Embaixador incentiva exportação de produtos alimentares
RELAÇÕES. Diplomata considera não haver razões para preocupações com o financiamento chinês aos países africanos. E garante que, apesar de ser autossuficiente, China tem mercado para receber produtos ‘made in Angola’.
O novo embaixador chinês em Angola, Gon Tao, defende a necessidade de diversificar os produtos angolanos exportados para a China, considerando a possibilidade de se incluir produtos alimentares na ‘cesta’ que é dominada pelo petróleo. “Embora a China seja auto-suficiente em alimentos, ainda sobra muita margem para as exportações africanas”, sublinhou o diplomata num encontro com a imprensa.
O discurso do diplomata é complementado por algumas acções de empresários chineses em Angola que vão diversificando as exportações, mas em quantidades consideradas ainda insignificantes, sobretudo para contornar a crise da falta de divisas. As cervejas Cuca e Luandina encontram-se no leque de produtos que têm sido vendidos para aquele país asiático.
A China pretende também alargar a sua intervenção em Angola, sobretudo na agricultura, mas o grande problema está na “falta de pessoas dedicadas”, porque “o investimento alargado só pode acontecer, havendo no terreno agricultores comprometidos com este importante sector”, reforçou Gon Tao. A segunda economia mundial, lembrou o embaixador, é também dos maiores importadores do planeta e, por isso, “está aberta a produtos de todo o mundo”.
Financiamentos “não tóxicos”
Gon Tao defende ainda que não há modelos de financiamento da China aos países africanos, sublinhando que “as relações com os países africanos e asiáticos se baseiam na cooperação sul-sul, em que são privilegiados o entendimento mútuo e a reciprocidade de vantagens”.
De acordo com o diplomata, “os financiamentos chineses não devem ser vistos como ‘tóxicos’”, além de que “não impõem condições de acesso”. Gon Tao entende que “não há nada a temer nessa parceria”, porque “ela se pauta por princípios muito saudáveis”.
O embaixador chinês foi ainda confrontado quanto à durabilidade das estradas, mas não concorda que, em Angola, as empresas chinesas estejam envolvidas em “obras descartáveis”, porque “o governo da China não permite”. À insistência do jornalista, o governante indicou que “tem de haver fundamentos”, pois “as estradas sofrem desgaste e periodicamente devem ser intervencionadas por brigadas especializadas de reparação”.
Gon Tao elogia as medidas do Governo, rotulando-as de “muito úteis”, para o relançamento da cooperação multilateral. Com um volume de negócios acima de 26 mil milhões de dólares, Angola é dos mais importantes parceiros chineses económicos em África. Ao dinheiro ‘fresco’ de ajuda, que permitiu já a reabilitação e construção de 2.800 quilómetros de linha férrea, 20 mil quilómetros de estradas, e mais de 100 mil residências, igual número de escolas e 50 hospitais, o país responde com pagamentos em petróleo. Uma lógica que deve ser invertida, como tem defendido o Presidente João Lourenço.
Gon Tao estima que nada ainda está perdido e que Angola ainda vai a tempo, porque “as dificuldades que hoje atravessa também a China as teve há 40 anos”, justificando que o mais importante é que se pense numa “aposta séria” na formação profissional. O diplomata reiterou as vantagens da chamada ‘Rota da Ceda’ e dos fundos abertos de que ainda podem beneficiar Angola e outros países do mundo. Preocupado com a guerra comercial com os EUA, está convencido de que a disputa não afecta o relacionamento da China com os parceiros.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...