não regresso a casa”. O homem não reagiu. Preferiu enterrar a cabeça na areia, fingiu não ter visto a mensagem e insistiu com os filhos que a casa tinha de estar preparada para receber toda a gente. Que a mãe, a família e os padrinhos estavam a caminho e que as brigas em casa finalmente acabariam. A sexta-feira passou, sábado também, domingo idem. Na segunda-feira, já não era possível negar os factos. Carrancudo e irremediavelmente rebaixado, escreveu uma carta pública a informar que tinha abandonado a mulher. Uns riram-se dele, outros ficaram incrédulos e não faltou quem lhe tivesse tido pena. Quanto aos filhos, o sentimento era de ansiedade e medo. Chegavam a temer que o pai, conhecido pelo seu mau feitio, não descartasse descarregar toda a sua raiva sobre quem estivesse mais próximo.
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TSHISEKEDI, A MULHER QUE CASOU COM OUTRO SEM AVISO