Administração do BPC afasta cenários de privatização
BANCA. Administração de André Lopes traça novo plano de recapitalização, abrindo portas para a saída de um terço dos colaboradores. E avisa que alienação parcial ou total do banco é “inviável” por razões técnicas.
O presidente do conselho de administração (PCA) do BPC manifesta-se contra as sugestões de alienação do banco por entender que seria tecnicamente um “negócio inviável” para o Estado.
António André Lopes justifica a posição com as “características” económicas e financeiras “actuais do banco”, sublinhando que, se as instituições públicas accionistas da entidade quisessem optar pela alienação, teriam de fazer um “trabalho de saneamento económico e financeiro para tornar o negócio atractivo”.
“Temos de ser realistas, se for possível, deve-se transformar definitivamente o BPC num banco viável, num banco que tenha uma estrutura de custos suportável pela sua capacidade de criação de valor. Conseguido isso, pode ser atractivo ou fácil de encontrar interessados”, indica o também economista e antigo vice-governador do BNA.
Além das justificações técnicas avançadas, António André Lopes defende que, apesar de o Estado ter como estratégia uma menor intervenção no sistema financeiro, o Governo deve ter pelo menos um “instrumento financeiro” comercial, “à semelhança do que ocorre noutros países”.
Entretanto, a posição de António André Lopes contraria as sugestões de diferentes especialistas que insistem na privatização parcial ou total do banco, face às constantes necessidades de recapitalização, melhoramento do provimento, bem como de fundos próprios da entidade, apesar das mudanças de conselho de administração.
Carlos Yoba, reitor da Universidade Lueji A’Nkonde, não se manifesta, por exemplo, a favor de uma alienação do banco, mas sugere uma “maior autonomia” da instituição, face ao Governo. Em declarações ao VALOR em Fevereiro, Yoba referiu que o “maior mal” do BPC são as “ingerências governamentais e partidárias”, que não permitem ao banco ir atrás dos devedores.
Já Joel Caetano, contabilista ligado ao sector petrolífero, não tem dúvidas de que a solução do BPC passa pela sua “privatização total e urgente”. O contabilista defende que o banco sofre do mesmo problema de boa parte das empresas públicas, em que os funcionários têm o “vício de deixa andar”, porque, no final do mês, têm os ordenados completos.
BANCO COM PREJUÍZO DE MAIS DE 400 MIL MILHÕES
O balanço consolidado do BPC de 2019 indica que a entidade teve um resultado líquido negativo de 404,7 mil milhões de kwanzas, tendo o produto bancário reduzido na ordem dos 116% em relação ao exercício anterior. António André Lopes justifica o resultado com a Avaliação da Qualidade dos Activos (AQA) realizada pelo BNA e com a adesão às normas internacionais de contabilidade, conhecidas como normas IFRS.
O PCA do BPC explica que, diferente do passado, a nova norma IFRS obriga os bancos a não registar em seus balanços, como proveito, os juros de créditos que estejam em incumprimento há mais de 90 dias, sublinhando que, por essa razão, a entidade viu reduzir os seus juros activos de 165,2 mil milhões para 77,2 mil milhões de kwanzas. Itens como o pagamento dos depósitos a prazo também concorreram para o resultado negativo. “Face às características e à situação de liquidez do banco, recorremos, com frequência, ao interbancário para obter liquidez, visando cumprir com as suas obrigações não só do ponto de vista das despesas operacionais, mas também para honrar as instruções que os clientes dão sobre as suas contas de depósito à ordem, dado que temos de ter liquidez para fazer face a essa responsabilidade”, nota António André Lopes.
GOVERNO DEVE INVESTIR MAIS KZ 1,6 BILIÕES kzs
Depois de já ter investido um total de 695,6 mil milhões de kwanzas através de títulos para a recapitalização do BPC, desde 2015, o Estado deve injectar mais 1,6 biliões de kwanzas para melhorar o rácio de solvabilidade, bem como os fundos próprios do banco, conforme recomendação da AQA do BNA.
António André Lopes considera “difícil” que o Estado consiga, no actual contexto, realizar a empreitada, daí ter decidido que o banco se socorresse do ‘Acordo de Basileia 3’, que dá prerrogativas às entidades para poderem, no momento inicial da adopção à norma de contabilidade internacional, fazerem um deferimento do reconhecimento dos resultados das imparidades.
MELHORIA DA PERFORMANCE DO BANCO
Diferente do que vinha sendo realizado desde 2015, as actuais medidas de recapitalização do banco serão mais alargadas. Para até 2023, o conselho de administração pretende encerrar 60 agências, entre as quais 40 postos de atendimento.
O banco prevê também despedir 1/3 dos trabalhadores de um universo de mais de 4,8 mil colaboradores, sendo que deverá apostar em agentes bancários e na banca digital, entre outras medidas.
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