MOTOTÁXI
PEDRO CASTRO, ESPECIALISTA EM AVIAÇÃO E AEROPORTOS

“A segurança aérea e a infra-estrutura aeroportuária não se compadecem com calendários políticos”

Com mais de 25 anos de experiência no sector da aviação, afirma que nunca viu um aeroporto ser inaugurado com “toda a pompa e circunstância” para logo depois ser fechado. Alerta que o novo aeroporto está a dar enormes prejuízos ao Estado, defende a criação de incentivos no sector para o surgimento de novas operadoras no mercado e propõe a interligação entre os aeroportos domésticos que actualmente "são elefantes brancos". Para Pedro Castro, é hora de fechar a TAAG que nenhum privado aceitaria comprar, nem a 1 dólar.

“A segurança aérea e a infra-estrutura aeroportuária  não se compadecem com calendários políticos”

Acha que o novo aeroporto está devidamente localizado e poderá ser uma placa giratória do continente?

Em primeiro lugar, um aeroporto nunca é placa giratória de nada. Quem o torna assim são as companhias aéreas. No caso, para ter uma placa giratória, é necessário que alguma companhia aérea utilize essa infra-estrutura nesse sentido e com essa orientação. O caso mais óbvio em África é o da Ethiopian em Addis Abeba ou o da Royal Air Maroc em Casablanca. Sem essas companhias aéreas, esses aeroportos não seriam placas giratórias de coisa nenhuma porque lhes faltaria a companhia aérea que os utilizasse nesse sentido. É muito importante distinguir infra-estrutura e do modelo de negócio do agente económico. São duas coisas totalmente diferentes. Quando olho para Angola, e sobretudo tendo em conta que é o sétimo maior país de África, concluo que esse grande território tem um problema de mobilidade. Não existe uma rede de autoestradas eficiente, não existe uma rede ferroviária eficiente e rápida. Portanto, qualquer distância em Angola, se não for feita por avião, é uma grande jornada. E daí a importância justamente do avião nas deslocações, quer dentro do país, quer até para as regiões e para os países à volta de Angola. Ora, nesse grande país, só duas cidades é que têm um aeroporto com capacidade para receber voos internacionais, Luanda e Benguela. 


O que significa? 

Significa que, comparativamente a outros países, África do Sul, até Namíbia, Moçambique, Zimbábue, Zâmbia, há aqui um certo atraso nessa capacidade de ligar o país ao mundo. Piora ainda mais as coisas que em Angola os voos domésticos e os voos internacionais há mais de um ano que não estão localizados no mesmo aeroporto. O que penaliza fortemente quem se desloque de e para as províncias de Angola. 


Em que sentido?

Já é penalizante a maior parte desses aeroportos não ter ligações internacionais, porque o aeroporto não tem essa capacidade e essa certificação. Para além dessa penalização muito grave, acresce a dificuldade em fazer esses voos de conexão via Luanda. Porque, quando se chega a Luanda, tem de se trocar de aeroporto para pegar o voo internacional. Acresce ainda que também, do ponto de vista doméstico, quem faz ou quem tem compromissos em Luanda e que venha das províncias, ou ao contrário, para um voo relativamente curto, tomando o exemplo de Benguela, em que o voo são cerca de 40 minutos, praticamente perde todo um dia inteiro. Porque o aeroporto de Luanda, onde se pega o avião para Benguela, é 40 quilómetros da cidade. Ainda por cima, o horário é um horário mais tarde e, portanto, tem de se enfrentar o trânsito para chegar ao Agostinho Neto. Quando se chega à província de Benguela, também não se chega em Benguela na cidade, é na Catumbela. Ou seja, tem de se deslocar para Benguela. Portanto, toda esta deslocação terrestre quase que torna ridícula a própria deslocação em si. Porque tem um voo de 40 minutos, mas tem uma deslocação terrestre infinitamente maior.

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